SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Sabe quando você está na melhor fase da sua vida? Ele estava na melhor fase da vida dele. Diretor de Ortopedia e Traumatologia no Hospital das Clínicas. Estabilizado financeiramente. Pronto para desfrutar da vida depois de todo esse trabalho”. É assim que a bióloga Lais Betty Corsato, 60, define o momento do primo, o médico Marcos Corsato, 62, assassinado no Rio de Janeiro na quinta-feira (5).
Corsato estava em um quiosque na orla da Barra da Tijuca, na zona oeste, com outros três médicos quando foram alvos de um ataque a tiros. Dois deles também foram mortos na ação criminosa.
Dezenas de amigos e familiares acompanham a cerimônia em uma casa de velórios no Pacaembu, na zona oeste de SP. A todo momento coroas de flores chegam ao local em que ocorre a despedida.
“Ele era muito querido. Os alunos sempre ao redor. Era referência. As pessoas gostavam sempre de estar perto dele, tinha um bom humor. Tinha facilidade de tornar o ambiente mais leve. Se ele não conseguia resolver alguma coisa física, ajudava a curar o coração”, lembrou Laís.
A bióloga disse que mesmo tendo conhecimento da violência que assola o Rio de Janeiro, espantou-se com a maneira como os médicos foram mortos e com o assassinato dos supostos autores dos disparos –que teriam sido mortos pelo crime organizado como punição pelo ataque aos médicos.
“A gente soube desses quatro corpos encontrados. Eu nem sabia que existia um tribunal do crime. Gente, onde nós estamos? Tribunal do crime, que julga, que pune, que dá sentença. É tanta violência, é tanta injustiça. Eu sinto o Rio tão abandonado. As comunidades abandonadas. Eu mesmo estive lá. Eu tenho um trabalho voluntário. A gente faz atendimento médico em áreas remotas. Em lugares de muita vulnerabilidade.”
Corsato estava no Rio para participar de um congresso internacional sobre cirurgia minimamente invasiva, com 300 profissionais brasileiros e de outros países. Também morreram no ataque os médicos Diego Bonfim, irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL) e Perseu Ribeiro Almeida, 33. Único sobrevivente, Daniel Sonnewend Proença, 32, está internado.
A suspeita é que eles tenham sido mortos porque criminosos confundiram um dos médicos com Taillon de Alcantara Pereira Barbosa, 26, acusado pelo Ministério Público de integrar a milícia de Rio das Pedras. Milicianos são criminosos que exploram o comércio local e cobram taxas de segurança ilegais, sob coação.
A polícia apura se o Comando Vermelho matou os envolvidos no assassinato dos médicos após terem conhecimento de que eles atiraram em inocentes e o caso ganhar repercussão nacional.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress