SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As câmeras dos celulares já estavam a postos quando o apresentador começou a citar os nomes que iriam compor uma das mesas mais pop do primeiro sábado da Bienal do Livro de São Paulo.
Quando os autores Clara Alves (“Conectadas”), Elayne Baeta (“O Amor Não É Óbvio”) e Stefano Volp (“O Beijo do Rio”) subiram ao palco, não havia mais dúvidas sobre o motivo de estarem ali para discutir sobre o diálogo com o leitorado. A resposta estava bem diante dos olhos, com os jovens que se acumulavam por todo o espaço.
A movimentação de adolescentes com bandeiras lésbicas e LGBTQIA+ –todos os três autores pertencem a essa comunidade– começou com três horas de antecedência. Pedro Bandeira, Thalita Rebouças e Babi Dewet ainda debatiam sobre escrever para leitores jovens quando os fãs já começavam a se aglomerar em longas filas para a mesa seguinte.
A maior parte deles tinha o mesmo objetivo: ver Elayne Baeta, fenômeno sáfico na literatura nacional. A escritora é responsável pela venda de 100 mil exemplares do seu livro de estreia, “O Amor Não É Óbvio”, e agora conquistou uma das maiores pré-vendas da história da Record. Foram 15 mil exemplares comercializados em apenas 24 horas de “Coisas Óbvias sobre o Amor”, continuação do primeiro título.
Fãs de Elayne, as estudantes Julia Oliveira, 16, e Aline de Souza, 14, compraram o ingresso do sábado da Bienal exclusivamente para encontrar a autora.”Ela me ajuda muito. Eu estava com medo de me assumir como uma menina lésbica. Ela me traz calma, me traz paz”, afirma Aline.
Minutos antes da mesa começar, houve tumulto entre os fãs. O motivo: uma jovem gritou que não precisava de fila para entrar no espaço da palestra, que é aberto. Sem questionar, os adolescentes começaram a se empurrar. Agentes de segurança foram solicitados para conter a multidão.
Ouvir os autores era quase impossível. Sempre que Elayne aparecia no telão, os fãs se empolgavam: “ela é linda”, “eu te amo”.
Questionada sobre a multidão ali para vê-la, a autora afirmou não saber o segredo: “Minha ficha não caiu ainda”. No final da mesa, o público puxou um “Parabéns a Você” para a autora, que fez aniversário na última quarta-feira (4). Um buquê de flores passou de mão em mão até Elayne, que chorou.
Os autores defenderam as redes sociais como ferramenta de conexão com os leitores. “Essa troca é o que me move a continuar escrevendo”, disse Clara Alves. “Nada disso dificulta, a gente só encontra vocês”, disse Volp.
Os escritores compartilharam ainda com o público como as histórias escritas por eles mesmos os ajudaram a se descobrir sua sexualidade.
“Estamos em um momento nunca antes construído da literatura do Brasil. Muito com a ajuda do público”, afirmou Volp.
NATÁLIA SANTOS / Folhapress