SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Empresa brasileira de software ignora ‘maré baixa’ no mercado com estreia na Nasdaq.
NUVINI IGNORA MERCADO AZEDO COM ESTREIA NA NASDAQ
As condições negativas para o mercado de ações que geraram uma seca de IPOs (ofertas iniciais de ações) desde o fim de 2021 não foram suficientes para tirar o apetite da brasileira Nuvini de estrear na Bolsa americana Nasdaq.
A empresa, uma holding de startups de software, passa a ser negociada nesta segunda (2) com o código “NVNI”.
“Nosso negócio não depende de janela de mercado. Optamos pela listagem para ter acesso a capital e continuar crescendo nessa maré baixa. Quando voltar, estaremos mais à frente”, disse à FolhaMercado Pierre Schurmann, CEO da companhia.
A estreia na Bolsa americana que concentra empresas de tecnologia será feita via Spac (sigla em inglês para empresa com propósito específico de aquisição) do fundo americano Mercato Partners, em um negócio avaliado em US$ 235 milhões (R$ 1,17 bilhão).
Entenda: as Spacs são também chamadas de “empresas de cheque em branco” porque os gestores captam recursos dos acionistas no IPO antes de encontrarem um negócio para aplicar essa grana via fusão.
O modelo bombou na última euforia do mercado americano e costuma prever o investimento em até dois anos caso contrário o dinheiro é devolvido aos acionistas. Para as empresas adquiridas, é uma forma de acessar a Bolsa sem toda a burocracia que um IPO prevê.
A Nuvini: é uma holding de aquisição de startups de Saas (software as a service, ou software como serviço). Foi fundada em 2019 por Schurmann, que também esteve no início da Bossa Nova Investimentos. Terminou o ano passado com receita líquida de R$ 123,7 milhões.
Com sete empresas no portfólio (leadlovers, Ipê Digital, Effecti, Datahub, Onclick, Mercos e SmartNX), a Nuvini quer usar os US$ 43,4 milhões (R$ 217 milhões) recebidos do Spac mais US$ 12 milhões (R$ 60 milhões) que vieram de outros investidores para adquirir 17 negócios de quatro a seis companhias por ano, falou o CEO.
O foco está em brasileiras que faturam de R$ 20 milhões a R$ 50 milhões por ano, e uma das exigências é o negócio operar no positivo, com geração de caixa.
“A nossa tese consiste na permanência dos fundadores à frente das empresas. A gente alinha incentivos financeiros para isso, enquanto a Nuvini gera o suporte via um ecossistema que direciona sobre melhores práticas e com foco na área de pessoas, que é super-relevante”, afirma Schurmann.
Sobre o potencial do setor no país, ele cita números da Índia, economia emergente como a brasileira, onde os softwares são responsáveis por cerca de 15% do PIB (Produto Interno Bruto) por aqui, essa relação é de 3%.
Para Schurmann, as maiores oportunidades estão em quem fornece software para pequenos e médios negócios. “É como o dono de uma ótica, que em vez usar o Excel, usa um sistema nosso para fazer a gestão da loja, porque é mais eficiente”, exemplifica.
Dois setores, porém, são evitados pelo Nuvini: fintechs e saúde. “O primeiro porque o valor de mercado ainda está muito alto para o nosso gosto, e o segundo porque tem um risco regulatório grande, que numa canetada você pode matar um negócio” diz o CEO da holding.
STARTUP DA SEMANA: DRIP
O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que anunciou uma captação recentemente.
A startup: fundada em 2021 por três ex-Nubank, ela atua com o parcelamento das compras feitas via Pix no comércio eletrônico.
Em números: a fintech anunciou ter recebido um aporte de R$ 40 milhões. Em captações anteriores, ela disse ter sido avaliada em R$ 100 milhões.
Quem investiu: a SRM Ventures, vertical de venture capital da SRM Asset.
A Drip é a 12ª startup investida pelo fundo, que já aportou R$ 405 milhões e quer fechar o ano com mais oito empresas na carteira e R$ 500 milhões alocados.
Que problema resolve: o app da Drip, lançado no fim do ano passado, oferece a possibilidade de parcelamento das compras por meio do Pix em mais de 500 lojas entre elas, Shein, Nike e Shopee, além de cashbacks que podem chegar a 10% do valor da aquisição.
Ela atua num sistema parecido com o das maquininhas de cartão: antecipa os recebíveis (valores das vendas) ao lojista com um desconto por intermediar o negócio e permite o pagamento a prazo para o consumidor.
Por que é destaque: o investimento na empresa vem em meio a uma briga que divide bancos e maquininhas de cartão sobre as compras parceladas sem juros.
O modelo da Drip a princípio não seria afetado, já que a startup atua nas duas pontas: tanto na oferta de crédito ao consumidor quanto na parte de assumir o risco do não pagamento da dívida que no caso dos cartões fica com os bancos.
A fintech diz que o lançamento do app a fez alcançar 25 mil clientes pagantes e seu faturamento crescer 25% ao mês. Com o aporte da SRM, espera faturar R$ 100 milhões em um ano.
RENDA FIXA VAI PERDER O CHARME?
Com a queda da taxa Selic prevista pelo mercado, hoje calculada para ir até 9,5% ao ano no fim de 2024, o que muda para os investimentos na renda fixa?
Pouca coisa, porque esse tipo de ativo continuará atrativo “como sempre foi”, dizem os analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo.
O que explica: a renda fixa é e sempre foi um porto-seguro para os investidores brasileiros.
Mesmo que a Selic caia para o patamar de um dígito, os especialistas dizem que a taxa de juros real brasileira (que desconta a inflação) ainda seria uma das mais altas do mundo.
A única ressalva dos especialistas é que opções prefixadas, em que já se sabe o índice de retorno no momento do investimento, tornam-se mais atrativos nesse cenário.
Em setembro, os ativos de renda fixa registraram uma disparada nas taxas e queda nos preços, por consequência mesmo com a queda de juros no país.
A razão para isso está nos EUA, onde a postura do Fed (banco central americano) mais dura em relação à política monetária acabou valorizando as taxas do Tesouro americano e, dessa forma, acabou puxando também as taxas em outros países.
ARTUR BÚRIGO / Folhapress