‘Ele fazia qualquer dia horrível ficar melhor com gestos simples’, diz viúva de Anderson Gomes

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A servidora pública Agatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, disse nesta quarta-feira (30) no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que seu marido sempre se esforçou para tornar leve momentos difíceis.

“Ele era essa pessoa que fazia qualquer dia horrível ficar melhor com gestos simples”, disse Agatha, em depoimento no julgamento dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos pelo crime que também vitimou a vereadora Marielle Franco.

Agatha foi a quarta testemunha a depor. Ela relatou as dificuldades que teve em criar o filho Arthur, 8, que nasceu com graves deficiências que dificultam seu desenvolvimento até hoje.

“Por não ter o pai, a mãe está a todo tempo para ir à delegacia, para ir a caminhadas, para voltar a trabalhar. Não tinha nada de laudos do Arthur, e ainda tinha que levar ele para fazer tudo. Isso me deixou exausta, sem paciência com ele, porque não tinha com quem dividir a vida. Não tinha com quem ficar com o Arthur um pouco. Eu não estava no momento em querer brincar”, disse ela.

“Eu tive meu momento de ficar chorando e o Arthur perto de mim, só. Perdeu convívio com os familiares do Anderson. Ele perdeu esse elo. Perdeu a pessoa que dizia que tudo ia dar certo. Era ele [Anderson].”

Ela contou que Anderson estava prestes a começar a trabalhar na empresa aérea TAP, após uma série de cursos para se formar como mecânico de aviões e seguir a carreira do pai e o irmão.

Agatha afirmou que até hoje faz coisas pensando no pai de seu filho.

“Lembro de uma frase que meu pai me disse que a partir dali, tudo que eu fizesse seria a primeira vez sem o Anderson. Quis acelerar muito para fazer tudo rápido, para fazer de uma vez. Me atropelei um pouco. E não vai passar nunca. Porque sempre vai ter uma primeira vez sem o Anderson. A primeira vez que o Artur andou, a primeira vez que o Arthur falou ‘mamãe’, a primeira escola nova, o primeiro coleguinha. Sempre vai ter”, disse ela.

Antes de Agatha, prestaram depoimento a jornalista Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle e sobrevivente do atentado, Marinete da Silva, mãe de Marielle, e Mônica Benício, viúva da vereadora. Outras três testemunhas ainda serão ouvidas a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro, e mais duas foram selecionadas pela defesa de Ronnie Lessa.

O júri começou às 10h30 e deve se estender pela quarta (30) e a madrugada de quinta-feira (31). Ao todo, 21 pessoas comuns, sendo sete homens, foram sorteados para compor o júri. Os jurados ficarão incomunicáveis e vão dormir dentro do Tribunal de Justiça.

Lessa, preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, e, Élcio, no Centro de Inclusão e Reabilitação em Brasília, serão ouvidos por videoconferência. Os dois firmaram acordo de delação e confessaram o crime.

O Ministério Público do Rio vai pedir pena máxima aos réus, que pode chegar a 84 anos de prisão. O acordo de Lessa prevê o cumprimento de pena em regime fechado até março de 2037. A reunião das penas nos 12 processos a que ele responde será feita pelo juízo de execução penal. Os detalhes do contrato de Élcio não são de conhecimento público.

Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão e o delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa são réus no STF (Supremo Tribunal Federal), sob acusação de planejarem a morte da vereadora. Ele foram apontados como mandantes na delação de Lessa. Todos negam o crime.

YURI EIRAS E ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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