Embraer amplia espaço na Otan com nova venda do KC-390

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fabricante de aviões brasileira Embraer avançou mais uma casa em sua campanha para tornar-se uma das fornecedoras padrão da maior aliança militar do mundo, a Otan, composta por 32 países e liderada pelos Estados Unidos.

Nesta terça (10), o governo da Eslováquia assinou uma carta de intenções para iniciar a negociação de compra de três aviões de transporte multimissão C-390 Millennium. O acerto ocorreu durante visita do premiê do pequeno país europeu, Robert Fico, a Brasília.

Com isso, a Embraer chega a seu sexto parceiro na Otan para o modelo, seja na versão C (só de transporte) ou KC-390, que inclui capacidade de reabastecimento aéreo. Na aliança, o avião foi negociado com Portugal (5 unidades, 1 entregue), Hungria (2 unidades, 1 entregue), Holanda (5), República Tcheca (2) e Suécia (3).

Ainda na Europa, fora da Otan, mas operando muito próximo do clube militar, a Áustria tem uma encomenda negociada de quatro aviões. Fora do continente, a Coreia do Sul comprou estimadas três unidades. Todos os negócios são sujeitos a ajustes de volume e preços.

O KC-390, que já tem 7 das 19 unidades contratadas pela Força Aérea Brasileira em operação, é o mais moderno avião de sua categoria, a de transporte médio, podendo levar até 26 toneladas de carga. O primeiro cargueiro, desenvolvido a partir de um requerimento subsidiado dos militares em 2008, foi entregue em 2019.

Inicialmente, havia dúvidas se o produto emplacaria num mercado dominado pelo venerando Lockheed Martin C-130 Hércules, que voa em diversas versões desde os anos 1950. Só os países europeus da Otan têm uma frota de 116 dessas aeronaves, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

Além de ser um projeto bem mais moderno, a geopolítica falou em favor do KC-390. A guerra iniciada pela Rússia de Vladimir Putin em 2022 na Ucrânia acendeu alertas em toda a Europa, e o continente puxou proporcionalmente o aumento dos gastos militares globais desde então.

A renovação da frota de transporte, assim como a de caça, foi acelerada. Mesmo países que nem sequer tinham aviões da categoria do Hércules, como é o caso da Eslováquia, foram atrás de opções.

Aqui há a curiosidade adicional de que o premiê Fico é um líder próximo de Putin, assim como o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, outro cliente da Embraer. Nenhum dos países operava o americano Hércules, de todo modo.

Os EUA não assistem passivos, buscando emplacar a versão mais recente do seu avião, mas a Embraer tem comido pelas bordas com voracidade. Por evidente, parece improvável que Washington também acabe por adotar o KC-390, dado o protecionismo tradicional e a escala de sua frota, de 326 Hércules em diversas versões.

A volta de Donald Trump ao poder, com sua retórica nacionalista, também dificulta arranjos como aquele no qual caças leves Super Tucano da Embraer foram comprados pelos EUA para serem repassados ao Afeganistão —isso antes da volta do Talibã ao poder, em 2021.

Isso dito, a expansão da Embraer ainda pode ter um salto que obrigará a revisão de sua capacidade produtiva. A empresa está de olho em um contrato para fornecer 33 KC-390 à Arábia Saudita e um número incerto, que pode chegar chegar a 80, à Índia.

Nos dois países, há entendimentos para a instalação de uma linha de montagem própria para atender a eventual encomenda. Hoje, o KC-390 é montado na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto, interior de São Paulo. Em 2025, a expectativa é de que seis aviões saiam de lá, número que a empresa quer dobrar até 2030.

Mas sua capacidade instalada potencial máxima é de 18 aviões por ano, o que obrigaria a abertura de novas unidades com parcerias locais já acertadas.

No campo político, há uma relação azeitada entre Brasil e Índia devido ao bloco Brics, compartilhado por ambos os países. Os sauditas foram convidados a integrar o grupo no ano passado, e oficialmente são considerados parte dele, mas na prática não participaram ativamente da primeira reunião da versão expandida do clube, ocorrida na Rússia em outubro.

IGOR GIELOW / Folhapress

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