SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os carros alemães que circulam pelo Brasil são o lado mais visível de uma parceria comercial centenária, mas a relação bilateral, com presença forte no agronegócio e na indústria, tem procurado caminhos sustentáveis.
Na corrente de comércio, o saldo tem sido positivo para o país europeu. Em 2023, as importações de produtos alemães somaram US$ 13,1 bilhões (R$ 71,5 bilhões), ao passo que as exportações brasileiras para a Alemanha totalizaram US$ 7,9 bilhões (R$ 43 bilhões). Na pauta de itens importados, as primeiras posições da lista são ocupadas por insumos para defensivos agrícolas, e em seguida vêm os automóveis, confirmando a presença marcante do setor no Brasil.
Pioneira entre as montadoras alemãs no país, com sua chegada em março de 1953, a Volkswagen já faz o caminho inverso, ou seja, produz aqui veículos exportados para a matriz. O primeiro modelo foi o SUV compacto Nivus. Rebatizado como Taigo por lá, é considerado um exemplo da evolução tecnológica da subsidiária brasileira.
Esse avanço tem sido acompanhado por práticas mais sustentáveis. “A Volkswagen foi a primeira fabricante de veículos do Brasil a conquistar o certificado Lixo Zero [concedido pelo instituto de mesmo nome a empresas ou eventos que alcancem 90% ou mais de resíduos com descarte adequado], com suas cinco unidades certificadas”, afirma Alexander Seitz, presidente executivo da montadora na América do Sul.
Nos primórdios da Volks no país, os carros vinham em partes e eram montados em um galpão no bairro do Ipiranga (zona sul de São Paulo). De lá saíram 2.268 Sedans, depois popularizados com o nome Fusca, e 552 Kombis, de acordo com a montadora. No início, eram apenas 12 funcionários.
A produção nacional de automóveis ganhava corpo naqueles tempos, impulsionada pelos incentivos fiscais concedidos pelo Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística). O cenário motivou a vinda de outra empresa alemã ao Brasil, a fabricante de componentes ZF.
“Quando chegamos ao país, em 1958, as montadoras também estavam se instalando por aqui”, diz Carlos Delich, presidente da ZF América do Sul. A fabricante fornecia componentes como a caixa de transmissão do modelo DKW.
Hoje, a empresa busca soluções em economia circular para descarbonizar suas atividades. O reúso de embalagens de madeira geradas na fábrica de Sorocaba (SP) está entre as iniciativas. No primeiro semestre de 2024, essa prática evitou o consumo de 725 toneladas de madeira e de oito toneladas de papel, segundo Delich.
A Basf, empresa química alemã que chegou ao Brasil em 1911 para fazer anilina (corante para tecidos), foca desenvolver soluções que aumentem a eficiência -tanto produtiva quanto ambiental- de outras companhias.
“Para atender a nossos clientes com a menor pegada de carbono possível, não basta apenas pensarmos na redução das emissões de escopo 1 e 2 [diretas e indiretas], é preciso calcular todas essas informações para garantir transparência ao produto que está sendo vendido”, diz Caroline de Lima, gerente de sustentabilidade da Basf para a América do Sul.
Na via inversa do comércio bilateral, as exportações brasileiras para a Alemanha vêm crescendo cerca de 5% ao ano desde 2018, segundo dados da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Café e produtos relacionados à soja se destacam entre os mais enviados, mas a lista inclui cobre e bens manufaturados como motores a diesel para máquinas.
“A participação brasileira de cerca de 10% nos principais produtos exportados [café, farelo de soja e minérios de cobre] indica boa aceitação dos artigos nacionais no mercado alemão”, afirma Matthias Schmidt, gerente-geral adjunto da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo. “Há também relevantes oportunidades de exportação para a Alemanha em máquinas e equipamentos de transporte, como aviões e peças de motores.”
Alexander Seitz, da Volkswagen, define a interação entre Brasil e Alemanha, que neste ano celebram os 200 anos da chegada dos primeiros imigrantes germânicos, como um impulsionador econômico.
“Alemães e brasileiros somam uma combinação interessante e muito eficiente. Enquanto os alemães têm como destaque a alta capacidade de inovação e desenvolvimento de processos, os brasileiros demonstram grande flexibilidade.”
EDUARDO SODRÉ / Folhapress