GENEBRA, SUÍÇA (FOLHAPRESS) – Em meio a um momento doméstico conturbado, o presidente Lula participa nesta quinta-feira (13) de um fórum internacional em Genebra, na Suíça, com apenas dois chefes de Estado: ele mesmo e o presidente do Nepal, Ram Chandra Paudel. Também fará uma homenagem ao escritor brasileiro Paulo Coelho, radicado no país europeu.
Com a viagem presidencial ao exterior, devem ficar em suspenso questões delicadas, como o futuro do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil-MA), indiciado em uma investigação de desvio de recursos para a pavimentação de estradas; e o desgaste do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após derrotas no Congresso, como a devolução da medida provisória que compensaria a perda de arrecadação com a desoneração da folha de pagamento de diversos setores da economia.
O evento de que Lula participa, na sede da ONU, é o primeiro fórum da Coalizão Global pela Justiça Social, uma iniciativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O presidente fará um dos discursos de encerramento.
O recém-criado fórum reúne representantes de governos, empregados e empregadores na busca de soluções concretas para problemas que afetam trabalhadores do mundo inteiro, como o impacto das mudanças climáticas e de novas tecnologias, como a inteligência artificial.
O presidente aproveitará o discurso na ONU para reforçar pautas prioritárias da política externa brasileira, como a taxação dos super-ricos e o combate global à fome. O país ocupa até o final de novembro a presidência rotativa do G20, grupo que reúne os países mais industrializados, a União Europeia e a União Africana.
A etapa suíça da viagem de Lula à Europa vai durar menos de 24 horas. Sua chegada a Genebra estava prevista para as 6h40 locais desta quinta-feira (1h40 da manhã de Brasília), acompanhado da primeira-dama, Janja, e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Às 21h30 locais (16h30 de Brasília), a comitiva embarca para a Itália.
Na região italiana da Puglia, Lula participa, como convidado, da cúpula do G7, reunião de líderes de sete grandes economias do mundo (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Canadá e Itália), mais a União Europeia.
Em Genebra, além do discurso no evento da OIT, Lula terá um encontro bilateral com a presidente da Confederação Suíça, Viola Amherd, no hotel Presidente Wilson, um cinco-estrelas à beira do lago Léman.
No final da tarde, o presidente participa de uma homenagem a Paulo Coelho, o lançamento de um selo celebrando os 35 anos da publicação do best-seller “O Alquimista”. A rigor, o selo foi lançado pelos Correios em 2023 (o livro data de 1988). A cerimônia de que Lula participará será a chamada obliteração, que é a aplicação de um carimbo especial comemorativo sobre um exemplar do selo.
O evento, seguido de jantar, será na residência oficial do representante permanente do Brasil junto ao Escritório das Nações Unidas em Genebra, o embaixador Tovar da Silva Nunes.
Lula foi convidado pelo diretor-geral da OIT, o togolês Gilbert F. Houngbo, para atuar como copresidente da recém-criada coalizão. Segundo uma fonte do Itamaraty, embora o convite para participar do fórum tenha sido feito meses atrás, a escala na Suíça só foi confirmada no final da semana passada, devido à conjuntura política e às enchentes no Rio Grande do Sul.
O fórum desta quinta-feira, realizado dentro da 112ª Conferência Internacional do Trabalho, é de nível ministerial. Além de representantes de trabalhadores e empregadores, participam ministros do Trabalho de dezenas de países, entre eles o do Brasil, Luiz Marinho. Ele discursou na sessão desta quarta-feira (12), antecipando boa parte dos temas do discurso de Lula.
“No ano passado, o presidente Lula sancionou a lei sobre a taxação de fundos exclusivos. Mas entendemos que é preciso mais: temos de taxar globalmente as grandes fortunas. Não falta riqueza no mundo, falta distribuição justa desta riqueza”, disse Marinho.
Em seu discurso, o ministro também mencionou as medidas tomadas pelo governo para mitigar o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul. E defendeu, em nome do Brasil, a inclusão da Palestina entre os países-membros da OIT.
Um dos integrantes da delegação brasileira ao evento da OIT, Gedeão Pereira, vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), causou um mal-estar na segunda-feira ao afirmar que não há trabalho escravo no Rio Grande do Sul. Pereira participa do fórum como representante dos empregadores. Nos últimos anos, diversas operações da Polícia Federal resgataram trabalhadores em situação de escravidão em fazendas gaúchas.
Estará presente na ocasião do discurso de Lula o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais. Nesta quarta, Amorim também discursou na ONU em Genebra, em outro evento, comemorativo dos sessenta anos da UNCTAD, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.
De acordo com os registros da Presidência, esta será a primeira vez que Lula vai a uma conferência da OIT em Genebra desde 2003, em seu primeiro mandato.
Sua ausência em outro evento importante na Suíça nos próximos dias terá um impacto diplomático maior. A Ucrânia fará no sábado (15) e no domingo (16) uma conferência em que serão discutidos os termos propostos por Kiev na prática, exigidos para o fim da guerra contra a Rússia. O Brasil foi um dos 160 países convidados, mas Lula não vai ao evento sob a justificativa de que, sem Moscou a quem Kiev não convidou, por motivos óbvios, não há como discutir o fim do conflito no Leste Europeu.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress