SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um vídeo despretensioso após a eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 2022 fez Gustavo Machado encontrar um nicho. Ele teve a ideia de dublar a reação de Neymar no gol de empate da Croácia e ficou surpreso com a repercussão nas redes sociais.
O dublador decidiu investir no ramo da leitura labial e vem fazendo sucesso com vídeos de futebol. Ele conversou com a reportagem sobre como concilia a nova atuação com suas outras tarefas na profissão.
‘PAPEL’ DE NEYMAR E CONTEÚDO VIRAL
Gustavo definiu sua entrada no universo futebolístico como “sem querer”. Ator de formação, ele fez a leitura labial de Neymar depois do gol dos croatas e teve o “estalo” de fazer a gravação para mostrar o que o camisa 10 disse em campo aos companheiros.
Ele não esperava que descobriria um público sedento por bastidores dos boleiros. O conteúdo viralizou rapidamente pela internet e estourou a bolha. Segundo Gustavo, seu vídeo interpretando o craque no fatídico lance antes da eliminação do Brasil foi assistido mais de 60 milhões de vezes.
“Foi muito louco porque foi bem despretensioso. Ao contrário da minha entrada na dublagem profissional, no futebol foi muito sem querer. Não esperava que teria uma demanda, um público. Tem gente que quer assistir, comecei a fazer semanalmente”, afirma Gustavo.
O dublador apostou em novos vídeos e o conteúdo emplacou a ponto de se tornar recorrente. Seu perfil nas redes sociais, que antes era mais genérico, passou a ter mais enfoque no futebol brasileiro e mesmo de fora do país.
Ele pegou tanto gosto que agora vira madrugadas editando os vídeos. Gustavo segue exercendo suas funções como dublador durante o dia e passa as noites gravando as interações de futebol sem hora para acabar.
“Fiz esse do Neymar, depois a entrevista do Messi [após a vitória sobre a Holanda], mas fiquei um tempo sem fazer. Quando voltei, fiz da conversa do Gabigol com Marcelo [na Libertadores] e bombou. Tem gente que quer assistir, então comecei a fazer semanalmente”, diz.
LEITURA LABIAL TRAIÇOEIRA
Gustavo costuma levar entre quatro e cinco horas para fazer um vídeo. Alguns, mais curtos, ficam prontos mais rápido, mas os mais trabalhosos aumentam a média de tempo. Ele já chegou a passar um dia inteiro dublando um episódio de racismo que Vini Jr sofreu na Espanha.
O processo para montar o “quebra-cabeça” é demorado e leva em consideração diversos fatores. O dublador assiste aos jogos gravando a tela e vai marcando os lances interessantes que podem render. Depois, vai para o programa de edição e fica assistindo em looping, dando zoom nos jogadores. Se necessário, vai atrás de outros ângulos e faz pesquisas na internet para decifrar as falas antes de fazer a dublagem.
A leitura labial é um processo importante, mas traiçoeiro. Ele aprendeu a técnica durante a formação como dublador, mas dedica atenção especial para não cair das armadilhas dos movimentos semelhantes das bocas. “Tenho esse olhar treinado, consigo identificar, mas a leitura labial pode ser muito traiçoeira”, explicou.
Ele faz entretenimento, mas mantém compromisso de só publicar o que tem convicção. Gustavo destacou que não é jornalista, e sim um criador de conteúdo que adaptou sua função, o que não significa que ele não precisa ter responsabilidade.
“Quando não consigo desvendar [as falas], não faço. Não tento botar palavras na boca do jogador, prefiro não fazer, até para não me manchar. Tenho compromisso em ser 100% verdadeiro. Posso errar, mas não invento”, afirma.
ESPORTE E CARREIRA
O público lota suas caixas de mensagens com pedidos. Flamenguista, ele tenta fazer vídeos do máximo possível de clubes para não ser clubista, mas já ressaltou nas redes sociais que não consegue dublar todos os jogos.
O sucesso com os vídeos de futebol rendeu um convite do Prime Video. O streaming da Amazon possui direitos de transmissão da Copa do Brasil e facilitou a ele o acesso às gravações das partidas. Do outro lado, Gustavo agregou com seu conteúdo.
Gustavo pensa em expandir para outros esportes e também almeja novas parcerias. “Objetivo é continuar. Quero muito fazer Champions, Eliminatórias, Copa do Mundo e outros esportes”, afirmou.
Apesar da ascensão no meio esportivo, seu sonho de criança ainda fala mais alto para o futuro. Fã de desenhos animados, Gustavo já sabia que queria ser dublador desde os nove anos, e tem como meta ser a voz de um personagem marcante.
“Maior sonho é me ver no cinema. Um filme blockbuster, pegar um personagem desses marcantes, da Disney, herói da Marvel… Objetivo profissional é mais desses que foram o que me fez seguir nessa carreira. O futebol caiu de paraquedas. Amo o que faço, mas meu objetivo na dublagem profissional vem antes, de criança, que quero realizar”, diz Gustavo.
ANDRÉ MARTINS / Folhapress