SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto o governo promete entregar um pacote de corte de gastos nos próximos dias, o empresariado faz acenos de quem tem otimismo e expectativa de que surgirão medidas satisfatórias. Depois do recado duro enviado pelo mercado na semana passada, que levou o dólar ao maior patamar desde maio de 2020 e fez o ministro Fernando Haddad (Fazenda) suspender a viagem à Europa, a mensagem ficou mais branda.
Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco, diz acreditar que o país está na direção correta. “O sentimento é o de que o governo está consciente da importância de um ajuste fiscal de uma maneira enfática e definitiva para este ano”, disse o banqueiro nesta segunda-feira (5).
Questionado se tem expectativa de que o anúncio realmente sairá nesta semana, conforme Haddad prometeu, ele diz acreditar que o governo está trabalhando objetivamente. “Acho que há uma consciência, uma expansão da consciência com relação à importância do corte de gastos”, afirma Trabuco.
Também com palavras favoráveis, Rubens Menin, dono da CNN e da MRV, diz que a tal conscientização não está só no ministro Haddad, mas também no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no Congresso, além de ter chegado à sociedade em geral. “Os políticos são muitos perspicazes. Eu acho que, hoje, eles já entendem que a redução de juros através do corte de despesas é benéfica. E os políticos vão apoiar”, afirma o empresário.
“Vou dar um exemplo correlato. Na reforma da Previdência, enquanto toda a sociedade não compreendeu que a Previdência não era para trazer desigualdades, mas para trazer igualdade, aquilo não saiu. Então, nós temos de entender que os cortes de custos vêm em prol da sociedade. A inflação é nociva, do mais pobre ao mais rico. Toda vez que você faz uma medida, às vezes um pouco dura, mas que traga um benefício maior, a sociedade apoia. Então, se algum setor perder algum benefício, nós vamos entender que é em prol de uma maioria. E os políticos pensam assim”, diz Menin.
Nesta terça-feira (5), o Palácio do Planalto tem novas reuniões com ministros responsáveis por pastas que devem ser atingidas pelos cortes de gastos. Entre as propostas em estudo, está a adoção de um limite global para as despesas obrigatórias, que seguiria o mesmo índice de correção do arcabouço fiscal (expansão de até 2,5% acima da inflação ao ano) com gatilhos de correção.
Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, acredita que o pacote de ajuste fiscal venha ainda nesta semana.
“A expectativa é de um pente-fino em programas como BPC (Benefício de Prestação Continuada), seguro-desemprego e abono salarial, o que poderia gerar uma redução de cerca de R$ 20 bilhões ao ano. É possível que o governo inclua também áreas como educação e saúde no novo arcabouço fiscal. Porém, o principal impacto local esperado nos próximos dias deve vir mesmo do resultado das eleições americanas nesta semana”, afirma.
Mais cético, o empresário Flávio Rocha, da Riachuelo, diz que não adianta o governo anunciar um pacote que seja apenas um arremedo ou ‘faz de conta’.
“É absolutamente imprescindível um corte estrutural de gastos do governo, sob pena de naufrágio do arcabouço fiscal. Gasto não é vida. As experiências nesse sentido, de que basta jogar dinheiro de helicóptero, que esse dinheiro sobe pelo elevador através de impostos, são falsas. Isso não existe. A gente precisa, efetivamente, equilibrar as contas públicas e fazer uma sinalização forte para o mercado de um corte de gastos com convicção, que não seja apenas para inglês ver. Que faça diferença no tamanho do estado. Nós já chegamos ao limite no tamanho do estado que possa caber no PIB [Produto Interno Bruto]. É importante diminuir esse tamanho de forma perceptível e significativa”, diz Rocha.
Edgard Corona, da Smart Fit, associa as medidas à perspectiva de investimento. “Estou otimista, achando que o governo é sensível e que o Brasil sempre vai andar para a frente. A gente investe no Brasil acreditando que o país vai para a frente. O governo é competente e sabe ouvir esses ruídos. Tem uma subida de temperatura, e a turma sabe ajustar. Desemprego caindo, país crescendo, boas oportunidades. Tem um caminho para o melhor”, afirma o empresário.
JOANA CUNHA / Folhapress