SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A população do Egito voltou às urnas nesta segunda-feira (11) no segundo e penúltimo dia da eleição presidencial que tem como favorito o ditador Abdel Fattah al-Sisi. O pleito, que não conta com os principais opositores do líder, acontece em meio a uma crise econômica e à guerra na Faixa de Gaza, que faz fronteira com o país africano.
O militar foi um dos mentores do golpe que derrubou o governo do então presidente Mohamed Mursi, primeiro chefe de Estado egípcio eleito democraticamente, em 2013. No ano seguinte, ele se declarou presidente com cerca de 92% dos votos -o pleito restringiu a oposição, e a sigla de Mursi, a Irmandade Muçulmana, tornou-se ilegal posteriormente.
A votação ocorre das 9h às 21h locais e termina na terça-feira (12). Os resultados devem ser anunciados no dia 18 de dezembro.
Caso vença, Sisi, no poder há nove anos, terá a chance de ficar por mais seis no cargo e aprofundar a escalada autoritária que o país vive. Esse, aliás, é o cenário mais provável, já que a repressão dos dissidentes na última década deixou os opositores mais conhecidos fora da disputa, praticamente garantindo a reeleição do líder.
Três candidatos se qualificaram para concorrer contra o ditador, mas nenhum deles é uma figura de destaque. O mais conhecido interrompeu sua candidatura em outubro, afirmando que autoridades haviam atacado seus apoiadores -acusações rejeitadas pela autoridade eleitoral nacional.
Por isso, críticos veem a eleição como uma farsa, enquanto a imprensa controlada pelo regime chama o pleito de avanço do pluralismo político. A Autoridade Nacional de Eleições informou que a participação no primeiro dia de votação, no domingo (10), foi alta. Porém, embora tenha sido possível ver uma multidão em alguns locais de votação, onde músicas patrióticas tocavam em alto-falantes, outros pareciam esvaziados.
Dois repórteres da agência de notícias Reuters viram pessoas sendo levadas de ônibus para votar, e um deles presenciou a distribuição de sacos com farinha, arroz e outros produtos básicos a pessoas que mostravam manchas de tinta nos dedos -a prova de que haviam votado. Alguns, inclusive, se decepcionaram pela ausência de açúcar, que recentemente sofreu aumentos de preço.
A população de 104 milhões de habitantes do Egito, que está crescendo rapidamente, luta contra preços altos e outras pressões econômicas, embora a inflação anual tenha diminuído ligeiramente dos níveis recordes, atingindo 34,6% em novembro.
Mesmo assim, os egípcios lidam com preços que mudam durante o dia e com a escassez de produtos básicos como ovo, carne e leite.
Alguns eleitores alegam que apenas Sisi e o Exército podem fornecer segurança, embora lamentem a realidade econômica do país. Outros reclamam que o Estado priorizou megaprojetos enquanto assumia mais dívidas -desde 2018, por exemplo, o regime se dedica à construção de uma nova capital no deserto.
“Votarei em Sisi, é claro. Eu amo ele”, disse à Reuters Nabia Ahmed, uma mãe de quatro filhos de 65 anos que votou em Bahr al Azam Street, em Giza, neste domingo. “Estou votando porque quero segurança para meus filhos.” No mesmo local, Sabreen Khalifa, uma mãe de cinco filhos, também votava no ditador, mas com reservas. “Queremos que ele reduza os preços. Comida, remédios, aluguel. Está tudo muito caro.”
Alguns analistas dizem que a eleição, originalmente programada para o início de 2024, foi antecipada para que mudanças econômicas como a desvalorização de uma moeda já enfraquecida pudessem ser implementadas posteriormente.
Na última quinta-feira (7), o FMI (Fundo Monetário Internacional) disse que está em negociações com o Egito para fazer um financiamento adicional em um programa de empréstimo de US$ 3 bilhões (R$ 14,7 bilhões) paralisado por causa de atrasos nas vendas de ativos estatais. “Todos os indicadores sugerem que vamos avançar rapidamente após a eleição”, diz Hany Genena, economista-chefe do banco de investimento Cairo Financial Holding.
No norte do Sinai, para onde o exército estendeu seu controle após lutar contra combatentes islâmicos, uma escola nomeada em homenagem a um soldado morto estava sendo usada como local de votação. “Sisi garantiu essa área para nós. Vimos derramamento de sangue, mas o mínimo que podemos fazer é votar nele”, disse Leila Awad, uma funcionária do Ministério da Educação local.
Os apoiadores do ditador, que se apresentou como um baluarte da estabilidade durante a campanha, alegam que a repressão do regime era necessária combater o extremismo islâmico no Egito -imagem que se tornou um trunfo após conflitos cercarem o país com guerras na Líbia, no Sudão e na Faixa de Gaza.
Por isso, caso vença, Sisi precisará lidar com a crise econômica e com a escassez crônica de moeda estrangeira, mas também terá que evitar que o conflito entre Israel e grupo terrorista Hamas atravesse a fronteira do território palestino e chegue ao Egito.
Redação / Folhapress