Em ato preconceituoso, pastor diz que autismo é ‘visita do diabo no ventre’

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um pastor da Assembleia de Deus foi alvo de críticas nas redes sociais após dizer que o TEA (Transtorno do Espectro Autista) é resultado de uma ”visita do diabo no ventre” da mãe ainda na gravidez durante um culto em Tucuruí (PA)

”O diabo está visitando o ventre das desprotegidas”, disse o pastor Washington Almeida. A fala preconceituosa ocorreu durante um culto na Assembleia de Deus em Tucuruí, na última sexta-feira (12). Desde então, o vídeo da pregação passou a circular nas redes sociais.

O líder religioso falava para os fiéis que muitos bebês estão nascendo com o Transtorno. ”Em cada 100 crianças que nasce, nós temos um percentual gigantesco de pessoas em ventres visitadas e manipuladas pela escuridão. As crianças hoje, a cada 100, nós temos 30 de autistas, em vários graus”, afirmou.

O pastor ainda tenta explicar por que isso estaria ocorrendo. ”O que está acontecendo? O diabo está visitando o ventre das desprotegidas, aqueles que não tem a graça, a instrumentalidade para saber lidar com o mundo espiritual. E ele [diabo] só procura os vulneráveis, os desassistidos”, finaliza.

Declarações preconceituosas e capacitistas geraram revolta. ”Tem que responder criminalmente”, escreveu uma pessoa nas redes sociais. ”Propagando desinformação, e fazendo exatamente o que Jesus não faria. Eu como mãe atípica e cristã há 27 anos me envergonho e me entristeço muito com essas falas desrespeitosas”, comentou outra.

Washington publicou um pedido de desculpas na noite de terça (16). ”Estou aqui para me retratar de uma fala enquanto eu ministrava, quero me retratar com os autistas, com os pais de crianças autistas. Fui muito infeliz quando fiz uma colocação e esse não é o meu caráter, meu perfil. Jamais no meu coração passam coisas dessa natureza. Naquele calor da mensagem, falei algo que não podia dizer, não devia falar”, disse em vídeo.

FRASE CAPACITISTA

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento. O TEA não é uma doença, mas uma deficiência, como reconhece a lei 12.764/2012 -chamada Lei Berenice Piana.

Transtorno é condição permanente e não tem cura. É possível estimular o desenvolvimento dos autistas por meio de acompanhamento de uma equipe multidisciplinar especializada, mas ninguém deixa de ser autista.

Ministério da Saúde afirma que se trata de “um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento”. Condição interfere na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento’, esclarece o Órgão.

Redação / Folhapress

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