Eleição em Porto Alegre tem Eduardo Leite em cima do muro e frente bolsonarista

PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Pouco mais de um ano antes das eleições municipais, a corrida eleitoral em Porto Alegre se avizinha mais polarizada do que nunca, com ambos os lados fortalecidos.

Enquanto o prefeito Sebastião Melo (MDB) costura uma aliança ampla por reeleição dobrando a aposta no bolsonarismo, a esquerda ainda busca um nome para cabeça de chapa que possa repetir a boa votação do PT na cidade em 2022 e, assim, retomar a prefeitura que foi governada pelo partido por 16 anos consecutivos —de 1989 a 2004.

No meio do caminho está o PSDB, que espera um direcionamento do governador e presidente da sigla, Eduardo Leite, sobre efetivar apoio a Melo —do qual o partido é base desde o início do ano, quando assumiu a Secretaria de Cultura— ou lançar uma candidatura de terceira via à semelhança da própria figura de Leite.

A nenhum dos campos políticos interessa repetir o cenário de 2020, quando houve 13 candidaturas. A impugnação de uma delas às vésperas da eleição, do ex-prefeito José Fortunati (à época no PTB), foi decisiva para que Melo ultrapassasse o então prefeito Nelson Marchezan (PSDB) no primeiro turno e vencesse Manuela D’Ávila (PC do B) no segundo.

Para se reeleger, Melo vem costurando uma aliança à direita que se assumiu bolsonarista de vez em 2022. À revelia do MDB, que é o partido do vice de Leite, Melo se uniu a figuras como o deputado federal Osmar Terra (MDB) para anunciar apoio a Onyx Lorenzoni (PL). O vice de Melo, Ricardo Gomes, migrou para o PL e deve concorrer ao mesmo posto, inviabilizando candidaturas à direita do prefeito.

Melo tenta garantir uma aliança eleitoral quase tão ampla quanto sua base na Câmara Municipal, onde conta com votos de 11 dos 16 partidos representados: MDB, PL, PP, PSB, PSD, Podemos, PSDB/Cidadania, PTB, Republicanos e Solidariedade. Mas pode haver fissuras.

A União Brasil lançou a pré-candidatura do deputado estadual Dr. Thiago Duarte. Já o PSDB não descarta se manter com Melo, mas avalia ao menos dois nomes: a deputada estadual e ex-comandante da Polícia Civil gaúcha, Delegada Nadine Anflor, e a deputada federal Any Ortiz, que é do Cidadania, partido federado aos tucanos. O martelo será batido por Leite e levará em consideração, sobretudo, o receio do partido em perder suas quatro cadeiras na Câmara Municipal.

Nos partidos de esquerda, existe a convicção de que 2024 é a maior oportunidade das últimas décadas de reconquistar a prefeitura, e o argumento está nos números de 2022.

Lula venceu a eleição presidencial nos dois turnos na capital gaúcha. O candidato a governador Edegar Pretto (PT) superou Onyx, segundo colocado na disputa, com larga vantagem em Porto Alegre e ficou a menos de um ponto percentual de Leite (4.707 votos). Candidato ao Senado, Olívio Dutra (PT) fez 49,25% dos votos da cidade —13 pontos percentuais à frente do vencedor, Hamilton Mourão (Republicanos).

O principal desafio será reprisar uma coligação que una novamente PSOL aos federados PT e PC do B. Manuela, que encabeçou a chapa em 2020 com apoio do PT, se diz ainda indecisa sobre o processo eleitoral no próximo ano. No PT, a avaliação é que Manuela perdeu força ao não disputar cargo público em 2022. A ex-deputada embarca nos próximos dias para ficar um ano estudando nos Estados Unidos.

No PT, os principais nomes cogitados para a cabeça de chapa são os da deputada federal Maria do Rosário e da deputada estadual Sofia Cavedon. Pesam contra elas a forte rejeição a Rosário frente ao eleitorado conservador, e, contra Cavedon, ser atrelada demais ao magistério e ao sindicalismo.

Rosário, todavia, tem boas votações ao Legislativo na cidade e conseguiu bom desempenho quando concorreu ao cargo em 2008 —fez 41% dos votos, mas eram tempos anteriores aos embates com Jair Bolsonaro (PL) em Brasília.

Outro cogitado é Pretto, pela boa votação a governador em 2022, mas se trata de um nome com mais penetração no interior do que na capital. Além disso, por almejar o Piratini em 2026, o PT avalia que Pretto está em um posto estratégico hoje, como presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

No PSOL, o nome mais empolgado é o do vereador veterano Pedro Ruas, quadro histórico do PDT nas décadas de 80 e 90 que foi candidato a vice na chapa de Pretto por sua atual sigla. Corre por fora a deputada federal Fernanda Melchionna, 1 dos 13 nomes que competiram em 2020 e que contabiliza ótimas votações ao Legislativo desde 2016.

Uma ala do PSOL vem cortejando o nome de Olívio para encabeçar a chapa, pelo carisma e pelo simbolismo de a esquerda retomar o cargo que venceu pela primeira vez com ele, em 1988.

Como o ex-governador terá 83 anos em 2024, o PT rechaça a hipótese e enxerga nela uma tentativa do PSOL de, ao cobrar um nome inviável, justificar mais tarde uma candidatura independente.

Um consenso entre as legendas de esquerda é ter como candidata a vice-prefeito uma pessoa preta, visto que 5 vereadores pretos foram eleitos em 2020 e 3 deles se elegeram deputados estaduais em 2022. Dois nomes despontam: Laura Sito (PT) e Matheus Gomes (PSOL), ambos eleitos em 2022.

Além da representatividade, um candidato de origem popular na chapa ajudaria a esquerda a enfrentar Melo nas comunidades periféricas de Porto Alegre, onde o prefeito transita com desenvoltura. Em 2020, esse foi um ponto decisivo, dada a imagem de Manuela como uma candidata de classe média.

Contra a reeleição de Melo, pesa neste momento sua própria gestão, que passa por uma sucessão de crises agravadas em 2023. Nos últimos meses, a secretária de Educação, Sônia da Rosa, caiu após uma série de reportagens revelar um desperdício na ordem de R$ 100 milhões em compras de computadores, livros e equipamentos esportivos que nunca foram distribuídos às escolas municipais.

Outro problema grave é a coleta de lixo. A prefeitura tenta rescindir na Justiça o contrato com a atual empresa coletora em razão do acúmulo de sujeira nas ruas e do estado precário dos contêineres.

Na segurança, a prefeitura decidiu coibir o consumo de álcool na orla do lago Guaíba, principal ponto turístico da capital gaúcha, após um tiroteio no local causar pânico e correria. Também na orla está outro emblema dos problemas da gestão municipal: a Usina do Gasômetro, cartão-postal da cidade, está fechada para obras desde 2017.

CAUE FONSECA / Folhapress

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