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Eleição no Ceará fortalece esquerda, projeta Camilo e pode unir PL, União e ala do PDT na oposição

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – As eleições municipais no Ceará fortaleceram a esquerda, que elegeu o maior número de prefeitos, consolidaram a força política no estado do ex-governador e ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e podem selar uma união entre o PL de Jair Bolsonaro, o União Brasil e uma ala do PDT na oposição ao PT estadual.

Dos 184 municípios do estado, o PSB do senador Cid Gomes venceu em 65 cidades, seguido do PT (47). Os dez partidos que formam a base aliada do governador Elmano de Freitas (PT) vão controlar 166 prefeituras, cerca de 90% do total, pavimentando a possível reeleição do petista em 2026.

Adversários apontam, no entanto, que ainda há um caminho a ser percorrido. Eles criticam os índices de violência no estado, tema considerado um dos principais desafios da gestão Elmano, além de problemas na área da saúde.

A maior conquista do PT no estado foi a vitória de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza —única capital em que o partido elegeu um representante. O petista disputou o segundo turno com o deputado federal bolsonarista André Fernandes (PL), apoiado por Bolsonaro. A corrida foi acirrada, com diferença de cerca de 10 mil votos, num ensaio do que poderá ocorrer em 2026.

Apesar de derrotado nas urnas, o congressista saiu como um dos grandes vencedores do pleito pela votação expressiva e a capacidade de atrair multidões para atos da campanha. Fernandes não pode concorrer ao Senado nem ao governo, por não ter a idade mínima necessária —ele tem 27 anos. Mas políticos acreditam que ele atuará em 2026 para eleger aliados de seu grupo.

No segundo turno, o bolsonarista recebeu apoios que sinalizam um caminho do que pode ocorrer em 2026, com aliança entre partidos para fazer oposição ao PT no estado: ele teve endosso do ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil), quarto colocado, e de uma ala do PDT de Ciro Gomes, em especial do ex-prefeito da capital cearense Roberto Cláudio.

Na segunda etapa em Fortaleza, o PDT rachou, com uma ala apoiando Fernandes e outra, Leitão —o prefeito, José Sarto (PDT), ficou em terceiro. Ciro não fez anúncio de endosso, mas rejeitou apoiar o PT. O apoio de Roberto foi criticado por integrantes e pela militância do PDT, além de políticos de esquerda.

A interlocutores o ex-prefeito diz que gostaria de permanecer no partido e que trabalhará para que a legenda mantenha sua postura de oposição ao PT estadual (os dois partidos romperam em 2022). Dentro do PDT, no entanto, há políticos que avaliam uma aproximação nas esferas estadual e municipal, o que pode contrariar Roberto.

O ex-prefeito recebeu convites para deixar a agremiação, inclusive do União Brasil, mas só deverá tomar uma decisão no próximo ano. “Hoje, existe uma proximidade do nosso grupo com o PL e o grupo do Roberto. Queremos tentar conduzir para ter uma chapa única para o governo em 2026”, diz à Folha Capitão Wagner, afirmando ter feito convite para o ex-prefeito se filiar ao partido.

“Há uma tendência forte de que haja esse alinhamento com Novo, PL e PSDB. Isso já está mais encaminhado. Mas ainda temos que ver os espaços da chapa majoritária e aguardar a decisão de Roberto Cláudio.”

Políticos do grupo aliado de Elmano, por sua vez, avaliam como remota a chance de unificação desse campo. Eles dizem ser inviável estabelecer uma aliança estadual que não vá de encontro com a nacional, já que o PL deve ter um nome indicado por Bolsonaro, enquanto o União Brasil ensaia candidatura própria e o PDT caminha para apoiar a reeleição de Lula (PT).

Por outro lado, adversários e até mesmo aliados petistas falam em dificuldades para montar a chapa majoritária também no grupo de Elmano. Eles citam incômodo com o que classificam como uma suposta hegemonia do PT do Ceará, já que a sigla comanda a capital, o estado e a Presidência da República.

