‘Efeito Campos Neto’ deixa discussão sobre indicação para o BC em segundo plano no mercado

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O “efeito Roberto Campos Neto”, que adotou nesta quarta-feira (20) um tom considerado menos duro para o cenário de riscos da inflação, repercutiu no mercado financeiro e acabou colocando em segundo plano a expectativa em torno da antecipação da indicação do seu sucessor na presidência do Banco Central.

Falas do presidente do BC em evento organizado pelo BTG e em entrevista ao jornal O Globo contribuíram com a alta do dólar e aumento dos juros futuros. Na segunda (19), o dólar tinha caído para R$ 5,40 e os juros futuros haviam recuado com mais uma declaração dura do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, sinalizando alta de juros.

De um dia para o outro, os ativos variaram em direções opostas, o que reforçou as desconfianças de que Galípolo e Campos Neto não têm a mesma leitura em relação ao balanço de riscos da inflação.

Ao jornal O Globo, o presidente do BC adotou um tom otimista ao dizer que está vendo a economia brasileira com bons olhos e que a situação internacional melhorou muito nas últimas semanas.

Ele também alertou que o mercado está falando em alta da Selic, mas os economistas não. Campos Neto reiterou que há dúvida entre os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre se os riscos de alta e de queda estão simétricos no balanço da inflação.

No evento do BTG, Campos Neto disse que prevalece o cenário de uma desaceleração organizada nos Estados Unidos e destacou que o BC aguarda dados da economia para tomar a decisão sobre juros.

O tom menos duro contrasta com as sucessivas falas de Galípolo, que, na condição de favorito para suceder Campos Neto, tem coordenado as expectativas de mercado nas últimas semanas e levado a um movimento de recuo do dólar.

Galípolo reforçou a posição de que alta de juros está na mesa e a sinalização de que todos os diretores nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estariam dispostos a seguir o mesmo caminho se for necessário para a convergência da inflação à meta de inflação.

O diretor do BC já disse que é do grupo dos integrantes do Copom que enxergam o balanço de riscos assimétrico, com mais pontos de alta do que de queda. Já Campos Neto, na semana passada, não quis responder em qual grupo está.

Essa assimetria do balanço de risco foi incluída na ata da última reunião do Copom e lida pelo mercado como um gatilho para a alta de juros. No documento, foram descritos dois riscos de queda para três riscos de alta, com a ressalva de que “vários” membros enfatizaram a assimetria do balanço de riscos. Ou seja, nem todos os diretores teriam a avaliação de que há uma assimetria, apontando para divergências no Copom para uma eventual alta da taxa Selic.

Um integrante do governo disse à Folha que o desencontro dos dois deixou em segundo plano e em escala menor ruídos em torno da receptividade no Senado de uma antecipação da indicação do presidente Lula para a presidência do BC.

O impasse em torno das emendas parlamentares suspensas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) deixou o clima menos favorável no Senado para uma antecipação da indicação. Nos bastidores, senadores falavam em deixar a indicação para depois das eleições municipais.

Aliados do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avaliam que, enquanto não houver acordo, o ambiente político não é propício para a sabatina do indicado pelo presidente na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).

“Primeiro, precisa haver indicação dos nomes para o Banco Central. Uma vez indicado vamos avaliar o rito para apreciação desses nomes no âmbito do Senado”, disse Pacheco nesta terça-feira, sem se comprometer com datas. Pacheco tomou café da manhã com Lula e a indicação para o BC foi tema da conversa entre os dois.

“Disse a ele que uma vez haja a opção e escolha dele para o nome, que ele nos participe no Senado para que possamos passar a ele o cronograma e expectativa de apreciação na CAE”, afirmou o presidente do Senado.

ADRIANA FERNANDES E CÉZAR FEITOZA / Folhapress

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