Empresário nega ter recebido R$ 2 milhões do Siafi e diz que dados foram roubados

CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) – O empresário Eliezer Toledo Bispo, dono da empresa em Campinas (SP) que teria recebido R$ 2 milhões de desvios do sistema de pagamentos do governo federal, o Siafi, nega qualquer ligação com o esquema e se diz vítima de fraude.

“Infelizmente os criminosos, não sei como, conseguiram dados cadastrais da minha empresa e devem ter aberto contas em bancos com esses dados”, disse à Folha de S.Paulo o empresário, que é dono da “Adonai Comércio”.

Bispo afirma que não recebeu qualquer valor na conta verdadeira da empresa, que tem registro de atuação na área de comércio de móveis e hoje vende luminárias solares.

Os recursos desviados estavam originalmente reservados a um contrato do governo para manutenção de software. Os valores estavam empenhados para o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), mas criminosos usaram as senhas de dois servidores do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos para direcionar o pagamento para a empresa de Eliezer Toledo Bispo.

A operação foi feita por meio de uma chave aleatória do Pix às 21h42 do dia 28 de março, uma quinta-feira véspera de feriado (Sexta-Feira Santa). A irregularidade só foi percebida pelo ministério na segunda-feira, 1º de abril. O Ministério da Gestão disse que não se manifesta sobre o caso para não atrapalhar as investigações.

O empresário afirmou que vai registrar um boletim de ocorrência sobre a fraude e diz não entender como os criminosos conseguiram tantas informações.

Bispo disse ainda que não foi a primeira vez que foi vítima de um golpe do tipo. No começo deste ano, também com dados da companhia vazados, criminosos invadiram a conta dele no Simples Nacional e mudaram o faturamento bruto para valores menores, gerando créditos de imposto a serem recebidos – valores que também nunca caíram na conta verdadeira.

“Abri protocolos na Receita Federal para entender o que havia acontecido, e me informaram que hackers retificaram as informações de faturamento. Após registrar um boletim de ocorrência, descobri que haviam 55 restituições agendadas. Com todas as informações, a Receita cancelou tudo”, conta.

A empresa está registrada em área residencial de Campinas. O pagamento cita uma série de empenhos feitos ao Serpro entre 2023 e 2024 por serviços de manutenção evolutiva, adaptativa e corretiva de software.

O empenho é a primeira fase do gasto, quando o governo se compromete com determinado pagamento. O pagamento efetivo, porém, ocorre em momento posterior.

Segundo os documentos obtidos pela reportagem, o governo conseguiu reaver os R$ 2 milhões após acionar autoridades policiais e a instituição de pagamento.

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ENTENDA O CASO

O que é o Siafi?

O Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal) é um sistema operacional desenvolvido pelo Tesouro Nacional em conjunto com o Serpro. Ele foi implementado em janeiro de 1987 e, desde então, é o principal instrumento utilizado para registro, acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira, patrimonial e contábil do governo federal.

É por meio dele que o governo realiza o empenho de despesas (a primeira fase do gasto, quando é feita a reserva para pagamento), bem como os pagamentos das dotações orçamentárias via emissão de ordens bancárias.

Quem usa o Siafi?

Gestores de órgãos administração pública direta, das autarquias, fundações e empresas públicas federais e das sociedades de economia mista que estiverem contempladas no Orçamento Fiscal ou no Orçamento da Seguridade Social da União.

O que está sob investigação?

Invasores utilizaram credenciais válidas de servidores e acessaram o Siafi utilizando o CPF e a senha desses gestores e ordenadores de despesas para operar a plataforma de pagamentos. A PF investiga o caso com apoio da Abin. O governo ainda apura a extensão dos impactos.

FELIPE PEREIRA / Folhapress

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