Eleição mostra dependência de Lula do centrão e entraves em série para 2026

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O resultado do primeiro turno das eleições municipais mostrou a força dos partidos de centro e direita nas principais cidades do país, situação que aumenta a dependência do governo Lula (PT) em relação a essas siglas e indica dificuldades para a eleição do campo da esquerda em 2026.

Para dirigentes de partidos do centrão, Lula se torna mais dependente dos aliados, com o desempenho fraco do PT nas urnas neste domingo (6). O partido do mandatário não venceu nenhum pleito no primeiro turno para capitais e não parte na liderança em nenhuma das quatro capitais em que vai disputar a segunda rodada de votação.

Por outro lado, o resultado do primeiro turno também mostrou o fortalecimento do bolsonarismo, nas primeiras eleições após Jair Bolsonaro (PL) ter sido declarado inelegível. O PL obteve vitórias no primeiro turno em duas capitais e vai disputar o segundo turno em outras nove, sendo que em sete delas já larga na frente, incluindo em colégios eleitorais importantes, como Belo Horizonte.

Eleitores foram às urnas neste domingo para escolher os prefeitos e vereadores que vão atuar pelos próximos quatro anos. O resultado das eleições reforça a tendência de avanço dos partidos de centro, que já havia sido registrada quatro anos atrás.

Um líder petista afirma que o partido apostava em um cenário de maior polarização entre Lula e Bolsonaro, mas diz que as eleições mostram um fortalecimento do centrão. De acordo com ele, esses partidos irrigaram seus redutos eleitorais de emendas nos últimos quatro anos e isso tem impacto no pleito.

Já representantes de partidos do centrão reforçam nos bastidores que o governo Lula se torna ainda mais dependente de suas siglas, após o resultado do primeiro turno das eleições municipais.

Um importante expoente dessas legendas ainda acrescenta, reservadamente, que as eleições municipais colocam mais pressão sobre Lula, que precisa aumentar os índices de popularidade e aprovação de seu governo para conseguir atrair aliados para a disputa de 2026.

Afirma que um eventual nome de centro ou centro-direita, que se mostre viável, pode retirar do petista alianças importantes.

Dentre os nomes ventilados para concorrer em 2026, é apontado o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que sai vencedor desta eleição. A avaliação é que ele conseguiu derrotar o fenômeno Pablo Marçal (PRTB) e levar Ricardo Nunes (União Brasil) para o segundo turno em São Paulo.

Em seu discurso após o primeiro turno, Nunes agradeceu e exaltou repetidas vezes o papel de Tarcísio nessas eleições. Aliados apontam nos bastidores que Jair Bolsonaro buscou convencer Tarcísio a se afastar da campanha pela prefeitura paulistana, tendo em vista o risco de derrota. O governador, no entanto, teria bancado sua decisão e agora é apontado como vitorioso e fortalecido politicamente.

Integrantes no governo Lula, por sua vez, minimizam o resultado nas eleições e dizem não haver paralelo entre o pleito municipal e a disputa presidencial, em outubro de 2026. E acrescentam que aliados do Palácio do Planalto obtiveram vitórias expressivas contra nomes da extrema direita.

“Minha experiência em acompanhar as eleições de 2004, 2008, 2012 dentro do governo e 2016 e 2020 fora mostram que não há relação direta entre a eleição municipal e a presidencial. Mesmo assim estamos vendo lideranças da frente ampla que apoia o presidente derrotar os ícones mais simbólicos da extrema-direita”, afirma o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Ele cita em particular as vitórias no primeiro turno Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, e João Campos (PSB), em Recife. Eles derrotaram, respectivamente, os bolsonaristas Alexandre Ramagem (PL) e Gilson Machado (PL).

Além disso, na principal eleição para o governo, na capital paulista, Guilherme Boulos (PSOL) vai ao segundo turno pela prefeitura paulistana, em disputa contra Nunes —que deve receber agora um apoio mais contundente de Jair Bolsonaro.

Mesmo à frente da Presidência da República, o PT voltou a ter um desempenho frágil nas eleições após não ter conseguido eleger nenhum prefeito de capital em 2020. O partido vai para o segundo turno em quatro capitais: Fortaleza, Cuiabá, Natal e Porto Alegre.

No entanto, em nenhuma delas terminou a primeira rodada de votação na frente. O partido nem conseguiu chegar ao segundo turno em outras capitais onde havia esperança de vitórias, como em Goiânia e em Teresina.

O PT, no entanto, comemorou vitórias em cidades de interior de estados importantes onde havia possibilidade de segundo turno. Manteve o comando sobre as mineiras Juiz de Fora e Contagem e também sobre cidades da Bahia e do Ceará.

Integrantes do governo também rebatem a versão de dependência do centrão e afirmam que o fortalecimento desses partidos pode ser benéfico para estreitamento de alianças, considerando que a maior parte dessas siglas já integra a atual gestão.

Um cardeal do PL ressalta que o partido vai para o segundo turno em nove capitais e conquistou cidades de grande porte pelo país —algo que não se verificava antes— graças à influência de Bolsonaro. Isso mostra, para este líder, o avanço da direita e a perda de base para Lula.

Outros nomes que se colocam na disputa pelo Palácio do Planalto em 2026, pelo campo da direita, vão precisar aguardar o resultado do segundo turno, para ter uma real dimensão de sua força política —como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Júnior (PSD).

JULIA CHAIB, RENATO MACHADO, VICTORIA AZEVEDO E CATIA SEABRA / Folhapress

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