SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Marcadas para a próxima terça-feira (5), as eleições presidenciais dos Estados Unidos são acompanhadas intensamente por todo o planeta. Outros dois pleitos que ocorrem na mesma data têm sido menos comentados, mas são tão importantes quanto o da Casa Branca. São as eleições para o Senado, que terá um terço de seus assentos renovados, e para a Câmara dos Augusto Neftali de Oliveira, professor de ciência política da PUC-RS, ressalta que a disputa por essas vagas costuma ser bem menos acirrada do que a observada para o Congresso brasileiro. Ele explica que isso acontece em certa medida devido às baixas taxas de renovação das duas Casas –ambas permitem que seus membros sejam reeleitos ilimitadamente. Desse modo, “o normal é a reeleição”, diz ele.
Além disso, acrescenta o pesquisador, o próprio sistema bipartidário americano já diminui naturalmente a competitividade desses assentos. Tanto no Senado quanto na Câmara, há circunscrições eleitorais que votam historicamente em um ou em outro partido. Nesses casos, as verdadeiras disputas costumam ocorrer nas primárias das siglas, não no pleito em si.
Oliveira afirma, desse modo, que as eleições parlamentares só são realmente competitivas em dois cenários: quando a disputa é acrescida de elementos incomuns, como nas ocasiões em que um dos candidatos é famoso, ou quando o senador ou o deputado incumbente deixa a sua vaga. (Neste ano, inclusive, uma das cadeiras da Califórnia no Senado está aberta porque a sua ocupante, Dianne Feinstein, morreu no ano passado, no meio de seu mandato, aos 90 anos).
Nesse sentido, a dinâmica das eleições legislativas se aproxima da presidencial: o que está em jogo são os territórios que não se alinham automaticamente aos partidos Republicano ou Democrata.
No caso das eleições para o Senado, as disputas vistas como efetivamente competitivas neste ano acontecem em dez cadeiras vagas: as dos estados de Maryland, Montana, Nebraska, Texas, Arizona, Michigan, Nevada, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin -os últimos seis também são considerados decisivos para as eleições presidenciais.
Segundo o agregador de pesquisas FiveThirtyEight, os republicanos aparecem na frente em intenções de voto em apenas três desses estados: Montana, Texas e Nebraska. Eles enfrentam disputas especialmente apertadas nos últimos dois, com vantagem de 2,4 e 3,3 pontos percentuais, respectivamente.
Nos outros sete estados decisivos, os democratas surgem na frente. A questão é que o partido de Joe Biden -que mantinha uma frágil maioria com 51 votos contando com o apoio dos independentes, contra 49 dos republicanos- já iniciou este ciclo eleitoral em uma situação complicada. Dos 34 assentos da Casa que serão renovados neste ano, 19 eram ocupados por liberais, o que ampliou o campo de oportunidades conservador. Além disso, a chance dos democratas virarem os dez assentos republicanos restantes e mesmo alguns dos independentes é pequena.
Um caso emblemático nesse sentido é o da Virgínia Ocidental. O ex-presidente e atual candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano, Donald Trump, ganhou no estado em ambas as eleições de 2016 e 2020. A decisão do independente Joe Manchin 3º de deixar o Senado fez com que a tomada de seu assento por conservadores seja praticamente certa, com o candidato republicano, Jim Justice, somando 62% das intenções de voto na pesquisa mais recente no estado, contra 28% do democrata Glenn Elliot.
Já no caso da Câmara, a corrida é mais difícil de prever, uma vez que todos os seus 435 assentos estão em disputa. Um modelo do FiveThirtyEight indicou, porém, que os republicanos têm mais chances de manter o controle da Casa, tendo sido os favoritos em 529 das mil simulações realizadas, ante 471 simulações em que os democratas ganhavam. Segundo o portal, apenas 25 das contendas são realmente competitivas.
Os resultados das eleições para ambas as Casas farão uma grande diferença na capacidade do próximo presidente dos EUA de governar. Ter o Senado ou a Câmara dominados por uma legenda de oposição em um momento em que as agendas das duas siglas estão tão polarizadas dá margem à paralisação de qualquer iniciativa legislativa.
Da mesma maneira, ter apoio garantido nas Casas representaria grande vantagem para o futuro chefe de Estado. Oliveira afirma que ter maioria no Legislativo permitiria ao líder eleito ir em frente com reformas administrativas radicais, por exemplo. Ele ou ela só teria, afinal, que convencer os moderados dentro do próprio partido a acolher suas ideias, explica.
CLARA BALBI / Folhapress