SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As interpretações vigorosas dos três atores em cena capturam a atenção do público em “Órfãos”, espetáculo teatral que fez temporadas de sucesso no Rio de Janeiro e acaba de estrear no Teatro Faap, em São Paulo.
A chegada à capital paulista era um sonho de Lucas Drummond, idealizador e coordenador artístico da montagem brasileira do texto de 1983 de Lyle Kessler, dramaturgo, roteirista e ator americano. A peça, bem-sucedida em países como Estados Unidos, França, Alemanha, México e Japão, levou Kessler a ser comparado a Tennessee Williams.
Em cena, dois irmãos órfãos, Phillip (Lucas Drummond) e Treat (Rafael Queiroz), demonstram a dor do abandono nos próprios corpos, no comportamento e no ambiente caótico em que vivem. A intensidade das emoções e a coreografia do espetáculo exigem esforço físico e psicológico dos atores, o que conquista a admiração da plateia.
Os irmãos sequestram um misterioso homem de negócios, Harold (Ernani Moraes) e, a partir disso, materializam a sonhada figura paterna, ao mesmo tempo em que lidam com as consequências de uma vida marginalizada.
“Me apaixonei por essa peça desde que a li pela primeira vez, em 2018. É uma história linda sobre a luta do homem pela sobrevivência e, principalmente, sobre o afeto, que às vezes pode ser bruto, tóxico”, afirma Lucas Drummond.
O ator teve contato com o texto em Nova York, para onde foi para uma reciclagem em um conservatório de atuação, em 2018.
“Além de uma dramaturgia poderosa, Órfãos nos oferece três personagens tão complexos quanto apaixonantes”, diz. “Quando eu terminei de ler o texto pela primeira vez, pensei: Meu Deus, quero fazer essa peça”.
O desejo foi reforçado após a morte do pai de Drummond. A falta que sentiu da figura paterna reforçou a coragem para ir atrás da montagem, bancada no Brasil por oito pessoas que investiram no projeto por meio da Lei Rouanet, em contribuições individuais a partir de valores deduzidos do Imposto de Renda.
Na história, Phillip é criado pelo irmão mais velho, Treat, um homem agressivo que bate carteira para ganhar o sustento dos dois. O caçula acredita ter uma alergia que o impede de sair de casa e vê o mundo pela janela e assistindo TV.
O isolamento dos personagens e uma angústia que paira no ar fazem Moraes lembrar a época em que morou em um prédio da República, no centro de São Paulo, e não conhecia nenhum vizinho, apesar de estar rodeado de gente.
“É um texto que é muito a cara do paulistano”, diz o ator, que fez teatro durante 12 anos na capital paulista e foi integrante do consagrado Grupo Tapa.
Ele menciona a solidão da grande cidade, mas diz também que sente saudade do público local. “São Paulo é onde as pessoas gostam de teatro”, justifica.
Moraes, em “Órfãos”, pela primeira vez recebeu a missão de pesquisar o adjetivo “elegante”. “Normalmente estou no universo dos ogros, dos malucos, dos torturadores”, diz, do alto de seu 1,90 metro. Na peça, ele interpreta um personagem calmo, que fala em tom de voz normal. “Para quem me conhece como ator, sabe que transito muito no outro lado. Está sendo muito desafiador”.
Para Rafael Queiroz, o diretor, Fernando Philbert, tira o elenco da zona de segurança e desestrutura para reestruturar em busca do melhor resultado. “É desafiador, mas ele é preciso, estica a corda até onde sabe que é possível”.
A montagem americana mais recente, produzida na Broadway, em 2013, foi estrelada por Alec Baldwin e indicada ao Tony Awards na categoria melhor peça.
A história chegou ao cinema em 1987, em filme dirigido por Alan J. Pakula e protagonizado por Albert Finney, Matthew Modine e Kevin Anderson.
ÓRFÃOS
– Quando Até 1º de agosto – Quartas e quintas, às 20h
– Onde Teatro Faap
– Preço R$ 80,00 (inteira) / R$ 40,00 (meia)
– Autoria Lyle Kessler
– Elenco Ernani Moraes, Lucas Drummond, Rafael Queiroz
– Direção Fernando Philbert
CRISTINA CAMARGO / Folhapress