SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os partidos que lançarão ou apoiarão candidatos à Prefeitura de São Paulo traçaram estratégias distintas ao marcar as datas de suas convenções, os eventos em que filiados e dirigentes decidem qual caminho a legenda tomará no pleito e também confirmam as candidaturas a vereador.
Os encontros devem ser realizados de 20 de julho a 5 de agosto, segundo as regras da Justiça Eleitoral. Tudo que os participantes, também chamados de convencionais, decidem precisa constar em ata.
Enquanto partidos como o PSOL e o PT, juntos na pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), decidiram fazer suas convenções logo no primeiro dia do prazo e oficializar a chapa com Marta Suplicy (PT), outros estão às voltas com dúvidas e admitem postergar a data para tentar fechar composições.
No caso do pré-candidato apoiado por Lula (PT), a ideia é contar com a presença do presidente na ocasião e ter o trunfo de ser o primeiro concorrente a ser formalizado. A candidatura deverá ser registrada em cartório até 15 de agosto, de acordo com o calendário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O MDB de Ricardo Nunes aposta em deixar a convenção para perto do limite, em 3 de agosto, o que pode favorecer adesões de última hora à coligação. O partido tem costume de fazer o evento na reta final -nas últimas duas eleições para a prefeitura, ele ocorreu entre cinco e sete dias antes da data máxima.
A margem de tempo também permite ajustes. Especula-se, por exemplo, que o prefeito ainda possa trocar de vice caso pesquisas qualitativas mostrem que o ex-Rota Ricardo Mello Araújo (PL), indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), esteja prejudicando o desempenho de Nunes com os eleitores. A pré-campanha do emedebista, porém, trata a questão como um assunto superado.
Entre legendas que são cotadas para a coligação do emedebista, o cenário varia. O PL marcou a sua convenção para 22 de julho, enquanto o PP também trabalha com a data de 3 de agosto e o Republicanos diz oficialmente que não decidiu o dia, mas fará a sua em julho.
A União Brasil, que até o momento permanece na aliança de Nunes, fará a sua no dia 20 e deve contar com alguma dose de emoção, já que o deputado federal Kim Kataguiri, que se apresenta como pré-candidato, cogita colocar sua candidatura para avaliação dos correligionários, mesmo com a chance de derrota.
Kim Kataguiri tem dito que só vai retirar seu nome da disputa interna se ficar nítido que a chance de vitória é nula. O cardeal da sigla na capital paulista, vereador Milton Leite, alinhavou o apoio à reeleição do atual prefeito, mas sinaliza que o deputado tem direito a se movimentar e que a palavra final será do coletivo.
A maior incógnita até aqui é a convenção do PSDB, que não tem nem sequer uma data prevista, segundo tucanos de diferentes alas consultados pela reportagem. O partido lançou José Luiz Datena, conhecido por flertar com candidaturas e sempre recuar. O apresentador de TV diz que desta vez irá “até o fim”.
Ao menos três caminhos estão colocados: a candidatura própria, caso Datena se mantenha firme nos planos -ele entrou de férias na Band e disse que vai tirar licença para fazer campanha-; o apoio a Nunes, já responsável por cindir a sigla; e a coligação com Tabata Amaral (PSB), também controversa.
Com a possibilidade de atrair o PSDB, algo almejado por Tabata há meses, o PSB tem feito mistério sobre sua convenção. Oficialmente, a resposta da pré-campanha da deputada federal é que não há data prevista, mas membros do partido foram avisados que será “provavelmente” no dia 27.
O lançamento de Datena foi uma espécie de efeito colateral de uma costura feita por Tabata. Interessada em ter o apresentador como vice, ela o convidou para entrar no PSB, partido ao qual ele se filiou em dezembro. Quatro meses depois, concordou com a migração dele para o PSDB, sempre no intuito de colocá-lo como companheiro de chapa.
O tucanato, contudo, se entusiasmou com pesquisas internas mostrando viabilidade de uma candidatura de Datena a prefeito e viu uma oportunidade de usá-lo na estratégia de ressuscitar o partido, que neste ano perdeu toda a sua bancada de oito vereadores, num sinal inconteste de fragilidade.
Todos os desertores pregavam a aliança com Nunes, argumentando ser o caminho natural, já que ele foi eleito na coligação do PSDB em 2020 como vice de Bruno Covas, que morreu em 2021.
Tabata mantém a esperança de que Datena ou outro nome seja indicado pelo PSDB para sua vice, mas a informação de bastidores é que a ideia de se juntar à candidatura dela está longe de empolgar a maioria.
Fernando Alfredo, ex-presidente municipal do partido e apoiador de Nunes, diz que pretende colocar em votação a proposta de aliança com o emedebista. Parte dos filiados já embarcou na pré-campanha do prefeito, movimento também explicado pelo interesse em manter cargos na máquina.
Se ficar sem o PSDB, Tabata tem grande probabilidade de concorrer com uma chapa puro-sangue, ou seja, com um vice do PSB. O nome terá que ser aprovado pelos convencionais, e não há opção óbvia sendo ventilada dentro da sigla.
Políticos do entorno da deputada negam que a indefinição sobre data seja uma estratégia, mas cálculos otimistas projetam um quadro em que o PSDB avance no plano de se juntar a ela e ter protagonismo na candidatura, em vez de ser mais um no amplo arco de alianças de Nunes.
O PRTB do influenciador Pablo Marçal, que ameaça avançar sobre o voto da direita e, por isso, é visto com preocupação por aliados do prefeito, marcou a convenção para o último dia permitido.
O empresário intensificou conversas para tentar aglutinar outros partidos que possam acrescentar tempo de televisão e recursos do fundo eleitoral à campanha. Como mostrou a Folha, uma ala da União Brasil ainda resiste a apoiar Nunes e considera respaldar a candidatura do ex-coach.
Pesquisa Quaest divulgada na semana passada mostrou empate técnico no primeiro lugar, com Nunes (22%), Boulos (21%) e Datena (17%) embolados. Na sequência, também empatados, apareceram Marçal (10%), Tabata (6%), Marina Helena (Novo, com 4%), e Kim Kataguiri (3%).
QUAL É A SITUAÇÃO NOS PRINCIPAIS PARTIDOS
PT e PSOL: Preveem fazer a convenção para sacramentar a escolha de Boulos no primeiro dia do prazo, 20 de julho, possivelmente em evento conjunto das siglas e com a presença de Lula. A expectativa é ser a primeira das principais candidaturas a ser oficializada pelas legendas
MDB: A sigla do pré-candidato à reeleição marcou a convenção para 3 de agosto, perto da data-limite, a exemplo do que ocorreu nos últimos anos, com margem para adesões de última hora ao projeto de Nunes. A projeção do prefeito é consolidar uma aliança com 12 partidos
PSDB: Sem data prevista para a convenção, tem hoje como postulante o apresentador Datena, célebre pelo histórico de desistências de candidaturas. A sigla está rachada, com uma ala que defende colocar em votação o apoio a Nunes e outra que prega aliança com Tabata
PSB: Oficialmente diz não ter marcado o encontro para oficializar seus rumos no pleito, mas trabalha internamente com a previsão de 27 de julho. Há a expectativa de formar aliança, preferencialmente com o PSDB, para evitar que ela concorra em chapa puro-sangue
JOELMIR TAVARES, ANA LUIZA ALBUQUERQUE E ARTUR RODRIGUES / Folhapress