Empresas sofrem com queda na geração de caixa e alta da despesa financeira

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Levantamento mostra que as principais empresas brasileiras vivem um ambiente adverso. As despesas financeiras com a tomada de crédito, como capital de giro para o negócio se manter, cresceram fortemente, enquanto a geração de caixa, que mede a capacidade de colocar dinheiro para dentro do negócio, vem caindo desde o final do ano passado.

Um raio-X desse problema foi divulgado nesta terça-feira (11) na nota técnica “Riscos de uma crise de crédito e a situação financeira das empresas abertas (II)” produzida pelo Cemec-Fipe (Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). O estudo considera as demonstrações contábeis de mais de 400 companhias listadas na Bolsa brasileira.

Entre os indicadores avaliados está a relação do custo da despesa financeira e a geração de caixa medida pelo Ebitda, sigla em inglês para lucro antes dos descontos com impostos, juros, amortização e depreciação.

“Se essa relação ficar abaixo de 1, significa que a empresa não gera recursos suficientes para pagar as suas obrigações. Se for 1, empata”, explica Carlos Antonio Rocca, coordenador do Cemec-Fipe .”No conjunto, esse indicador vem caindo desde o final de 2021.”

Segundo o levantamento, essa relação chegou a 3,3 no terceiro trimestre daquele ano e fechou o primeiro trimestre deste ano em 1,8.

A taxa de variação anual da despesa financeira, que representa o custo do crédito, chegou a bater em 68,9% no ano passado e ficou em 36,4% no primeiro trimestre deste ano. Segundo Rocca, ela não vai cair enquanto o Banco Central não reduzir a taxa básica de juros.

A taxa de variação do Ebitda, no entanto, que mede o desempenho das companhias, vem caindo desde o final de 2021 e entrou no terreno negativo desde o final do ano passado. Em 2021, o indicador chegou à marca de 46,6%. Fechou o primeiro trimestre deste ano em -7,1%.

Rocca diz que, por causa da recuperação judicial da Americanas, debruçou-se particularmente sobre as empresas de comércio. No conjunto, o indicador Ebitda/Despesa financeira delas ficou em 1,44.

Do total das companhias, a análise mostrou que 13% tiveram indicador abaixo de 1, ou seja, não geraram caixa suficiente para cobrir as despesas financeiras.

Ainda que a economia tenha apresentado bons sinais nos últimos meses e a aprovação do arcabouço fiscal tenha melhorado a perspectiva econômica, Rocca estima que a situação ainda é frágil, e um número maior de empresas tende a registrar piora nos indicadores.

“É difícil reverter imediatamente algo assim”, diz Rocca. “A tendência é de piora desse quadro antes que ocorra uma melhora. Ainda que o Banco Central inicie a redução da taxa básica de juros em agosto, como se espera, o efeito prático demora.”

Segundo Rocca, olhando para trás, uma associação de fatores levou a esse ambiente adverso. No final 2020, com a forte queda da taxa básica de juros e os incentivos do governo para combater o impacto econômico da pandemia, as empresas puderam negociar as dívidas e contrair novos créditos. Na sequência, ao longo de 2021, houve uma forte recuperação da economia. Foi o melhor ano da década para companhias abertas.

Esse quadro mudou a partir de 2021. Os juros começam a subir e a economia começou a ceder.

“Ao mesmo tempo, ocorreu aumento das taxas de juros e redução na oferta de crédito”, afirma Rocca.

A taxa de juros média do crédito bancário, por exemplo, que era de 11,6% em dezembro de 2020, passou para 23,8% março deste ano.

A TPB (Taxa Preferencial Brasileira), uma espécie de taxa premium, que os bancos oferecem para empresas de primeira linha, com baixo risco, foi de 8,2% para 15,8% no mesmo período.

No início deste ano, as dificuldades financeiras da Americanas, que atingiram os principais bancos, geraram ainda uma desconfiança no sistema financeiro, o que levou à retração na oferta de recursos e dificultou a rolagem de dívidas em todo o sistema.

Comparando o primeiro trimestre deste ano com o do ano passado, houve uma retração correspondente a 2% do PIB (Produto Interno Bruno) na oferta total de crédito bancário.

“O problema ainda está aí”, diz Rocca. Segundo ele, os dados reforçam a necessidade de renegociação ou reestruturação de dívidas, em um cenário que pode levar a uma continuidade do aumento da inadimplência.

“O mercado avalia que neste momento as empresas tentam reestruturar cerca de R$ 100 bilhões em dívidas.”

ALEXA SALOMÃO / Folhapress

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