Emmy, adiado por greves, deve ter festa obsoleta, com séries lançadas em 2022

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não foi só o calendário de estreias de Hollywood que sofreu com as greves que roteiristas e atores iniciaram no ano passado. A agenda de premiações, também, chacoalhou no período, e teve o Primetime Emmy como sua maior vítima.

Impedido de acontecer em sua tradicional data de setembro, o maior prêmio da televisão e do streaming americano foi remarcado para esta segunda, dia 15, a partir das 22h do horário de Brasília. No Brasil, é possível acompanhar ao vivo pelo canal pago TNT e pela HBO Max.

Com as audiências televisivas não só do Emmy, mas de todas as premiações do tipo em queda livre nos últimos anos, realizar a cerimônia sem que os maiores astros das telas pudessem comparecer -na greve, eles ficam proibidos de ajudar na divulgação de obras dos estúdios embargados- seria temerário.

Mesmo com o adiamento, e com o clima festeiro de toda a Hollywood agora neste começo de ano, com a iminência do Oscar, a emissora Fox preferiu deixar o Emmy numa noite de segunda, em vez do muito mais nobre horário de domingo que historicamente ocupou -nos Estados Unidos, porém, é Dia de Martin Luther King, feriado nacional.

Já foi assim no ano retrasado, quando a cerimônia aconteceu numa segunda e os números de audiência continuaram naufragando, com 5,9 milhões de espectadores, uma queda de 25% em relação ao ano anterior.

Para a 75ª edição, a Academia de TV, que entrega o troféu, quer sintonizar televisores ancorada no apelo de séries que foram marcos recentes da TV e que competem pela última vez, como “Succession”, campeã de indicações. Há, também em despedida e com poderio para turbinar o interesse do público, “Barry”, “A Maravilhosa Sra. Maisel”, “Better Call Saul” e “Ted Lasso”.

“Succession” foi indicado 27 vezes, incluindo, na ala de drama, a melhor série, ator -Brian Cox, Kieran Culkin e Jeremy Strong-, atriz -Sarah Snook-, ator coadjuvante -Nicholas Braun, Matthew Macfadyen, Alan Ruck e Alexander Skarsgard-, e atriz coadjuvante, para J. Smith-Cameron.

Na sequência, aparecem “The Last of Us” e “The White Lotus”, da mesma HBO, com 24 e 23 menções cada. Elas figuram, ambas, nas corridas dramáticas de melhor série. A primeira também tem chances em ator e atriz, com Pedro Pascal e Bella Ramsey, e a segunda domina as categorias de coadjuvantes -emplacou quatro de oito indicados em ator e cinco de oito na de atriz.

Nessas duas últimas categorias residem as mais difíceis disputas desta edição. É difícil eleger alguém que corre por fora, e os indicados inspiraram guerras de preferência até mesmo entre os fãs de uma mesma série.

Em ator coadjuvante, além de Braun, Macfadyen, Ruck e Skarsgard, concorrem também F. Murray Abraham, Michael Imperioli, Theo James e Will Sharpe, de “The White Lotus”. Em atriz coadjuvante, Smith-Cameron tem a companhia de Jennifer Coolidge, Meghann Fahy, Sabrina Impacciatore, Aubrey Plaza e Simona Tabasco, também da série paradisíaca, Elizabeth Debicki, de “The Crown”, e Rhea Seehorn, de “Better Call Saul”.

A onipresença de “The White Lotus” nas categorias principais de drama escancara um efeito trágico que o adiamento pelas greves impôs ao Emmy. Com a festa acontecendo quatro meses depois do habitual, muitas das indicadas foram exibidas no distante ano de 2022.

“Wandinha”, que bombou no TikTok há muitos e muitos meses, está indicada em melhor série de comédia. “Dahmer”, que gerou discussões acaloradas das quais ninguém mais lembra, disputa o troféu de minissérie. São presenças que contribuem para um clima de anacronismo nesta edição do Emmy.

E se você pensa que as seis indicações de “The Crown”, incluindo a melhor série de drama, são pela temporada de adeus, lançada no mês passado, está enganado. Quem compete são os episódios da quinta temporada, não da sexta, que vai ficar para a próxima cerimônia.

Para garantir que esses lançamentos mais antigos não caíssem no esquecimento, a Academia de TV manteve o fim das votações para agosto passado. Então, por mais que já tenhamos cansado da dancinha gótica de “Wandinha”, ela ainda pode sair vitoriosa, já que os premiados desta segunda vão refletir o que era pop no primeiro semestre do ano passado. Com isso, será uma festa obsoleta, não há dúvidas.

Este Emmy também será assombrado pelas greves pelo fato de ser uma oportunidade para quebrar o gelo na indústria. O Globo de Ouro pode até ter inaugurado os encontros entre grevistas e executivos milionários na semana passada, mas falhou na tarefa de deixar todos à vontade, graças ao desastroso apresentador Jo Koy, que metralhou piadas constrangedoras ao longo da noite.

Com o clima de animosidade gerado pelas paralisações, o prêmio televisivo agora tem a oportunidade de mostrar ao público que elas ficaram no passado, e que a indústria segue unida para fazer o que se espera dela, produzir boas obras audiovisuais.

As apostas são no apresentador Anthony Anderson, muito mais popular e com experiência de host em programas competitivos. Espere ver piadas autodepreciativas, já que o ator e produtor de ” Black-ish” é um histórico perdedor do Primetime Emmy, com 11 indicações e nenhuma vitória.

Com sua lista quilométrica de categorias, o Emmy deste ano -ou melhor, do ano passado- já anunciou vários vencedores em cerimônias dedicadas a prêmios mais técnicos e a um ou outro troféu de atuação.

Por enquanto, o placar é liderado por “The Last of Us”, que já tem oito troféus -atriz convidada, para Storm Reid, ator convidado, para Nick Offerman, maquiagem prostética, efeitos visuais, design de vinheta, edição de som, mixagem de som e montagem. Na sequência aparecem “O Urso”, “Wandinha” e “The White Lotus”, empatados com quatro cada.

Entre as principais categorias já anunciadas, melhor filme para a TV ficou com “Weird: The Al Yankovic Story”; canção original para “Ted Lasso”, com “A Beautiful Game”, de Ed Sheeran; música de abertura para Danny Elfman e “Wandinha”; reality show estruturado para “Queer Eye”; apresentador de programa de competição ou reality para RuPaul e seu Drag Race, e melhor animação para “Os Simpsons”.

LEONARDO SANCHEZ / Folhapress

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