BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) reuniu-se com 38 ministros nesta segunda-feira (13) e cobrou unidade no discurso e nas ações para combater a tragédia que assola o Rio Grande do Sul.
Na ocasião, tanto o presidente como o ministro Rui Costa (Casa Civil) apontaram problemas em comportas no Rio Grande do Sul, em referência ao sistema de combate às cheias da capital Porto Alegre, para justificar a dimensão da catástrofe.
Segundo dois participantes da reunião, Rui disse que havia 23 comportas no estado que atuariam para evitar as enchentes, mas apenas uma teria funcionado. Caso elas estivessem em bom estado, apontou o ministro, a tragédia poderia ter sido menor.
Ele disse que, mesmo com o alto nível da água, ela não ultrapassou a marca de 6 metros do muro de contenção. No entanto, por falhas de manutenção, a água teria entrado por brechas na parte de baixo.
Mais cedo, Lula já havia abordado esse tema ao afirmar que as inundações que atingem a capital gaúcha e praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul não foram apenas “fenômeno da chuva”. O mandatário sugeriu que as enchentes também foram causadas por falta de manutenção no sistema de comportas.
“Esse fenômeno que aconteceu, sabe, me parece que não foi só o fenômeno da chuva, me parece que tem o fenômeno também das pessoas que não cuidaram das comportas que deveriam ter cuidado há muito tempo”, afirmou o presidente na abertura do encontro.
“Mas tudo isso é um problema a ser resolvido daqui para frente. E nós vamos tentar apresentar a nossa contribuição ao povo do Rio Grande do Sul, inclusive apresentando uma discussão nacional sobre a questão de resolver definitivamente as enchentes na cidade de Porto Alegre e na região metropolitana”, acrescentou.
A fala acontece no momento em que especialistas apontam falhas no funcionamento das comportas. Administrado pela Prefeitura de Porto Alegre, atualmente sob o comando de Sebastião Melo (MDB), o sistema de proteção contra cheias da cidade é composto por 68 km de diques de terra; 2,65 km de muro na avenida Mauá, no centro; e 14 comportas e diversas casas de bomba espalhadas pelo município.
Na reunião ministerial, o chefe da Casa Civil afirmou ainda que há intenção do governo de contratar estudo de uma consultoria internacional para fazer o diagnóstico dos problemas no estado e apontar soluções. Uma das funções desse levantamento seria analisar a viabilidade da construção de um canal de escoamento a contratação deve ser acertada pelo Ministério dos Transportes.
Durante sua fala na reunião, Rui também mencionou que o governo estuda comprar imóveis que estejam em construção no Rio Grande do Sul e em áreas não atingidas pela enchentes para oferecê-los no programa Minha Casa Minha Vida.
A proposta é do Ministério das Cidades e será discuta ao longo da semana com a Casa Civil. Segundo integrantes do governo, uma ideia na mesa é que o governo subsidie esses imóveis a moradores que perderam suas casas. Os detalhes ainda serão debatidos.
Durante a reunião, poucos ministros falaram. Um deles, Fernando Haddad (Fazenda), ressaltou as medidas econômicas que o governo articula para ajudar o Rio Grande do Sul.
De acordo com um participante, Haddad citou que a soma do dinheiro que o Executivo federal enviará aos gaúchos e do alívio com a suspensão da dívida do estado resultaria em cerca de R$ 23 bilhões para o Rio Grande do Sul investir em reconstrução em três anos.
Ricardo Lewandowski (Justiça), José Múcio (Defesa), Waldez Goés (Transportes) e Paulo Pimenta (Comunicações) também apresentaram balanços sobre ações no estado.
O tom da reunião teria sido sobretudo de alinhamento de discursos. No começo e no final do encontro, Lula cobrou dos auxiliares que combinem as medidas antes de anunciá-las.
Sobre essa questão, Rui Costa, segundo relatos, mencionou que o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) deu uma declaração sobre o aeroporto de Porto Alegre que depois acabou desmentida pela concessionária que administra o local que está embaixo d’água. A fala não teria sido em tom de bronca, mas para alertar o cuidado que é preciso ter.
JULIA CHAIB E RENATO MACHADO / Folhapress