SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O embaixador estava animado quando marcamos a entrevista. “Muito obrigada pela sua gentil atenção”, diz ele à Folha de S.Paulo no primeiro contato, ainda por WhatsApp, para agendar a gravação.
Lim Ki-mo queria se preparar para responder em português, idioma que pratica há três anos, desde que se mudou para o Brasil. Ele é o representante oficial da Coreia do Sul no país e ainda não se sente plenamente confortável para conversar na língua -algo que ninguém diria ao vê-lo entoando versos de clássicos do samba e da MPB.
O diplomata se tornou sensação nas redes sociais ao se apresentar em karaokês cantando “Evidências”, “Cheia de Manias” e “Pense em Mim”, entre outras. A mais recente empreitada foi no início de abril, quando cantou “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, no Samba do Trabalhador, tradicional roda de samba do Rio de Janeiro, e, mais uma vez, viralizou.
“É uma música simples, mas profundamente charmosa. É genial porque descreve os conflitos e hesitações do ser humano entre amor, responsabilidade e desejos pessoais. E os limites da sociedade. Eu amo essa música e a música brasileira”, afirma ele, pausadamente, em português.
O primeiro contato com a cultura brasileira ocorreu há mais 50 anos, ainda em sua cidade natal, a litorânea Busan, onde nasceu em 1965. Ele se lembra de escutar “Garota de Ipanema” nas rádios, assistir a jogos de futebol que aconteciam no Maracanã e beber suco de laranja da marca Tabom. A expressão viralizou depois do comercial do produto e, inclusive, é utilizada até hoje na Coreia para designar quando algo vai bem.
“Já tinha algumas noções básicas desse país tão importante, mas foi quando mudei para cá que comecei a aprender português e cantar músicas brasileiras”, conta Lim. Ele avalia que, como diplomata, precisa ter um contato direto e o mais próximo possível com o povo daqui, para tentar estreitar os 18 mil quilômetros que separam a Coreia e o Brasil. A música foi uma das formas que ele encontrou de fazer isso acontecer.
O impulso passou também pela vontade de mudar uma percepção que acreditava ser negativa dos brasileiros com relação ao país que ele representa. Lim afirma que um brasileiro disse que a Coreia o remetia à guerra entre as Coreias, à questão nuclear com a Coreia do Norte, ao sistema educacional competitivo e ao alto nível de suicídios.
“Ele me disse que, após me ouvir cantar, agora acredita que a Coreia é um país pacífico, feliz, relaxado e livre, como o Brasil. Então eu disse a ele: ‘Bom para você, senhor!’. Isso é contagioso. Quando me apresentei no Rio de Janeiro, virei notícia em um jornal de lá. E ouvi que o presidente coreano também viu uma parte do meu clipe”, comemora, aos risos. Suas cantorias também estimularam uma mulher a se tornar fã de K-pop e K-drama, gênero musical e novela em formato de seriado, respectivamente.
“Ela me disse ‘eu pensava que esses elementos da cultura coreana eram somente para pessoas jovens’. Depois de me ver cantar, ela ficou mais interessada n e se tornou fã
A improvável estrela do samba, como apelidou o jornal britânico The Guardian, diz acreditar que o intercâmbio cultural pode ainda ser interessante para brasileiros e coreanos aprenderam o que há de melhor em cada cultura.
“Gostaria que os coreanos aprendessem com os brasileiros a serem um pouco mais relaxados e felizes”, afirma. “Por outro lado, seria interessante ver os brasileiros entenderem com os coreanos como serem mais tenazes no dia a dia.”
MARIA PAULA GIACOMELLI / Folhapress