RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou nesta terça-feira (25) a venda do edifício A Noite, na praça Mauá, região central, para uma empresa paulista que transformará o prédio em um residencial.
A incorporadora paulista QOPP venceu a concorrência de outras três candidatas e pagará R$ 36 milhões pelo edifício Joseph Gire, nome oficial do empreendimento. A promessa é construir 447 apartamentos. As obras devem começar em setembro de 2024 e têm previsão de conclusão em até 18 meses.
A Prefeitura do Rio comprou o edifício em março por R$ 28,9 milhões com a ideia de revendê-lo. O acordo foi firmado com a União, que havia incorporado o prédio a seu patrimônio em 1940.
A negociação foi feita pela CCPar (Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos), empresa pública responsável pelas concessões da cidade, que elaborou o projeto com a gestora imobiliária Konek.
Com 102 metros de altura e quase 94 anos de história, o Edifício A Noite foi inaugurado em 1929 como o primeiro arranha-céu da América Latina, com 22 andares. A construção é considerada um marco arquitetônico no uso de concreto armado.
O edifício está vazio desde 2012, quando a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) desocupou os últimos quatro pisos. Em 2013, o prédio foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
“A iniciativa do governo federal de vender para a prefeitura e a possibilidade de negociarmos com o setor privado vai fazer daqui um empreendimento residencial que preserva a história do lugar. Queremos uma nova região central, com gente morando próxima ao local de trabalho e menos deslocamento pela cidade”, afirmou o prefeito Eduardo Paes (PSD) nesta terça-feira (25), no evento de anúncio da venda.
O edifício foi projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire (1876-1933), responsável por parte da paisagem urbana do Rio de Janeiro: também é dele o desenho do hotel Copacabana Palace e o antigo hotel Glória.
O projeto de Gire para A Noite foi feito em parceria com Elisário Bahiana, arquiteto com obras marcantes em São Paulo, como o viaduto do Chá, o edifício João Brícola e o Jockey Clube.
O edifício Joseph Gire foi erguido como sede do jornal A Noite, de Irineu Marinho. A partir de 1936, passou a abrigar também a Rádio Nacional. O prédio sediou ainda ministérios, consulados e o Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
Como sede da rádio, recebeu multidões de fãs dos principais nomes da canção brasileira nas décadas de 1940 e 1950. Dolores Duran, Francisco Alves e as rivais populares Emilinha Borba e Marlene carregavam admiradores para dentro do prédio e para o entorno. No 21° andar ficava o auditório da rádio, com capacidade para 486 pessoas, onde os artistas se apresentavam.
“O edifício foi o símbolo da entrada do país na modernidade”, diz o arquiteto André Alvarenga, um dos responsáveis pelo redesenho, ao lado de Duda Porto.
A nova fase do edifício terá 424 lofts de 30 m² a 48 m². Os últimos andares, usados pela Rádio Nacional, têm pé direito mais altos. Ali serão construídos 23 estúdios duplos.
No terraço do prédio, com vista para a baía de Guanabara, a ponte Rio-Niterói e até a igreja da Penha, o plano é construir um restaurante aberto ao público e um memorial com fotos de artistas e comunicadores que marcaram a história da Rádio Nacional.
“Seria injusto a gente não permitir a vista a todos os cariocas. Isso traz uma vida, um fluxo permanente. Vamos dar luz ao A Noite e ao entorno. Vamos respeitar todas as características do edifício. Estamos mantendo toda a característica da fachada, sem mudar nada”, afirma o arquiteto Duda Porto.
No térreo estão previstas três lojas de 100 m² a 400 m². Dentro do prédio, moradores terão spa, academia, cinema e salão de jogos.
O prédio está incorporado ao projeto Reviver Centro, que pretende revitalizar a região central com novas habitações e retrofits. A lei do Reviver Centro prevê incentivos para construtoras: quem investir no centro do Rio poderá ganhar terrenos em outras regiões da cidade mais atrativas ao mercado, como a zona sul.
Nesta negociação, metade do potencial construtivo estimulado pelo edifício voltará à prefeitura.
“Além da venda do prédio por R$ 36 milhões, teremos 50% do potencial construtivo em outras áreas receptoras”, afirma Gustavo Guerrante, presidente da CCPAR.
YURI EIRAS / Folhapress