Em meio a estragos eleitorais, imigração ilegal despenca na Europa

BERLIM, ALEMANHA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O número de apreensões relacionadas à imigração ilegal na União Europeia caiu 42% nos primeiros nove meses de 2024, divulgou nesta semana a Frontex, agência do bloco dedicada ao controle de fronteiras. O fenômeno ocorre no momento em que o assunto domina o debate eleitoral no continente, com o endurecimento de discursos e medidas de fiscalização.

Até setembro, 166 mil detenções foram realizadas em tentativas de travessias ilegais. As quedas mais acentuadas em relação ao mesmo período de 2023 ocorreram nas rotas pelos Balcãs e pelo Mediterrâneo Central, 79% e 64%. Em compensação, a rota terrestre pelo leste do continente e pela África Ocidental tiveram incremento de 192% e 100%, respectivamente. Lideram a lista de apreendidos cidadãos de Síria, Mali e Ucrânia.

No mesmo momento em que os números foram divulgados, Ursula von Der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, defendeu o modelo de “centro de detenção externo”, como o adotado pela Itália em parceria com a Albânia, em carta endereçada a líderes europeus. Um encontro para discutir o assunto está marcado para quinta (17) e sexta-feira (18).

A imigração ilegal ao continente está em declínio há alguns anos, mas o tema domina o debate público e as disputas eleitorais em diversos países. Em setembro, a Alemanha, em um movimento radical, intensificou seu controle local de fronteiras e abriu uma crise no bloco. A coalizão formada pelo governo Olaf Scholz derrete nas pesquisas de intenção de voto, e a reação de evidente cunho conservador foi tomada como eleitoreira. A bandeira anti-imigração é um dos principais ativos do AfD (Alternativa para a Alemanha), partido de extrema direita que saiu vitorioso em recente pleito regional.

Agora é Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia, que renova o debate ao suspender o direito de asilo em seu país. No fim de semana, el já havia defendido a drástica decisão, apontando para a divisa com Belarus e uma onda de pedidos de refúgios. Sugerindo uma manobra de desestabilização orquestrada pelo país vizinho e pela Rússia, o premiê afirmou na segunda-feira (14) em rede social que era direito da Polônia defender suas fronteiras e as da Europa. “Segurança não se negocia.”

O centro de detenção na Albânia foi aberto nesta semana. A previsão é que os primeiros detidos, apreendidos em fiscalização no fim de semana no Mediterrâneo, cheguem ao posto nesta quarta-feira (10 de Bangladesh e 6 do Egito). São três instalações próximas ao porto de Shëngjin com capacidade para abrigar até 3.000 homens. Mulheres, crianças e pessoas vulneráveis continuam sendo recebidas em Lampedusa, na Itália. Da Albânia, após averiguação da situação legal do apreendido, ocorre a deportação ou, eventualmente, o retorno ao território italiano se o pedido de refúgio for aceito.

Grupos de direitos humanos criticam o acordo, que tem duração de cinco anos, e o consideram ilegal, mas é pouco provável que uma contestação judicial prospere. Pelo contrário, a primeira-ministra Giorgia Meloni já recebe afagos antes improváveis, como o do colega britânico Keir Starmer. O trabalhista repete o antecessor, o conservador Richi Sunak, que tentou um esquema semelhante com Ruanda e foi duramente criticado.

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE / Folhapress

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