SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma dupla de música eletrônica de atitude punk tem incendiado o underground de São Paulo. O Meta Golova, com seus shows explosivos centrados em torno das performances de Lena Kilina, traz energia e caos para os inferninhos onde se apresenta.
Enquanto ela canta, pula e interage com o público, usando seu microfone como uma arma prestes a disparar, seu parceiro de banda, Carlos Issa, manda para os alto-falantes um bate-estaca afiado e muito dançante.
O encontro entre Kilina, russa de origem siberiana, e Issa, artista plástico e músico paulistano por trás do projeto Objeto Amarelo, resultou numa banda cool por definição.
A sonoridade do Meta Golova, gerada exclusivamente a partir de um sintetizador Roland, lembra o pós-punk dos anos 1980 e as paisagens industriais desoladoras da Berlim da Guerra Fria.
E, com a maior parte das letras cantadas em russo, idioma materno da vocalista, a dupla se insere numa linhagem de bandas como a bielorussa Molchat Doma e a russa Ploho ambas já tocaram em São Paulo.
Formado em 2022, o Meta Golova acaba de lançar seu segundo disco, “Seasonal Hallucination”, em fita cassete pelo selo Coisas que Matam e por streaming no Bandcamp. O trabalho sucede o álbum “Время Увечий” tempo mutilação, em português do ano passado.
Kilina, que mudou para o Brasil há alguns anos para cursar doutorado em Campinas, conta que a guerra da Ucrânia mudou a sua vida.
“Não foi só o choque, mas o sentimento interminável de catástrofe. Eu só conseguia pensar nessa tragédia. Para tentar não ficar completamente deprimida, escrevi textos, poesia e música sobre a guerra, a decadência da humanidade e o triste país Rússia”, ela diz, numa conversa meio em português, meio em inglês.
O começo do conflito, em fevereiro de 2022, coincidiu com o encontro de Kilina e Issa, que deu origem ao Meta Golova em português, o nome do grupo quer dizer cabeça metafísica. A alcunha foi inspirada numa série de desenhos e gravuras do artista russo-americano Mihail Chemiakin, nas quais ele representa cabeças em diversos formatos, alguns mais abstratos.
A ligação com as artes plásticas não está só no nome da banda. Ela também se dá no aspecto visual das apresentações da dupla, aspecto tão importante quanto o som a vocalista está sempre com o rosto carregado de maquiagem e veste um look específico para cada show.
“Eu adoro teatro e a ideia da performance para interagir, perturbar, acordar os outros. Por isso, o visual ajuda a criar uma atmosfera, a conectar com o público”, ela conta.
Como algumas das letras são em russo e outras em inglês, Kilina explica brevemente nos shows os temas de cada uma antes de cantar. Elas vão do “nonsense”, como no caso de uma em que ela narra a vez que caiu numa escada em Guangzhou, na China, a versos de protesto contra a guerra da Ucrânia. Há também músicas em espanhol e português.
Segundo a artista, a rebeldia, a quebra de estereótipos e de preconceitos, a mensagem pacifista e a decadência política e social são conceitos chave para a banda. Como uma nômade profissional, por ter vivido em Xangai e agora em São Paulo, ela considera triste que o mundo julgue as pessoas pelo seu passaporte, cor ou raça.
“Nós vivemos na era pós-internet e não parece certo que as guerras horríveis, a ideia de nacionalismo e o patriotismo insalubre virem realidade novamente”, ela afirma. “O mundo perfeito, se existe, é sem fronteiras.”
SEASONAL HALLUCINATION
– Preço R$ 56 (fita cassete); R$ 45 (álbum digital)
– Autoria Meta Golova
– Gravadora Coisas que Matam
– Link: https://coisasquematam.bandcamp.com/album/seasonal-hallucination
JOÃO PERASSOLO / Folhapress