SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Assim que passou a ser cogitado para presidir o IBGE (Instituto Brasileiro de Economia e Estatística), Marcio Pochmann, 61, virou alvo de críticas de uma ala de colegas que considera que o economista ligado ao PT teria um perfil intervencionista demais para comandar o instituto.
Confirmado para o cargo nesta quarta-feira (26), Pochmann nasceu na cidade gaúcha de Venâncio Aires (a 129 km de Porto Alegre) e se formou pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em 1984 e tornou-se professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 1989.
Nos governos petistas, dirigiu a Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade durante governo de Marta Suplicy durante seu mandato como prefeita em São Paulo (2001-2004).
Mais tarde, Pochmann também ocuparia a presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2007 a 2012, gestão que teve registros de polêmicas, com acusações de aparelhamento político à época.
Em junho de 2012, ele deixou a presidência do instituto para concorrer pela primeira vez à Prefeitura de Campinas (SP), mas acabou derrotado nas urnas. Nas eleições daquele ano, chegou ao segundo turno, mas foi superado por Jonas Donizette (PSB).
Em 2016, o economista concorreu novamente ao cargo de prefeito da cidade, mas o forte sentimento antipetista no fim do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff não ajudaria o economista, que terminou a disputa em terceiro lugar. Dois anos mais tarde, também se candidataria, sem sucesso, ao cargo de Deputado Federal por São Paulo.
O pesquisador também foi presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores, de 2012 a 2020, e foi coordenador do programa econômico da campanha do PT à Presidência em 2018. Na ocasião, disse que o partido tinha a missão de recuperar a indústria do país em quatro anos.
Ao longo de sua carreira acadêmica, acabou dedicado à pesquisa nas áreas de Economia Social e do Trabalho, desenvolvimento, políticas públicas e relações de trabalho.
É autor de diversos livros sobre temas econômicos, como emprego, globalização, desigualdade e desenvolvimento, inclusive já tendo recebido o Prêmio Jabuti. Em uma obra mais recente, “O Neocolonialismo à Espreita”, lançada em 2021, ele avalia um possível esgotamento do modelo urbano e industrial das décadas de 1930 a 1980 e a transição para uma sociedade baseada em serviços e com menos organização coletiva.
ESCOLHA PARA O IBGE FOI ALVO DE CRÍTICAS DE OUTROS ECONOMISTAS
Anunciado nesta quarta-feira para comandar o IBGE, ele vai assumir a vaga de Cimar Azeredo, que comandava interinamente o órgão após a saída de Eduardo Rios Neto e que conduziu em junho a entrega dos primeiros resultados do Censo 2022.
Um grupo de economistas que criticavam a escolha de Pochmann chegou a recuperar postagens dele no Twitter com críticas à criação do sistema de pagamentos eletrônicos Pix, por exemplo.
O economista, por outro lado, foi defendido nos últimos dias por lideranças do PT e economistas ligados ao partido. Nas redes sociais, a presidente da legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse nesta semana que a indicação para o IBGE era “muito bem-vinda”.
“Intelectual histórico, Pochmann tem um olhar aguçado para as pesquisas na área social, é um democrata que pensa um Brasil mais justo”, disse Gleisi.
O IBGE é visto como um órgão de Estado crucial para a definição de políticas públicas e a avaliação do desempenho socieconômico do Brasil.
A indicação de Pochmann ocorre em meio à divulgação dos primeiros resultados do Censo Demográfico, a principal pesquisa do IBGE.
A contagem da população, referente a 2022, foi marcada por uma série de atrasos em razão da pandemia e da restrição de verba no governo Jair Bolsonaro (PL).
Azeredo é reconhecido pela trajetória dentro do instituto. Antes de trabalhar como presidente interino, ele atuava como diretor de pesquisas. Havia expectativa de que o técnico pudesse permanecer na presidência do órgão.
Como a Folha mostrou em fevereiro, o instituto vem sendo desafiado pela perda de servidores fixos nos últimos anos.
Em dezembro de 2022, o IBGE tinha 4.009 funcionários efetivos, número 42,5% menor do que o registrado em igual mês de 2010 (6.971), segundo dados da Assibge, que representa os trabalhadores do órgão de pesquisas.
Na visão de quem acompanha o instituto, a perda de servidores foi um dos fatores que dificultaram o andamento do Censo. Para tentar atenuar esse gargalo, o governo Lula incluiu o IBGE na lista de órgãos com concursos para vagas efetivas e temporárias.
DOUGLAS GAVRAS E LEONARDO VIECELI / Folhapress