SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A aglomeração de usuários que frequentam a cracolândia ganhou cerca de 300 novos frequentadores nos últimos três meses. Portal da Secretaria estadual de Segurança Pública apontou nesta semana uma média de 1.100 pessoas por dia, em abril, eram 800, aproximadamente.
Em junho do ano passado, o então secretário municipal responsável pelo assunto, Alexis Vargas, disse que havia 400 pessoas no fluxo (como é chamada a concentração de dependentes químicos).
Na época, grupos de usuários se dispersavam por uma área mais ampla do centro do que atualmente. Antes, ao menos oito ruas eram afetadas pela movimentação dos dependentes químicos e, agora, há concentrações maiores limitadas às ruas dos Gusmões e dos Protestantes.
Procurado, o titular da 1ª Delegacia Seccional do Centro, Jair Ortiz, atribuiu o aumento atual de usuários da cracolândia à presença de pessoas que vêm de outros bairros e até de outros municípios em busca de droga no local. Segundo ele, há uma investigação em curso para identificar essa chegada de novos frequentadores.
Indicado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como coordenador no âmbito estadual do tema cracolândia, o vice-governador Felicio Ramuth (PSD) tem se recusado a conceder entrevistas para falar sobre o tema. A reportagem formalizou três pedidos nesta semana e nenhum foi atendido.
Segundo a assessoria de imprensa, os pedidos foram feitos em dias em que o vice estava em agendas no interior do estado e, por isso, não pôde atender. Nesta segunda-feira (10), Ramuth deu entrevista a um portal de notícias do Vale do Paraíba sobre reforma tributária. Ex-prefeito de São José dos Campos, o vice-governador tem sua base eleitoral na região.
Ramuth não tem comparecido a reuniões semanais de membros da segurança pública sobre o assunto. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem sido o único representante do Executivo nos encontros.
Na segunda-feira (10), Tarcísio deixou uma entrevista coletiva sem falar com os jornalistas quando foi informado de que seria questionado sobre cracolândia.
É de praxe do governador responder a perguntas de veículos de imprensa sobre os assuntos do dia ao final de anúncios oficiais. Na ocasião, o tema da coletiva era o lançamento do programa Provão Paulista.
Dois dias antes, no sábado (8), a aglomeração de usuários de drogas foi escoltada por um forte aparato policial para uma ponte no Bom Retiro. A operação havia sido organizada dois dias antes, na quinta-feira (6), na tentativa de retirar a cracolândia das ruas da região central.
A estratégia, porém, não durou nem 24 horas e, no dia seguinte, a cracolândia estava formada novamente na rua dos Protestantes, no centro.
Na terça-feira (11), o fluxo de usuários foi alvo de uma nova operação policial após um grupo da cracolândia depredar um ônibus e um caminhão de bebidas na praça Júlio de Mesquita a poucos metros do ponto de concentração de dependentes químicos.
Houve confronto entre usuários e policiais que usaram bombas de efeito moral para dispersar a multidão. A confusão assustou comerciantes e pessoas que andavam pelas ruas da Santa Ifigênia, conhecido ponto de comércio eletrônico na capital.
Um dia depois o tráfico voltou a controlar o trecho da rua dos Gusmões, esquina com a avenida Rio Branco, ponto fixo da cracolândia há cerca de três semanas. Barracas e guarda-sóis foram montados pelo crime organizado. Os equipamentos são um indício que o tráfico de drogas segue dominando a região, já que são usados para manter a venda e o consumo de crack escondidos das forças de segurança.
Mais uma vez o vice-governador foi procurado para comentar o assunto, mas não atendeu o pedido de entrevista. No dia seguinte, Ramuth passou o dia no Palácio dos Bandeirantes e recebeu representantes da Câmara Municipal de Caraguatatuba, da Prefeitura de São Carlos, de Itatiba e de Paraibuna, além da Princesa do Chocolate de Ribeirão Pires, acompanhada do prefeito Guto Volpi (PL), que lhe entregou o convite para a festa temática no município.
O Palácio dos Bandeirantes foi procurado nesta quinta para comentar o assunto, mas não respondeu.
MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress