SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O empresário que já foi o homem mais rico do Brasil e teve um dos maiores patrimônios do mundo decidiu contar sua versão no documentário “Gigante pela própria natureza”.
Pela primeira vez, Eike Batista deu entrevistas e liberou seu acervo pessoal, como fitas em VHS, para uma obra sobre sua trajetória. O bilionário não havia participado e nem dado depoimentos para o livro e o filme já produzidos sobre sua história. Agora, a nova série tem aparecido em diversos posts em sua página oficial do X (ex-Twitter).
O terceiro episódio, que deve ser divulgado no YouTube nesta quinta (23), mostrará a reviravolta na vida de Eike, que saiu do ranking dos empresários mais bem-sucedidos do mundo para a lista da Interpol após ser considerado foragido por estar no exterior quando teve a prisão decretada. Ele foi preso em Bangu (RJ) depois de ser acusado do pagamento de propina ao ex-governador Sérgio Cabral, em um desdobramento da operação Lava Jato.
O hino nacional é referência tanto para a trilha sonora, em uma versão instrumental, quanto na escolha dos títulos das quatro partes da série: “Terra dourada” (em referência à exploração de minas de ouro ao redor do mundo), “Conseguimos conquistar com braço forte”, “Verás que um filho teu não foge à luta” e “O teu futuro espelha essa grandeza”.
“A gente trabalha todo o documentário, tanto no audiovisual quanto nos nomes, com trocadilhos para o próprio público se perguntar: Gigante pela própria natureza é o Eike ou o Brasil? Todos os projetos do Eike foram criados do zero e pela própria natureza”, diz a diretora Nicoli Rurik.
Com depoimentos de entrevistados enquadrados como “aqueles que o conhecem de verdade”, Eike é definido como um homem visionário, grandioso, generoso, humano e gerador de riqueza para a economia brasileira, ressaltando a figura de “bom moço”.
O filme começa com Eike falando sobre sua infância na cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais. Segundo de sete filhos, ele mudou-se aos 12 anos com a família para a Suíça, após a transferência do seu pai, que foi o responsável pela implantação da vale do Rio Doce internacional, a antiga Vale.
Eike também faz questão de se declarar uma pessoa generosa e diz que aprendeu a dividir o que tinha com os irmãos.
“Quando você é um dos sete filhos, você em casa já aprende a dividir, porque todo mundo quer um pouco mais e nunca dá. Cada um nasce em uma família, tem filhos únicos, mas pelo fato de ser um dos sete desde muito cedo eu aprendi a dividir, um conselho muito importante na criação do ser humano”, afirma em depoimento.
CONSTRUÇÃO DO IMPÉRIO
Após sua família retornar ao Brasil em 1974, Eike conta que decidiu continuar morando sozinho na Bélgica quando tinha 18 anos. Lá ele virou vendedor de seguros residenciais, batendo de porta em porta para garantir seu sustento.
Em seguida, começou a intermediar a venda de produtos brasileiros para a República do Congo, um país africano que era território belga na época, com a comercialização de carne enlatada da Swift, que atualmente pertence ao grupo JBS. Enquanto passava férias no Brasil, diz que conheceu alguns traders de diamantes e passou a negociar a venda de pedras preciosas para a Bélgica, diversificando sua atuação.
No final dos anos 1970, com a corrida do ouro na floresta amazônica na região de Serra Pelada, Eike decide voltar ao Brasil. O jovem de 23 anos começa negociar ouro até conseguir arrecadar US$ 500 mil com dois investidores judeus para abrir sua própria mina. Ele chegou a ter cinco mineradoras no Brasil, uma no Chile e uma no Canadá.
Eike diz que sua persistência começou com os esportes, pois na infância era obrigado a nadar no frio para curar uma asma. Em 1989 começou a disputar provas de offshore powerboat, uma espécie de corrida de Fórmula 1 dos mares, tornando-se campeão mundial.
Em 1991, construiu o primeiro jipe com tecnologia brasileira. Dez anos depois, após o país sofrer com o apagão de energia elétrica durante o governo FHC, Eike começa a investir na geração de energia com a MPX. Em agosto de 2011, ele colocou em operação a usina solar de Tauá, a primeira usina solar da América Latina.
“Eike Batista foi lá e fez a MPX, uma empresa de sucesso. Eu distribuí quase US$ 6 bilhões em dividendos para os acionistas, todo mundo esquece essa história. Eu montei o projeto todo que originou o Superporto do Açu”, afirmou o empresário referindo-se a ele mesmo em terceira pessoa.
QUEM É EIKE BATISTA
O mineiro Eike Fuhrken Batista da Silva, de 67 anos, foi considerado o sétimo homem mais rico do mundo em 2012 pela revista Forbes com uma fortuna estimada em US$ 34,5 bilhões.
O então dono do conglomerado EBX, que reunia seis companhias de mineração, petróleo, energia, imóveis, logística e turismo listadas na Bolsa de Valores brasileira, viu seu reinado começar a ruir quando foi acusado de superestimar dados das suas empresas que exploravam petróleo.
Os problemas na vida do empresário tiveram início em 2012 quando recebeu autorização do governo brasileiro e decidiu investir nas bacias de exploração do pré-sal. Na ocasião, a companhia divulgou que a vazão de óleo nos primeiros poços perfurados pela empresa no campo da bacia de Campos era de apenas um terço do esperado pelo mercado, fazendo as ações caírem sucessivamente. Com a empresa perdendo valor de mercado e não conseguindo honrar suas dívidas, o empresário entrou com um pedido de recuperação judicial. E o desempenho da OGX acabou afetando as outras empresas do grupo EBX.
Em 2015, ele teve seus bens e de familiares bloqueados pela Justiça. Em 2017, o empresário chegou a ser preso após dois doleiros afirmarem que ele pagou propina ao ex-governador Sérgio Cabral em troca de contratos das suas empresas com o governo do Rio de Janeiro. Ele foi solto depois de três meses após fazer um acordo de delação premiada que foi homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2020.
Eike foi condenado duas vezes pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado de ações quando era acionista controlador e presidente do conselho de administração da OGX Petróleo e Gás Participações S.A. e quando era acionista majoritário da empresa de construção naval OSX.
Gigante pela Própria Natureza
Duração: 71 minutos em quatro capítulos
Direção: Nicoli Rurik e Vitor Melhado
Ano de produção: 2023
Exibição: https://www.youtube.com/@EikeBatistareal
TATIANA SANTIAGO / Folhapress