A indicação de um petista para comandar a Assembleia do Ceará, em novembro, gerou mal-estar entre partidos que apoiam Elmano e quase levou a uma ruptura com Cid Gomes. A situação foi contornada numa costura que envolveu Camilo, Cid e o governador, que levou à eleição de um membro do PDT para comandar a Assembleia.

Nos bastidores, políticos aliados afirmam que o desempenho no Ceará consolida o nome de Camilo como a principal liderança estadual e projeta o ministro como um possível nome para suceder Lula no futuro.

No evento de comemoração da vitória de Evandro, por exemplo, Camilo fez gestos ao eleitorado conservador ao agradecer a Deus em seu discurso, rezar e dizer que é cristão e defende a família brasileira, em tom emocionado.

“O projeto que o PT lidera hoje no estado foi vitorioso nas urnas”, disse o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE). “Isso tem incidência direta na consolidação do projeto de 2026 a níveis estadual e nacional. O peso político do Ceará é reconhecido não só pela população do estado, mas também pelo governo e pelo PT nacional.”

O resultado eleitoral também dá forças para uma ala do PT que defende um nome do Nordeste para presidir o partido no próximo ano, com a saída de Gleisi Hoffmann (PR). Guimarães, um dos cotados, já se mostrou aberto a essa possibilidade, mas disse querer disputar o Senado em 2026.

Na chapa majoritária do grupo de Elmano, que disputará a reeleição, o grande imbróglio são as duas vagas para senador. Além de Guimarães, já demonstraram interesse o deputado Eunício Oliveira (MDB) e o ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos). Membros do PSD falam que a sigla pretende pleitear espaço na chapa.

O nome de Cid também é citado nas conversas, mas ele diz que ainda não sabe se tentará a reeleição. “Não tomei minha decisão se vou concorrer. Não me movo na política por ambições pessoais. Sempre estive a serviço de projetos. Tomo minhas decisões coletivamente, conversando e ouvindo.”

Cid e Ciro estão rompidos desde 2022. Divergências políticas fizeram Cid deixar o partido e migrar para o PSB, levando grande parte de seu grupo político. Essa disputa entre os irmãos Ferreira Gomes, que têm no estado seu reduto eleitoral, levou a uma grande perda de força política do PDT regionalmente: em 2024 foram eleitos somente cinco prefeitos, ante 67 em 2022.

Na avaliação de lideranças do Ceará, o ex-presidenciável Ciro Gomes saiu como um dos grandes derrotados nessas eleições. Esses políticos dizem duvidar, inclusive, se ele disputará algum cargo majoritário na próxima eleição.

Após o primeiro turno, em outubro, o próprio Ciro afirmou que “sua importância é declinante” e defendeu a renovação dos quadros políticos. “Tenho humildade para perceber que a minha palavra cada vez tem menos audiência no Ceará.”

*

RAIO-X | CEARÁ

– População estimada (2024): 9.233.656 pessoas

– Eleitores (2024): 6.940.465

– Área territorial (2023): 148.894,447 km²

– PIB per capita (2021): R$ 21.090,11

– Orçamento estadual (2024): R$ 49,4 bilhões

– Orçamento estadual para investimentos (2024): R$ 5,3 bilhões

Governador

– Elmano de Freitas (PT)

Senadores

– Augusta Brito (PT) – 2023-2031

– Cid Gomes (PSB) – 2019-2027

– Eduardo Girão (Novo) – 2019-2027

Número de prefeituras por partidos conquistadas em 2024

– PSB: 65

– PT: 47

– PSD: 16

– Republicanos: 14

– PP: 13

Votação por partido para prefeito em 2024 (1º turno)

– PT: 1.261.687

– PSB: 818.626

– PSD: 273.933

– União Brasil: 196.364

– Republicanos: 168.081

fontes: TSE (Tribunal Superior Eleitoral), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará

VICTORIA AZEVEDO / Folhapress

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