SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sob a sombra de uma folhagem próxima a uma das entradas do estádio do Palmeiras, um vendedor de camisetas recebe os clientes com um sorriso no rosto e uma bandana de Paul McCartney na cabeça. Na manhã desta quarta-feira, dia da primeira das duas apresentações do ex-Beatle em São Paulo, Reginaldo Menezes de Sousa era um dos poucos ambulantes a ofertarem vestuário e lenço com a temática do show.
Faltando cerca de oito horas para o astro pop subir ao palco, as vendas ainda estavam devagar para Sousa, o que não parece uma surpresa, dado que as filas estavam tranquilas a quatro horas da abertura dos portões, o que aconteceu às 16h.
Mas, até o fim do dia, ele disse ter a expectativa de comercializar entre 80 e 100 camisetas, com estampas tanto de Paul McCartney quanto dos Beatles, a um custo que varia entre R$ 60 e R$ 80.
“O pessoal é fiel”, ele afirma, sobre os fãs do cantor, que volta ao Brasil novamente depois de uma turnê com estádios cheios no final do ano passado. “O homem canta muito, 82 anos, duas horas de show. Não é à toa que ele é o ‘saint Paul’.”
Assim como outra vendedora com quem a reportagem conversou nos arredores do Allianz Parque, Sousa diz que este é o seu trabalho, de onde vem a renda que lhe permite viver. Aos 57 anos, ele conta que desde os 28 viaja o Brasil vendendo camisetas, bonés e bandeiras em shows de grandes nomes do rock e do pop, como Metallica, Guns N’ Roses, Iron Maiden e Madonna. Com o dinheiro, comprou um pequeno apartamento no Pico do Jaraguá, em São Paulo.
Próxima aos portões da entrada vip, na avenida Francisco Matarazzo, o termômetro marca quase 30°C. Ali, sob o sol, Iara Celia, de 33 anos, oferecia por R$ 40 camisetas da turnê do ano passado de Paul McCartney –as dos shows deste ano chegariam só horas mais tarde, por R$ 70. Para comparação, na turnê do ano passado as camisetas oficiais saíam por mais que o dobro na loja de mercadorias dentro do estádio.
“É uma grana boa, praticamente a gente está vivendo só disso”, ela afirma, acrescentando que atua como vendedora na rua há quase três anos e é mais acostumada a comercializar camisas de times de futebol em dia de jogo, nos estádios de São Paulo e de outras cidades, como Santos. Celia conta ainda que depois do fim do show há bastante movimento, porque fãs compram camisetas para seus familiares na saída.
Além de camisetas, era possível encontrar mais produtos temáticos, como chaveiros, correntes, leques e bandanas. Uma delas, vermelha, com uma estampa dos Beatles quando jovens cercados por ornamentos, saía a R$ 20 com o vendedor Antonio Alves da Silva, que compra sua mercadoria na rua 25 de Março, tradicional reduto de comércio popular no centro de São Paulo.
Shows de Paul McCartney no Brasil só perdem em número para Reino Unido e EUA Ele estava próximo a um acampamento de fãs, mas em três horas de trabalho ainda não tinha faturado nada, e disse temer um rombo igual ao que teve no show de Bruno Mars, no início de outubro –“foi péssimo, prejuízo total”.
Mas as perdas fazem parte do negócio, conta Silva, acrescentando que atualmente está mais difícil se manter só como ambulante nas portas dos eventos porque vendedores vêm de vários estados do país para disputar o dinheiro do público na entrada.
Quando pensa no passado, contudo, ele se diz orgulhoso. Lembra de uma vez em que tirou R$ 9 mil vendendo chapéus, cintos, fivelas, calças e adesivos durante uma Festa do Peão de Barretos, dinheiro que lhe possibilitou comprar um terreno, que depois se valorizou. “Tenho que pensar no que eu já ganhei.”
JOÃO PERASSOLO / Folhapress