Em 1ª fala sobre Venezuela, presidente do México se esquiva e diz que será imparcial

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A recém-empossada presidente do México, Claudia Sheinbaum, falou nesta terça-feira (15) sobre a situação da Venezuela. Mas as primeiras declarações sobre o tema desde que ela chegou ao poder, há duas semanas, não avançam em relação à postura que seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, havia adotado.

“Houve um chamado após a eleição na Venezuela para que os resultados fossem transparentes. A partir de agora, nós vamos nos manter, digamos, imparciais diante disso”, respondeu Sheinbaum a uma pergunta sobre o tema em sua longa entrevista coletiva matinal —mais um legado de AMLO, como o ex-presidente era chamado.

Havia certa pressão para que ela se pronunciasse, dada a crise política pela qual a nação sul-americana passa. Desde o pleito, no final de julho, o ditador Nicolás Maduro afirma ter conseguido mais votos que seu principal adversário, Edmundo González. O regime, porém, recusa-se a mostrar as atas eleitorais que comprovariam a vitória, como exige a legislação venezuelana e como a oposição fez.

Diante do impasse, o México chegou a se juntar a Colômbia e Brasil para pedir transparência à Venezuela —o trio de países têm governos de matizes ideológicos semelhantes. No entanto, Obrador desembarcou da iniciativa após o grupo rejeitar uma manobra do ditador, que pediu ao TSJ (Tribunal Supremo de Justiça), controlado pelo chavismo, que certificasse os resultados da eleição.

Desde então, AMLO vinha afirmando que esperaria a publicação das atas eleitorais, sem reconhecer a vitória de nenhum dos lados. Aliado e mentor de Sheinbaum, o ex-presidente também criticou a posição dos Estados Unidos e da OEA (Organização dos Estados Americanos), que questionam a legalidade das eleições.

Nesta terça, a nova líder tampouco afirmou se reconhece o triunfo de Maduro para um terceiro mandato presidencial consecutivo. A presidente disse ainda que a política externa mexicana é guiada pelo princípio do respeito à livre autodeterminação dos povos.

A oposição venezuelana assegura que González, exilado na Espanha após ser ameaçado de prisão em seu país natal, venceu as eleições com 67%. A vitória é corroborada por institutos como o Carter Center —o maior e um dos únicos observadores independentes da eleição presidencial na Venezuela.

A declaração de Sheinbaum coincide com a divulgação de um novo informe da Missão Internacional Independente de Apuração dos Fatos sobre a República Bolivariana da Venezuela —grupo da ONU criado em 2019 para investigar violações de direitos humanos no país.

De acordo com a investigação, entre os dias 1º de setembro de 2023 e 31 de agosto deste ano, houve detenções arbitrárias, tortura, desaparições forçadas de curta duração e violência sexual na Venezuela —violações que são parte de um plano coordenado para silenciar opositores. Há crianças, adolescentes e pessoas com deficiência entre as vítimas, segundo o documento.

A missão afirma ainda que ao menos 25 pessoas foram mortas durante os primeiros dias de protestos após as eleições, incluindo as de duas crianças, e há relatos de maus tratos nas prisões.

“Os métodos de tortura utilizados nos casos investigados incluem socos, golpes com tábuas de madeira ou com bastões envoltos em espuma, choques elétricos, inclusive nos genitais, asfixia com sacos plásticos, imersão em água fria e privação forçada de sono por meio de iluminação e/ou música em volume alto 24 horas por dia”, afirma o documento.

Redação / Folhapress

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