SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A empresa cujo submersível desapareceu durante uma expedição para ver os destroços do Titanic foi alertada sobre a insegurança de seu maquinário, mas discordou das críticas –por ser uma inovação, justificou a companhia, o empreendimento não atenderia aos padrões atuais de certificação.
O presidente da OceanGate, Stockton Rush, está entre os turistas a bordo do veículo desaparecido desde o último domingo (18), na costa do Canadá. A viagem era a quinta missão da “Expedição Titanic” em 2023 –uma tentativa de aumentar o acesso do público ao oceano profundo, de acordo com o site da companhia.
A excursão era feita em um submersível dirigido por um aparelho que lembra um controle de videogame. “Adotamos uma abordagem completamente nova. Tudo é executado com este controle e telas sensíveis ao toque”, diz Rush em um vídeo de apresentação da máquina.
Nesta terça-feira, porém, vieram a público informações que mostram que a empresa ignorou alertas sobre os potenciais riscos. Em carta de 2018 endereçada ao presidente da OceanGate, o comitê de veículos subaquáticos da Sociedade de Tecnologia Marítima, grupo que reúne líderes da indústria de embarcações submersíveis, alertou para possíveis consequências “catastróficas” em decorrência da abordagem experimental da empresa.
O texto, assinado por mais de 30 profissionais do setor que demonstraram “preocupação unânime” com o desenvolvimento do submersível, afirma que o marketing da empresa havia sido enganoso. Segundo a carta, a OceanGate disse na época do lançamento que o veículo atenderia ou até excederia os requisitos de proteção da agência de segurança responsável –ao mesmo tempo em que não parecia disposta a conseguir a certificação.
“Quando a OceanGate foi fundada, seu objetivo era buscar o mais alto nível de inovação no projeto e na operação de submersíveis tripulados. Por definição, a inovação está fora de um sistema já aceito”, afirmou a companhia em uma publicação intitulada “Por que o Titan não é certificado?”. No texto, a empresa afirma também que, por si só, a certificação não é garantia de segurança e que contaria com órgãos de controle internos.
“Levar uma entidade externa a par de todas as inovações antes de colocá-las em testes no mundo real é um anátema para a inovação”, diz a publicação, antes de citar empresas nas quais se inspiraria. “Por exemplo, Space X, Blue Origin e Virgin Galactic contam com especialistas internos experientes para supervisionar as operações diárias e fazer testes e validações, em vez de trazer pessoas de fora que precisam primeiro ser educadas antes de serem qualificadas para ‘validar’ quaisquer inovações.”
Internamente, porém, a empresa também parece ter recebido avisos. De acordo com a revista americana The New Republic, que acessou documentos da Justiça sobre o caso, um funcionário da companhia foi demitido após dizer que o submersível não seria capaz de descer a profundidades extremas.
Além de Rush, estão no veículo o bilionário britânico Hamish Harding (fundador e CEO da empresa Action Aviation), o empresário paquistanês Shahzada Dawood (vice-presidente do conglomerado Engro) e seu filho Suleman e o francês Paul-Henry Nargeolet (mergulhador especialista no naufrágio).
Aviões dos EUA e do Canadá equipados com sonar capaz de detectar submarinos foram mobilizados para o resgate, e o Instituto Oceanográfico francês informou nesta terça que enviaria um robô para auxiliar nos trabalhos. No início da tarde, o submersível tinha cerca de 40 horas de ar respirável, segundo Jamie Frederick, da Guarda Costeira dos EUA.
Redação / Folhapress