SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Empresário capixaba promete tirar do papel a marca de carros brasileira Lecar, falas de Galípolo “fazem preço” no mercado e outras notícias do mercado nesta sexta-feira (23).
A HORA DO CARRO NACIONAL?
Existe espaço no concorrido mercado de automóveis para uma fabricante brasileira finalmente ter sucesso? A empresa Lecar, do empresário Flávio Assis, aposta que sim.
A companhia anunciou a construção de sua primeira fábrica no Espírito Santo nesta quinta-feira (22) e deu detalhes sobre o carro Lecar 459, um híbrido.
Sonho grande. Para cavar espaço entre as gigantes estrangeiras, pensou primeiro em desenvolver um carro totalmente elétrico, com investimento nacional. Mas os planos mudaram nos últimos meses e a versão híbrida venceu.
↳ Um dos motivos é conquistar o brasileiro pela eficiência. A promessa é fazer o Lecar 459 alcançar 30 quilômetros com um litro de etanol.
↳ Também contou a mudança no setor em direção a esses carros que misturam energia elétrica e os combustíveis.
O carro. O estilo sedã do primeiro protótipo, ainda 100% elétrico, foi substituído por uma carroceria fastback, semelhante à adotada pelo Fiat de mesmo nome e por modelos como o BMW X6, o Mercedes GLE Coupé e o Audi Q3 Sportback.
A previsão é lançar o veículo daqui a dois anos, com início da fabricação previsto para agosto de 2026.
Sucesso à vista? A projeção para a participação de eletrificados (elétricos e híbridos) nas vendas do mercado nacional em 2030 é de 25%, segundo a consultoria Jato Dynamics. Na China, eles já são 50%.
↳ Em julho deste ano, 8,5% dos carros comprados eram eletrificados, segundo a associação Fenabrave.
Otimista. Em entrevista à Folha, o empresário Flávio Assis diz que a sua montadora terá capacidade para produzir 120 mil automóveis por ano, com geração de 1.500 empregos diretos e 3.000 indiretos na cidade capixaba de Sooretama.
O local foi escolhido após negociações com diversos estados, incluindo a tentativa frustrada de adquirir as antigas instalações da Ford na Bahia, hoje sob controle da chinesa BYD.
↳ Assis calcula um investimento de R$ 790 milhões no empreendimento.
Made in Brazil. O país foi o nono maior produtor de carros no mundo em 2023, com mais de 2,3 milhões de unidades. Uma parte delas destinada à exportação para vizinhos. Essa indústria, no entanto, é basicamente de companhias estrangeiras.
Veja as marcas com mais vendas no varejo, de janeiro a julho (em %), de acordo com a Fenabrave.
🇩🇪 Volkswagen, com 13,4%
🇺🇸 General Motos, com 13,0%
🇮🇹 Fiat, com 11,8%
🇰🇷 Hyundai, com 10,26%
🇯🇵 Toyota, com 10,01%
Sim, mas O país não tem uma montadora nacional de sucesso. A Gurgel foi uma das poucas que alcançou força relevante décadas atrás, mas encerrou as atividades nos anos 90.
↳ Até há uma indústria de ônibus e caminhões, principalmente no Sul, mas que usa chassis importados. Entre elas estão a gaúcha Marcopolo e a catarinense Tac Mortos.
Dinheiro a caminho. Com grande volume de verba em caixa, as grandes marcas do mundo prometem investimentos no Brasil. Elas têm engatilhados R$ 125 bilhões em investimentos até 2031, divulgados nos últimos meses.
Entre os motivos estão o forte setor de biocombustíveis, o parque industrial já instalado que serve como plataforma para exportações e o mercado interno em ascensão.
R$ 3 bilhões da China. Um dos anúncios mais emblemáticos foi o da chinesa BYD, que está transformando a antiga fábrica da Ford para a produção dos modelos no Brasil.
↳ O movimento é reflexo de barreiras nos mercados americanos e europeu, além do foco no consumidor de países emergentes.
↳ A alemã Volkswagen detalha nesta sexta-feira um investimento de R$ 13 bilhões, com expansão da produção em São Paulo.
IDAS E VINDAS
O diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, passou essa quinta-feira (22) sob os olhos atentos de agentes do mercado financeiro.
