SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para salvar o que restou da mata atlântica em São Paulo, indígenas da etnia guarani mbya lutam para aprovar o projeto de lei nº 181/2016, conhecido como Cinturão Verde Guarani, que tramita na Câmara Municipal da capital paulista. O texto busca garantir a preservação, recuperação e proteção das florestas e dos recursos hídricos do bioma.
Durante a celebração de dez anos do programa Aldeias, da SMC (Secretaria Municipal de Cultura), realizada na última quarta-feira (8), lideranças dos territórios Jaraguá e Tenondé Porã voltaram a cobrar a aprovação da lei, como forma de evitar o agravamento da crise climática. Elas atribuem as enchentes que afetam o Rio Grande do Sul à devastação nos biomas do Brasil.
Jera Guarani, liderança da aldeia (tekoa) Kalipety, da Terra Indígena Tenondé Porã, ressalta que não é de hoje que os povos indígenas alertam sobre as mudanças climáticas e sobre a necessidade de proteção do meio ambiente como alternativa para diminuir os efeitos dos desastres naturais. Para ela, os indígenas sofrem as consequências por não serem ouvidos e perdem suas casas e todos os seus bens.
Nesta campanha, a indígena conta que atua junto à Comissão Guarani Yvyrupá, composta por lideranças dos povos guaranis que vivem no Sul e no Sudeste, nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Mais de 8.000 famílias indígenas foram afetadas pelas enchentes no estado gaúcho.
“A gente lamenta demais o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, porque todas essas situações são respostas da natureza. Acontecem por conta da destruição, do desmatamento. Os parentes guaranis estão sofrendo lá, mesmo que não tenham nenhuma culpa nesta história”, diz.
“Isso está sendo dito, falado, gritado, manifestado já há muito tempo, por muitos líderes e movimentos indígenas, e também por movimentos de não indígenas, especialistas nas áreas de estudo do aquecimento global”, completa.
A liderança guarani relata que o Cinturão Verde não custaria tanto aos cofres públicos, considerando que São Paulo é a metrópole com a maior economia da América do Sul. Ela destaca a importância de manter a área conservada para, também, assegurar a continuidade da cultura guarani, que rege o modo de vida do povo, a crença, a saúde e a educação.
“O PL é voltado para proteger pedaços pequenos que restaram da mata atlântica e, nesta crise global, é uma necessidade real de preservar o pouquinho do bioma para continuar neste planeta. Seria muita arrogância ou algo não inteligente não aprovar essa lei.”
Sem previsão de aprovação do projeto de lei, que tramita desde 2016 no Legislativo municipal, o programa Aldeias tenta cumprir esse papel de manter a cultura guarani no pouco de terra que sobrou da mata atlântica, destaca o professor Tupã Jurandi, da Terra Indígena Jaraguá a menor do Brasil, localizada na zona noroeste da capital paulista.
O educador explica que, antes do programa, os guaranis mbya tinham dificuldade de acessar recursos para manter o plantio para reflorestamento. Outro ponto foi a possibilidade de desenvolver meliponicultura criação de abelhas sem ferrão, que estavam praticamente extintas em São Paulo. O mel dessa espécie de abelha é usado em rituais tradicionais.
“Hoje a gente consegue fazer reflorestamento, construção de casas de reza, que fortalecem a nossa cultura, e também o fortalecimento de muitas coisas que já eram difíceis de praticar, devido à aproximação com as cidades de São Paulo, como o batismo do mel”, cita.
O programa da Secretaria Municipal de Cultura tem o objetivo de fortalecer e promover expressões culturais tradicionais. A implantação se deu por meio da contratação de agentes culturais em editais e também com parceria com o CTI (Centro de Trabalho Indigenista).
JORGE ABREU / Folhapress