CAMPO GRANDE, MT (FOLHAPRESS) – Em apenas 13 dias de novembro, o pantanal já registrou 2.387 focos de incêndio. A maioria deles se concentra em Mato Grosso, onde o fogo atinge reservas particulares, áreas de preservação estadual e federal, fazendas e terra indígena.
No bioma, pelo menos 852 mil hectares foram consumidos pelo fogo e, com a onda de calor atuando sobre o país, com temperatura acima dos 40°C, a tendência é que a situação se agrave.
De acordo com os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Mato Grosso reúne 1.642 focos de incêndio, e Mato Grosso do Sul, 745, todos no pantanal.
No ano passado, em igual período, eram apenas 57 pontos de calor no bioma, nos dois estados.
O presidente da ONG SOS Pantanal, Alexandre Bossi, lembra que, em 2022, o pantanal já estava alagado em novembro, por conta das chuvas que chegaram entre setembro e outubro e isso fez a diferença nos focos detectados. “Este ano é assustador o quão seco está.”
Bossi, porém, reforça que o período seco, agravado pelo fenômeno climático El Niño, tende a se repetir nos anos que estão por vir, e o que precisa mudar é a gestão governamental da situação.
O ambientalista avalia que houve mudança de postura dos governos após os incêndios de 2020, quando 30% do bioma foi afetado pelo fogo, segundo estudo do Inpe, mas que ainda existe caminho a se percorrer, como a criação de política pública interestadual ou federal. “Os estados precisam conversar entre si, articular. Incêndio não respeita divisas”, afirma.
Nesses poucos dias de novembro, a lista de combate ao fogo só aumenta.
O coordenador do Prevfogo, Márcio Yule, órgão ligado ao Ibama (Instituto Brasileiro Natural e de Recursos Renováveis), está na região do Porto Jofre (MT), onde também se concentram esforços de equipes do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Lá fica o Parque Estadual Encontro das Águas que registra focos de incêndio desde 28 de setembro. Em outubro, o fogo foi controlado, mas os pontos de calor ressurgiram, sendo a área de maior atenção no combate.
O governo de Mato Grosso informou ainda que há outras sete frentes de trabalho: bacia hidrográfica do Rio Sararé, região de Mimoso, comunidade São Pedro de Joselândia, Fazenda Alvorada do Pantanal, fronteira com a Bolívia/San Matías, e nas áreas federais Parque Nacional do Pantanal/Reserva do Dorochê e Terra Indígena Portal do Encantado.
Do lado sul-mato-grossense, o fogo também chegou. Yule cita as chamas no Parque Estadual do Rio Negro, próximo da BR-262. O governo vai decretar situação de emergência em 13 cidades.
Neste local, conforme dados do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, a frente de fogo avançou cerca de 20 quilômetros da noite de domingo (12) para manhã de segunda (13). O avião de combate Air Tractor está em operação nesta região.
O coordenador do PrevFogo cita também outro foco, vindo de Mato Grosso, das margens do rio São Lourenço, que “pulou” o curso d’água.
Na semana passada, incêndio também foi registrado na RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) do refúgio ecológico Caiman, próximo da fazenda Carandazal. Ali, segundo ele, foi controlado e espera-se que seja extinto até quinta (16).
“Está muito seco, temos altas temperaturas, mudança de vento constante, baixa umidade, raios, tudo isso favorece fogo”, disse. Apesar da situação alarmante, acredita que não chegue ao patamar de 2020, quando foram queimados 3,7 milhões de hectares do bioma.
Em reunião nesta segunda-feira, o governo de Mato Grosso do Sul decidiu que irá decretar, ainda essa semana, situação de emergência em Corumbá, Ladário, Miranda, Aquidauana, Porto Murtinho, Sonora, Rio Verde de Mato Grosso, Coxim, Bodoquena, Jardim, Bonito, Anastácio, Corguinho e Rio Negro.
A medida agiliza a aquisição de equipamentos para combate aos incêndios florestais, como combustível, automóveis e aeronaves.
Dados do sistema Alarmes do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ (Lasa/UFRJ) indicam que o fogo atingiu 852.350 hectares, conforme relatório atualizado até o fim da tarde de segunda.
Em reunião no sábado (11), o MMA (Ministério do Meio Ambiente) anunciou apoio ao governo de Mato Grosso para enfrentar os focos de incêndio, com 43 novos brigadistas e dois helicópteros. O estado já tinha 47 brigadistas e uma aeronave do Ibama. O governo estadual pediu ainda ajuda do Exército, para melhorar a estrutura logística.
SILVIA FRIAS / Folhapress