SALVADOR, BA, E RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – A um ano das eleições municipais, a tendência de nacionalização das eleições domina as pré-candidaturas às prefeituras das capitais brasileiras, que também terão disputas entre partidos da base lulista e pragmatismo em parte do bolsonarismo.
Aliados do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) devem se enfrentar na maioria das capitais em 2024, embora em nenhuma delas exista um cenário claro de polarização entre candidaturas do PT e PL.
Com as maiores bancadas no Congresso Nacional e forte influência de seus líderes, os dois partidos ensaiam movimentos similares: estudam o xadrez político de modo a não melindrar aliados e garantir apoios para a eleição presidencial de 2026.
O PT tem pré-candidatos em 16 capitais, número que deve cair até as convenções partidárias, e nomes considerados competitivos em Fortaleza, Natal, Teresina, Porto Alegre e Vitória.
A legenda vai apoiar aliados em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, onde trabalha para indicar os candidatos a vice, mas esbarra em resistências dos prefeitos Eduardo Paes (Rio) e João Campos (Recife), que querem nomes da confiança deles nas vagas, já que poderão se candidatar a governador em 2026.
Ao mesmo tempo, o partido mira a renovação de quadros e pode apresentar novidades nas urnas como Camila Jara (Campo Grande), Anne Moura (Manaus) e Carol Dartora (Curitiba).
“O PT chegou em 2020 a uma espécie de fundo do poço e queremos ter um desempenho muito mais forte em 2024”, afirma o senador Humberto Costa (PE), coordenador de estratégias do PT para a corrida de 2024. “Na última eleição, não elegemos prefeitos em capital. Vamos melhorar os resultados.”
O PL de Bolsonaro segue um caminho semelhante com pré-candidaturas em 16 capitais, incluindo Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza. O partido é favorito em Maceió, onde o prefeito João Henrique Caldas, o JHC, vai disputar a reeleição. A cidade foi a única capital do Nordeste que deu maioria a Bolsonaro em 2022.
Por outro lado, o partido atua com pragmatismo ao sinalizar apoio a prefeitos de legendas de centro-direita que vão disputar a reeleição, casos de São Paulo e Porto Alegre. As disputas nas duas capitais prometem forte carga nacional, contrapondo aliados de Lula e Bolsonaro.
Em São Paulo, que se acostumou a ver embates entre PT e PSDB nas últimas décadas, a disputa deve ser protagonizada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Divergências ideológicas sobre políticas públicas para a cidade marcarão os debates.
Os deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil) e Tabata Amaral (PSB), também pré-candidatos, tentam se viabilizar como alternativa a esta provável polarização entre lulistas e bolsonaristas. O PT, que deixa de concorrer pela primeira vez desde a redemocratização, aprovou aliança com o PSOL.
Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) tem um vice do PL e o apoio dos bolsonaristas na busca por mais um mandato. Deve enfrentar nomes tradicionais da esquerda local, que avalia cogita a deputada federal Maria do Rosário (PT) e a ex-deputada Manuela d’Ávila (PC do B).
O PL de Salvador lançou o nome do ex-ministro João Roma para a sucessão, mas a tendência é de aliança com o prefeito Bruno Reis (União Brasil). A parceria deve se concretizar a despeito do histórico recente de rusgas, ainda não superadas, entre Roma e o ex-prefeito ACM Neto.
A oposição tenta construir a unidade e deve escolher entre o deputado estadual Robinson Almeida (PT) e o vice-governador Geraldo Júnior (MDB).
Outro ex-ministro de Bolsonaro que pretende ir às urnas é Marcelo Queiroga, que comandou a pasta da Saúde entre 2021 e 2022. Ele assumiu a presidência do PL em João Pessoa para concorrer à prefeitura no próximo ano, mas enfrenta resistências da ala raiz do bolsonarismo paraibano.
Caso seja candidato, deve enfrentar o prefeito Cícero Lucena (PP). Candidato à reeleição, ele tem o apoio do governador João Azevêdo (PSB) e tenta atrair o PT para a chapa, com o aval do presidente Lula.
João Pessoa (PB) e Belém (PA) foram as duas capitais com resultado mais acirrado entre Lula e Bolsonaro em 2022, com o petista à frente, o que pode contribuir para a nacionalização da disputa no próximo ano.
Na capital do Pará, o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) enfrenta desgastes e deve ter novamente como principal adversário Delegado Eguchi (PL), repetindo o embate do segundo turno de 2020. O MDB, do governador Helder Barbalho, deve se apresentar como terceira via, ainda sem nome definido.
Outra capital que tende a repetir a mesma disputa de 2020 é São Luís, cuja eleição caminha para uma polarização entre o prefeito Eduardo Braide (PSD), que negocia o apoio dos bolsonaristas, e o deputado federal Duarte Júnior (PSB), candidato do governador Carlos Brandão (PSB) e do ministro da Justiça, Flávio Dino.
Vitória (ES) também deve ter um novo duelo entre o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) e o ex-prefeito João Coser (PT), assim como Macapá (AP), que deve repetir a disputa entre o prefeito Dr. Furlan (Podemos) e o empresário Josiel Alcolumbre (União Brasil), irmão do senador Davi Alcolumbre.
A disputa pelas prefeituras das 26 capitais de estados ainda sinaliza dificuldade de setores de centro-direita em viabilizar candidaturas competitivas para se contrapor à esquerda e ao bolsonarismo.
Dentre eles estão prefeitos que assumiram os cargos em 2022, após renúncia dos titulares que concorreram aos governos estaduais. É o caso de Fuad Noman (PSD), prefeito que sucedeu Alexandre Kalil em Belo Horizonte e agora tenta imprimir uma marca para chegar com viabilidade na eleição.
A disputa nas capitais também terá enfrentamentos entre aliados de Lula. Um dos embates deve acontecer em Natal, onde estarão nas urnas nomes como o da deputada federal Natália Bonavides (PT), o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD) e o ex-deputado Rafael Motta (PSB).
Em Fortaleza, o prefeito Sarto Nogueira (PDT) deve ter como adversário o PT, legenda do governador Elmano de Freitas.
A deputada federal Luizianne Lins, que governou a cidade entre 2005 e 2012, é cotada no PT, mas enfrenta resistências. O grupo do ministro Camilo Santana (Educação) articula a candidatura do presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, que tenta uma anuência para se desfiliar do PDT.
O racha no PDT é entrave para uma possível migração partidária para o PT ou PSB. O grupo do ex-ministro Ciro Gomes segue rompido com o PT, enquanto a ala do senador Cid Gomes defende a reaproximação com os petistas.
A disputa no xadrez político da capital cearense, com reflexos nas eleições estadual e até nacional em 2026, deve perdurar pelos próximos meses. As convenções partidárias devem acontecer em julho e as eleições municipais estão marcadas para 6 de outubro de 2024.
JOÃO PEDRO PITOMBO E JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress