Em discurso de despedida, Biden alerta para oligarquia chegando ao poder nos EUA

WASHINGTON, EUA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Joe Biden fez nesta quarta-feira (15) seu último discurso à nação na Casa Branca e alertou para o que chamou de “oligarquia não eleita” chegando ao poder nos Estados Unidos.

O democrata fez referência à necessidade de defender a democracia em diversos momentos ao longo dos cerca de 20 minutos de fala. Biden não mencionou o nome de Donald Trump, mas deixou implícita a preocupação com o fato de o republicano estar rodeado de bilionários, como o empresário Elon Musk.

“Quero alertar o país sobre algumas coisas que me preocupam muito. Há uma perigosa concentração de poder nas mãos de pouquíssimas pessoas extremamente ricas”, disse. “Hoje, está se formando na América uma oligarquia de riqueza, poder e influência extremas que literalmente ameaçam toda a nossa democracia, nossos direitos e liberdades básicos e uma chance justa para todos progredirem.”

Sem citar Trump, Biden também insistiu que a população precisa ficar atenta a abusos de poder e defendeu que não haja impunidade para presidentes. “Precisamos fazer emendas à Constituição para deixar claro que nenhum presidente está imune aos crimes que ele ou ela comete enquanto está no cargo.”

A Suprema Corte dos Estados Unidos chegou a um entendimento segundo o qual presidentes têm ampla imunidade por crimes cometidos durante o mandato depois que eles deixam o poder. Essa tese beneficiou Trump, acusado de uma série de crimes, inclusive de tentar subverter o resultado eleitoral de 2020.

Biden fez ainda referência ao “complexo tecnológico-industrial” e disse estar preocupado com o avanço da desinformação no país -o uso do termo é uma referência ao célebre discurso do presidente Dwight Eisenhower, no poder de 1953 a 1961, no qual alertou para os perigos do complexo militar-industrial.

“Os americanos estão sendo soterrados por uma avalanche de desinformação e informações falsas que permitem o abuso de poder. A imprensa livre está desmoronando. As redes sociais estão desistindo de checar os fatos”, disse, dias depois de a Meta ter anunciado o encerramento do programa de verificação de fatos da gigante que detém o Facebook e o Instagram.

“A verdade é sufocada por mentiras contadas por poder e lucro. Devemos responsabilizar as plataformas sociais para proteger nossas crianças, nossas famílias e nossa própria democracia do abuso de poder”, alertou Biden.

O presidente iniciou a fala, transmitida ao vivo pelos canais de televisão, ressaltando o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza entre Hamas e Israel, anunciado nesta quarta e que deve entrar em vigor no próximo domingo (19).

O presidente relembrou que o acordo fechado nesta quarta foi proposto em rascunho apresentado por sua gestão em maio deste ano -ao longo do dia, Biden tentou reivindicar para si o crédito da conclusão das negociações enquanto Trump fazia o mesmo.

Depois, Biden perpassou uma série de assuntos que foram temas na sua administração, entre eles a aprovação de uma legislação que busca brecar a violência cometida por armas. “Demorará para sentir o impacto do que fizemos, mas as sementes foram plantadas e crescerão por décadas”, disse.

Ao concluir o discurso, Biden enfatizou sua visão do que constitui os Estados Unidos: “Uma chance justa é o que faz da América a América. Todos têm direito a essa chance. E acredito que a América dos nossos sonhos sempre está mais próxima do que pensamos.”

Ao encerrar sua fala, Biden agradeceu, em tom que beirou o melancólico, uma série de pessoas envolvidas com seu governo: seus assessores, as Forças Armadas, e Kamala Harris. “Uma vice-presidente histórica que virou família para mim, e família é tudo”.

O presidente concluiu dizendo que, depois de décadas na vida pública, ainda acredita no país. “Acredito que o caráter do nosso povo importa e deve ser resguardado. Agora, é a vez de vocês de fazer a vigília pela democracia. Eu amo a América, e vocês também amam. Obrigado por essa grande honra, e que Deus abençoe nossas tropas.”

JULIA CHAIB E VICTOR LACOMBE / Folhapress

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