CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Os dois candidatos que seguem na corrida à Prefeitura de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB), experimentam estratégias para ficar com o voto do eleitorado de direita, disputado por ambos.
Na campanha do candidato do PSD, as figuras do prefeito Rafael Greca (PSD) e do governador Ratinho Junior (PSD), frequentes no primeiro turno, agora aparecem menos na propaganda de televisão.
A estratégia de Pimentel é reduzir o peso dos padrinhos políticos na disputa e amenizar a relevância do aceno que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez a Cristina, na véspera das urnas do primeiro turno.
“A eleição não é sobre Greca, não é sobre Ratinho, é sobre você [eleitor]”, iniciou a primeira peça da nova campanha.
Formalmente, Pimentel tem o PL na sua chapa, com o ex-deputado federal Paulo Martins como candidato a vice-prefeito. Martins, contudo, quase não apareceu na campanha de primeiro turno. Agora, no segundo turno, também não pode ser aproveitado, depois de vídeo divulgado por Cristina às vésperas do primeiro turno, em que ela aparece recebendo a torcida de Bolsonaro.
Sem novos apoios no segundo turno, Cristina se agarra ao vídeo com o ex-mandatário e também ao discurso da candidata que briga contra o sistema, que não teria estrutura para fazer campanha nem alianças que depois resultariam em indicações políticas para cargos técnicos.
Informalmente, contudo, Cristina tem o apoio de uma fatia do União Brasil. As lideranças da sigla não chegaram a um consenso sobre quem deveriam apoiar no segundo turno, optando oficialmente pela neutralidade.
A chapa do União Brasil era encabeçada pelo deputado estadual Ney Leprevost e tinha a deputada federal Rosângela Moro como vice. Os dois romperam depois de amargarem o quarto lugar na disputa, com 6,49% dos votos.
Já Pimentel, para garantir o apoio do eleitorado da direita, recorreu ao ex-procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol (Novo), cujo partido integra a sua coligação.
Deltan, que antes do período eleitoral participava de programas ao lado de Cristina no site Gazeta do Povo, fez um vídeo em que apela para o eleitor votar no seu aliado.
Em seu depoimento, além de dizer que Pimentel “participa de grupos de estudos bíblicos e de oração, é marido e pai dedicado”, o ex-procurador afirmou que não vê Cristina como uma gestora pública e que seu candidato a vice-prefeito é “um grande problema”.
Jairo Filho (PMB) é alvo de processos judiciais movidos por pessoas que perderam dinheiro em negócios com aparência de pirâmide financeira. Ele nega ter praticado ilegalidades, mas se tornou um dos maiores desgastes da campanha de Cristina.
Além de reforçar o apoio de Deltan, Pimentel optou por não explorar os apoios oficiais recebidos de candidatos que saíram derrotados no primeiro turno. A ideia é não alimentar o discurso da adversária de que ele é o “candidato do sistema”, respaldado por fundos de partidos e pelas máquinas municipal e estadual.
Maria Victoria (PP) e Luizão Goulart (Solidariedade), que juntos somaram 6,6% dos votos no primeiro turno, declararam apoio a Pimentel no segundo turno.
As legendas de esquerda, por sua vez, preferiram a neutralidade no segundo turno e recebem pouca atenção das campanhas, focadas no eleitor da direita.
Ainda assim, a principal candidatura do campo da esquerda, do deputado federal Luciano Ducci (PSB), obteve quase 20% dos votos, ficando em terceiro lugar, e seus votos podem ter peso em uma disputa que segue acirrada.
No primeiro turno, Pimentel teve 33,5% dos votos, contra 31,2% de Cristina. Na primeira pesquisa Quaest do segundo turno, divulgada neste sábado (19), ele aparece com 42% das intenções de voto, em empate técnico com ela, que surge com 39%.
Na esquerda, tem prevalecido uma discussão entre votar nulo ou votar em Pimentel, um candidato que militantes consideram “menos pior”.
Eles o consideram um nome da “direita tradicional”, enquanto Cristina é da “direita radical” e segue à risca a cartilha do bolsonarismo, incluindo a bandeira antipetista.
Entre as lideranças petistas, o deputado federal Zeca Dirceu se manifestou publicamente contra a Cristina, que representaria “a negação da política, do ser humano, da ciência e da empatia com as necessidades do povo”.
“Um perigo para a nossa capital”, escreveu ele, em uma rede social.
Ciente da rejeição do eleitorado da esquerda ao seu nome, Cristina tem tentado associar o PT à candidatura de Pimentel, na tentativa de afugentar o voto de direita.
O deputado estadual Renato Freitas (PT) disse nesta segunda-feira (21) que estuda medidas jurídicas contra a candidata por associá-lo à candidatura do candidato do PSD.
“Tanto Cristina quanto Pimentel representam a direita, o conservadorismo e o retrocesso na conquista de direitos para as pessoas pobres e negras. São duas faces da mesma moeda, que disputam o apoio do bolsonarismo com aliados diferentes, mas com o mesmo projeto excludente e higienista da sociedade”, afirmou.
CATARINA SCORTECCI / Folhapress