Cotado para comandar a instituição em 2025, ele participou de dois eventos em São Paulo e as falas no primeiro deles foram vistas como motivo para a alta do dólar no dia.
Entenda: em evento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), disse discordar de analistas que afirmam que o Banco Central está numa situação difícil devido aos discursos de seus diretores, incluindo ele próprio.
Essa situação difícil seria uma espécie de obrigação com a elevação dos juros daqui para frente porque as falas citaram essa possibilidade várias vezes. Galípolo, porém, explicou que todas as opções estão na mesa.
Reflexos. A discordância foi vista como um recuo no seu compromisso de aumentar as taxas caso haja risco de inflação.
↳ O dólar reagiu e fechou o dia com alta de quase 2%, a R$ 5,59.
Panos quentes. Mais tarde, o diretor do Banco Central disse que se expressou mal e foi mal-interpretado. No entanto, reiterou a posição de que não vê a instituição numa posição difícil, como se tivesse que cumprir um compromisso.
A avaliação de que os juros irão subir pelo menos 0,25 ponto percentual na próxima decisão, em setembro, ganhou força entre agentes financeiros.
O mercado financeiro tem analisado de perto declarações de Galípolo e do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, em busca de sinalizações.
↳ Na terça-feira, por exemplo, um aparente desencontro entre os dois gerou ruídos e alta no dólar.
↳ O pano de fundo são as projeções de inflação, em alta há semanas, e o dólar valorizado.
O patamar. Levantamento feito nesta semana pela Folha com 24 instituições mostra que 6 esperam uma primeira elevação da Selic em setembro, de 0,25 pontos. Os juros básicos no Brasil estão hoje em 10,50% ao ano.
MUDANÇAS NO IR DE EMPRESAS
O ministro Fernando Haddad entregou ao presidente Lula, nas últimas semanas, uma série de propostas para alterar o Imposto de Renda. Algumas mudanças podem acontecer ainda em 2024.
↳ O objetivo do governo é realizar uma reforma ampla dos tributos no ano que vem, mas uma parte pode ser adiantada para ajudar na elaboração do orçamento do próximo ano.
O que está na mesa: as mudanças mais imediatas focam nas empresas, com a cobrança do IRPJ (Imposto de Renda para Pessoa Jurídica).
O principal objetivo desta segunda reforma tributária não é aumentar a arrecadação, mas tornar a cobrança mais justa no Brasil.
↳ Algumas brechas permitem, por exemplo, que companhias reduzam os impostos pagos em até 50%.
Principais propostas:
Redução de benefícios fiscais, créditos e isenções;
Fim dos JCPs (Juros sobre Capital Próprio), espécie de dividendo pago aos investidores que permite reduzir impostos sobre o lucro;
Mudanças no tributo CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido).
A escolha de quais propostas serão incluídas no Orçamento dependerá da avaliação política do Palácio do Planalto.
Mas A maioria delas deve ficar para depois das eleições ou para 2025.
Vai ter mudança para pessoas físicas? Provavelmente só em 2025. O objetivo também é deixar o sistema mais igualitário.
Hoje, um brasileiro que ganha R$ 4.000 tem a mesma alíquota de contribuição que alguém com renda de R$ 4 milhões, considerando o percentual após benefícios e isenções.
Principais propostas:
Limitar o abatimento de gastos com saúde, que eleva a restituição do Imposto de Renda. Críticos afirmam que o mecanismo beneficia as classes altas;
Volta da cobrança de imposto sobre dividendos pagos aos investidores, isentos desde os anos 90;
Atualização das faixas de cobrança do IR, com foco nas rendas mais altas;
Ampliação da isenção para salários de até R$ 5 mil.
Tira daqui, põe ali. A Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal (Unafisco) estima que a tributação de lucros e dividendos a pessoas físicas e jurídicas poderia render R$ 160,1 bilhões em 2025.
A Unafisco sugere que essa receita viabilize, por exemplo, a isenção de impostos para salários de até R$ 5 mil, uma promessa de campanha de Lula em 2022.
Em evento no Paraná, na última semana, o presidente mencionou o desejo de implementar essa taxação.
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VICTOR SENA / Folhapress