Embaixador do Brasil deixa Damasco e aguarda em Beirute para voltar à Síria

SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O embaixador brasileiro em Damasco, André Luiz Azevedo, deixou a capital da Síria na manhã desta segunda (9) acompanhado de dois funcionários administrativos do Itamaraty, de acordo com funcionários do ministério.

O embaixador está no Líbano e a ideia é que ele permaneça por lá até a situação na Síria se estabilizar. O Departamento de Salvaguarda e Segurança das Nações Unidas acompanhou o comboio em que estava o embaixador até a fronteira com o país vizinho.

Alguns funcionários locais da embaixada do Brasil ficaram na Síria, e não haveria mais funcionários brasileiros aguardando para serem retirados da representação brasileira.

A saída do país ocorre em um contexto de grande incerteza em meio à tomada de Damasco por rebeldes e a queda do ex-ditador Bashar al-Assad, que fugiu do país. Nas primeiras horas após o triunfo dos rebeldes, havia relatos de invasões a órgãos públicos e saques.

Segundo a agência Reuters, rebeldes entraram na residência do embaixador da Itália em Damasco para procurar combatentes pró-Assad ou documentos relevantes e dispararam tiros contra uma parede. Eles, no entanto, não feriram o embaixador nem a equipe de segurança, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani. “Eles levaram apenas três carros e foi só isso”, afirmou.

Em Brasília, a embaixada da Síria no Brasil não hasteava a bandeira de duas estrelas usada pela ditadura de Assad na tarde desta segunda. Segundo funcionários da representação, uma nova bandeira, com três estrelas, está sendo confeccionada.

A nova flâmula, nas cores verde, branca e preta, com três estrelas vermelhas, tem sido agitada por rebeldes e pela população em geral após a queda de Assad -ela remete à bandeira da República Síria (1930-1958). A embaixada em Brasília, no entanto, não confirmou se esta será a mesma bandeira hasteada na representação.

De acordo com a agência Reuters, a bandeira usada pelos rebeldes foi hasteada na embaixada síria em Moscou, para onde Assad fugiu e se encontra exilado. Outras representações do país em outras nações, como Espanha, Grécia, Sérvia e Suécia também hastearam a bandeira de três estrelas, segundo a agência.

Rebeldes sírios anunciaram, em uma declaração televisionada no início deste domingo, que derrubaram o regime de Assad, acrescentando que todos os prisioneiros foram libertados após uma ofensiva relâmpago que surpreendeu o mundo e traz temores de uma nova onda de instabilidade em um Oriente Médio assolado por guerras.

Na sequência, o comando do Exército da Síria notificou os oficiais que o regime de Assad havia terminado, disse um oficial sírio que foi informado sobre a medida à Reuters.

A queda de Damasco foi antecedida por rápidos avanços dos insurgentes em diversos pontos do território. Desde a invasão de Aleppo, no norte, no último dia 29, as defesas de Assad desmoronaram. Além dela e de Hama e Homs, foram tomadas Deir al-Zor, no leste, e Quneitra, Deraa e Suweida, no sul.

O futuro do país, por sua vez, continua incerto, e a volatilidade da situação abre a possibilidade de que a guerra civil que matou 500 mil sírios e forçou o deslocamento de outros 6 milhões seja retomada com força total.

Além disso, o HTS é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, e seu líder, Abu Mohammad al-Jolani, é considerado autoritário e extremista, embora tenha insistido que conseguiu transformar a facção em uma força moderada nos últimos anos.

DANIELA ARCANJO E GUILHERME BOTACINI / Folhapress

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