SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após colocar Dom Pedro no divã e explorar a independência do Brasil sob outro ponto de vista, a série documental “B de Brasil” está de volta. Na segunda temporada, o escritor Eduardo Bueno se inspira nos 200 anos da primeira constituição brasileira e coloca o então imperador em situações curiosas.
A Folha de S.Paulo assistiu às gravações de uma cena em que Dom Pedro 1º faz uma videoconferência vestido da cintura para cima com o traje imperial, e para baixo com shorts de pijama com estampa de abacaxis e meias. A reunião era com a Assembleia Constituinte, que viria a ser dissolvida, para em seguida ser outorgada a Constituição, de acordo com a sua vontade e garantindo amplos poderes para si.
Neste mix de história e comédia, Eduardo Bueno, o Peninha, diz à Folha de S.Paulo que o que interessa mesmo na construção do Brasil é justamente essa primeira Constituição, de 1824. “Como o próprio nome diz, é o que constitui uma nação. É o esqueleto, o sistema circulatório, é o sistema nervoso de uma nação.”
Peninha diz que a série mostrará a confusão que foi para se criar a Constituição de 1884: “Uma gritaria, uma casa de louco, um jogo de meias verdades, de tal forma que levou Dom Pedro 1º a dissolver a assembleia”.
“Por um lado, quando você estuda essa dissolução, fica claro que foi um gesto autoritário. Por outro, quando você estuda mesmo e consulta historiadores, é confirmado que era uma confusão tão grande que perigava eles não conseguirem fazer a Constituição”, conta.
Bueno diz que, em “B de Brasil”, Dom Pedro, interpretado por Guilherme Gorsky, é retratado como o monarca bipolar que era e, apesar de português, aparecerá “bem brasileiro e bem carioca”. “Ele estará de novo dividido entre dois polos que se resumem no liberalismo versus absolutismo. Quem estuda a figura dele, além de perceber que é bipolar, percebe que trouxe mais coisas positivas do que negativas para o Brasil.”
O personagem interpretado por Bueno nesta temporada é José Bonifácio, o patriarca da Independência, que aparece na figura de um fantasma para assombrar e também para aconselhar Dom Pedro em suas decisões.
Como na primeira temporada, os episódios se dividem em cenas ficcionais, com figuras históricas interagindo com o apresentador; e explicações de Bueno dadas diretamente para a câmera, em estúdio, e também nos locais onde os eventos do passado aconteceram. Especialistas são entrevistados para dar mais detalhes a algumas passagens, conforme a história vai sendo contada.
Nessa mistura, Bueno faz questão de inserir elementos atuais na história de 200 anos. “É uma proposta óbvia para quem realmente entende que a história é múltipla e cíclica e, infelizmente, muitas vezes se repete. Então, quando a gente entrelaça o passado com o presente, e quase até com o futuro, fica claro que as coisas mudaram muito menos do que a gente acha que mudou.”
Ele ainda diz que fez questão de incluir as questões climáticas em um dos cinco episódios, no momento em que o Rio Grande do Sul, seu estado, sofre com as maiores enchentes já registradas. “Nunca houve uma enchente nessa dimensão. E ela pode ter sido a primeira, mas não vai ser a última. Então, isso nos deu ainda mais certeza de que a gente está no caminho certo em ter um episódio sobre o meio ambiente, que, é óbvio, está ligado ao desmatamento, às mudanças climáticas.”
No Rio de Janeiro, as gravações foram realizadas nos Arcos da Lapa, Largo da Carioca, Campo de Santana, Palácio Tiradentes e Cais do Valongo, entre outras locações. Algumas das locações em São Paulo incluem o Museu das Culturas Indígenas, Cemitério da Consolação e Rua Libero Badaró.
A série, uma coprodução com a Moonshot e dirigida por Andre Barmak, estreia em novembro no History.
LUÍSA MONTE / Folhapress