SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A disparada do dólar em relação ao real nesta quarta-feira (18) é fruto de uma reação exagerada dos mercados que se retroalimenta, segundo o economista americano Mohamed El-Erian, presidente do Queens College da Universidade de Cambridge, consultor-chefe da Allianz e ex-CEO da Pimco.
“Os mercados locais brasileiros estão experimentando um desses ‘overshoots’ [reação exagerada que causa desvalorização elevada no curto prazo] clássicos de economias emergentes, nos quais um gatilho fundamental se combina com fatores técnicos ruins para causar uma liquidação que se retroalimenta”, escreveu El-Erian no X.
O gatilho, neste caso, está relacionado às incertezas fiscais no país, enquanto os fatores técnicos se referem, por exemplo, a uma maior concentração de agentes vendendo ativos, mesmo que de forma não inteiramente racional.
O movimento é comum nesta época do ano devido a remessas de dinheiro de empresas estrangeiras para as matrizes, o que também motivou, segundo operadores, os leilões de dólar promovidos pelo Banco Central.
Às 14h16, o dólar subia 1,43%, cotado a R$ 6,184, um dia depois de renovar a máxima histórica nominal a R$ 6,095
El-Erian também destacou na análise que o desdobramento dessa disparada dependerá de qual força prevalecerá. O risco, para o economista, é que esses fatores técnicos comecem a afetar os próprios fundamentos da economia, como a confiança de investidores, a inflação e a estabilidade financeira.
“A disputa agora é entre os circuit breakers [interrupções nas negociações quando há quedas abruptas em um mesmo dia] e os fatores técnicos ruins contaminando os fundamentos econômicos”, escreveu.
A disparada da moeda ocorre durante a tramitação do pacote de corte de gastos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados aprovou a primeira parte do projeto na terça, e as outras duas deverão ser analisadas no plenário nesta sessão.
A proposta não contempla alguns dos pontos centrais do pacote, como o limite ao ganho real do salário mínimo e as mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada), mas prevê outros dispositivos relevantes, como a possibilidade de bloquear até 15% das emendas parlamentares para cumprir os limites do arcabouço fiscal.
Também nesta quarta ocorre a última decisão de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) do ano.
GUSTAVO SOARES / Folhapress