SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fonoaudióloga Marina Maciel Pepe tinha 35 anos quando ficou grávida de Paulo Eduardo. Mesma idade com que a professora Sueli Manzonlino Bezerra engravidou de Larissa. Já a assistente social Perla Cristina Carmo só teve a filha Sara aos 38 anos.
Cada vez mais mulheres adiam a chegada do primeiro filho em favor do desenvolvimento da carreira. Ou, em alguns casos, porque não encontraram o companheiro que consideram ideal.
De qualquer forma, a gravidez “tardia” em comparação às gerações anteriores coloca um limite no número de filhos por família: só há tempo hábil para uma gestação.
Os riscos envolvidos em uma gravidez após os 40, a falta de uma rede de apoio e os altos custos de se criar uma criança não animam as mulheres a seguirem tentando um irmãozinho para o primeiro filho, que se torna o único.
No Brasil, a taxa bruta de natalidade número de bebês nascidos vivos a cada mil habitantes caiu de 37,7 em 1970 para 13,5 em 2022.
Nesse intervalo, o maior uso de contraceptivos contribuiu para diminuir as visitas da cegonha. O que, na opinião da doutora em teoria econômica Solange Ledi Gonçalves, professora do Departamento de Economia da USP (Universidade de São Paulo), está longe de ser algo ruim.
“É um sinal de maior participação da mulher no mercado de trabalho”, afirma Solange, destacando que hoje cerca de 52% do total de mulheres em idade ativa trabalha. “A diminuição de taxa de natalidade é um sintoma do desenvolvimento, assim como ocorreu em outros países”, diz.
O lado ruim, afirma, é o que o Brasil perdeu o bônus demográfico: o aumento da população idosa que depende de recursos da Previdência não é proporcional ao número dos adultos e jovens que contribuem com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
A especialista afirma, contudo, que se não fosse o machismo estrutural na sociedade, a escolha pelo número de filhos poderia ser diferente.
“Há uma divisão desigual de tarefas no lar, cabendo à mulher a maior parte das atividades. Depois da maternidade, o retorno ao mercado de trabalho é mais difícil, fazendo com que muitas optem por empregos mais flexíveis ou informais, que pagam menos. Ao mesmo tempo, faltam políticas públicas, como vagas suficientes em creches, escolas em tempo integral e licença parental estendida para os companheiros”, afirma.
A volta ao mercado de trabalho costuma ser menos complexa para quem tem um filho, afirma a especialista. É o que também pensa a analista de trade marketing Beatriz Gusmão Pinheiro, 28. Ela é mãe de Lucca, que acaba de completar um ano.
“Eu e meu marido decidimos que só vamos ter outro filho se nossa condição financeira melhorar demais, com uma renda três ou quatro vezes maior”, diz ela. Beatriz é filha única, mas vem de uma família numerosa: tanto o pai quanto a mãe tiveram dez irmãos cada um.
“Temos sonhos, como viajar, comprar uma casa maior, trocar de carro. Mas, quando você tem filho, a prioridade é a criança. A gente tem medo de ter outro bebê e não dar o mesmo conforto que o Lucca terá”, diz ela.
Marina Maciel Pepe, 45, também é filha única e diz que nunca se incomodou com isso. Se fosse mais jovem e pudesse contar com babás, porém, até gostaria de ter outros filhos.
“Criar um filho é um investimento nos dias de hoje. Quando era criança, simplesmente ia para a rua brincar de queimada e vôlei. Hoje temos de pagar natação e futebol para o nosso filho. É uma realidade completamente diferente, até por causa da segurança”, diz ela.
Perla Cristina Carmo, 46, decidiu com o marido que eles iriam buscar estabilidade profissional e financeira antes de terem um filho. Ela se casou aos 31, e Sara nasceu sete anos depois.
“Quando ela era recém-nascida, já sabia que não teria outro filho”, diz Perla. “Sempre me preocupei em garantir um tempo de qualidade para ela. Sabia que não iria conciliar trabalho e maternidade com mais de uma criança.”
No caso de Perla, o marido Robson Carmo queria mais filhos. A transferência da família do Rio de Janeiro para São Paulo, por motivos profissionais, onde ficaram sem uma rede de apoio, junto com a questão financeira, pesou contra a ideia da segunda criança.
“Pagar uma escola de qualidade é muito caro. Os custos, em geral, são altos: uma roupa tamanho 12 de criança já custa o mesmo que uma roupa de adulto, com a diferença de que elas ‘perdem’ muito mais rápido”, diz Perla.
Não fazer economia com a filha Larissa, hoje com 16 anos, foi uma escolha deliberada de Sueli Manzonlino Bezerra, 53.
A jovem, que sempre estudou em colégio particular, soma 12 festas em buffets ao longo da vida. A última foi aos 15 anos, quando a família desembolsou cerca de R$ 40 mil pela comemoração.
“Eu e meu marido damos a ela tudo o que ela quer: roupas, tênis caros, viagem para a Argentina, até um iPhone 13”, diz Sueli, que desejava mais um filho, mas por problemas de saúde descartou uma segunda gravidez. Não se importa em mimar a filha única. “Ela merece.”
DANIELE MADUREIRA / Folhapress