Em evento com Dilma, Xi diz que Sul Global precisa ter mais voz em diálogos de paz

PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O líder Xi Jinping defendeu nesta sexta-feira (28) em Pequim, na China, uma maior participação do chamado Sul Global nos esforços conjuntos internacionais por paz.

Foi durante a comemoração dos 70 anos dos Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, que guiam a política externa chinesa, falando a dezenas de convidados, entre elas a ex-presidente Dilma Rousseff, que comanda o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD ou Banco do Brics).

“De todas as forças no mundo, o Sul Global se destaca com um ímpeto forte, desempenhando um papel vital em promover o progresso humano”, disse o dirigente.

“Juntos, devemos ser força estabilizadora para paz. Devemos promover a solução pacífica de divergências e disputas entre países, participar de forma construtiva da solução política das questões candentes internacionais e regionais.”

Sul Global é um termo impreciso que busca agrupar países da América Latina, África e parte da Ásia, em meio aos movimentos de polarização no mundo.

“Devemos participar ativamente da reforma do sistema de governança global, trabalhar para ampliar os interesses comuns de todas as partes, tornar a arquitetura de governança global mais equilibrada e efetiva”, declarou Xi.

O líder chinês anunciou algumas medidas “para melhor apoiar a cooperação do Sul Global”, entre elas “estabelecer um centro de pesquisa do Sul Global, oferecer mil vagas de bolsa de excelência dos Cinco Princípios de Coexistência Pacífica e cem mil oportunidade de formação em cinco anos”, além de “iniciar um programa de jovens líderes do Sul Global”.

“A China gostaria de negociar com mais países do Sul Global sobre os arranjos de livre comércio”, afirmou. “De agora até 2030, a expetativa é que o volume total de importação da China dos países em desenvolvimento ultrapassará US$ 8 trilhões”.

Além de Dilma, estavam no Grande Salão do Povo, na praça da Paz Celestial, convidados como Dominique de Villepin, ex-primeiro-ministro da França; Nong Duc Manh, ex-secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã; Graham Allison, professor da Universidade Harvard, e Yang Jiechi, ex-chanceler e ex-diretor da Comissão de Assuntos Estrangeiros do PC da China.

Na sequência, o evento se transferiu para a chamada Casa de Hóspedes Diaoyutai, um parque fechado também no centro de Pequim.

Em discurso, o chanceler Wang Yi disse que “a grande causa da construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade é inseparável do apoio e da participação de todas as forças progressistas do mundo, e o Sul Global precisa estar na vanguarda”.

Não foi mencionada a proposta para a Guerra da Ucrânia que Wang e o assessor especial de Lula, Celso Amorim, anunciaram há um mês, na mesma Diaoyutai, com passagens que remetem aos Cinco Princípios de Coexistência Pacífica –a começar do respeito pela integridade territorial, central no caso ucraniano.

Xi, em seu pronunciamento, havia citado a “busca de soluções” pela China para a “crise da Ucrânia, o conflito palestino-israelense, a península coreana, Irã, Mianmar e Afeganistão”.

Dilma, Villepin e Manh também discursaram na Diaoyutai, local simbólico por ter sediado, entre outras, as negociações de 1971 entre o então primeiro-ministro Zhou Enlai e o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Henry Kissinger, que abriu caminho para a aproximação entre os dois países.

Na presidência do NBD, ligado ao grupo Brics e sediado em Xangai, a ex-presidente brasileira disse que “o mundo está enfrentando desafios sem precedentes, e a importância dos Cinco Princípios ganhou mais destaque”, assim como a proposta de Xi de “construir uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade”.

Segundo Dilma, “a cooperação Sul-Sul é um modelo de respeito, igualdade e benefício mútuo”, que “ajuda a promover um equilíbrio multipolar no mundo”.

Os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica foram apresentados por Zhou Enlai em 1954, num encontro com uma delegação indiana, e teriam sido a base para o chamado Movimento Não Alinhado. Eles foram acrescentados à Constituição chinesa. São eles: respeito mútuo pela soberania e integridade territorial, não agressão mútua, não interferência nos assuntos internos uns dos outros, igualdade e benefício mútuo e coexistência pacífica.

NELSON DE SÁ / Folhapress

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