PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – As primeiras estimativas de participação no primeiro turno das eleições legislativas francesas indicam a menor abstenção dos últimos 40 anos.
Às 17h de Paris (meio-dia em Brasília), 59,4% dos eleitores já tinham comparecido às urnas, contra apenas 39,4% no mesmo horário na eleição anterior, em 2022. Este é o maior índice de participação até 17h desde 1978.
Diante disso, prevê-se que 68,5% votem até o fechamento das urnas deste domingo (30), às 20h locais (15h em Brasília). A última vez que um índice de comparecimento foi tão alto (67,9%) remonta a 1997.
Esse índice é uma demonstração do enorme interesse despertado pelo pleito entre os 49 milhões de eleitores franceses. Existe, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, a possibilidade de que a ultradireita seja o bloco com maior número de assentos na Assembleia Nacional.
Caso isso ocorra, o presidente do Reunião Nacional (RN), maior partido de ultradireita, Jordan Bardella, 28, teria grande probabilidade de se tornar primeiro-ministro. Bardella afirmou, durante a campanha, que só aceitará o cargo se seu partido tiver a maioria absoluta das 577 cadeiras da Assembleia. Ele poderia, porém, atingir essa maioria por meio de alianças com outros partidos de ultradireita, de direita e até do centro.
Bardella votou às 10h (5h em Brasília) em Garches, subúrbio rico da periferia oeste de Paris. Saiu sem dar declarações, porque, por lei, no dia da votação os políticos não podem se pronunciar antes do fechamento das urnas.
O presidente Emmanuel Macron, 46, votou às 12h45 (7h45 em Brasília) no balneário de Le Touquet, no norte da França, onde ele e a mulher, Brigitte, 71, têm uma residência de veraneio, herança do pai da primeira-dama. Depois de votar, Macron passou mais de meia hora conversando e tirando selfies com eleitores e crianças.
Macron anunciou a dissolução da Assembleia Nacional no dia 9 de junho, assim que saíram os primeiros resultados das eleições para o Parlamento Europeu. Nelas, seu partido, Renascimento, ficou em segundo lugar, com apenas 14,6% dos votos, menos da metade dos 31,4% do RN.
A decisão de Macron causou perplexidade até mesmo entre seus aliados. As pesquisas apontam o risco de seu grupo político, hoje dono de quase metade dos assentos, tornar-se apenas a terceira força do parlamento, atrás da ultradireita e dos partidos de esquerda unidos sob a coalizão batizada de Nova Frente Popular (NFP).
Na França, o sistema eleitoral é distrital, majoritário e em dois turnos. O segundo turno está marcado para o próximo domingo, 7 de julho.
O aumento da participação pode fazer com que mais de 80 deputados sejam eleitos já no primeiro turno. A condição para isso é obter um total de votos superior a 50% dos inscritos naquele distrito. Cinco anos atrás, apenas cinco deputados, menos de 1% do total, se elegeram dessa forma.
Outro indicador de uma queda da abstenção é o elevado número de eleitores que pediram para votar por procuração: 2,6 milhões, contra 1 milhão em 2022. Na França, é possível entregar um documento autorizando outra pessoa a votar em seu nome. É provável, porém, que grande parte desse aumento se deva à data dessa eleição fora de época, que coincide com o início das férias de verão na Europa. Nesse período, milhões de franceses tiram férias e deixam as cidades onde votam.
Redação / Folhapress