Encontrar abrigo para animais resgatados vira desafio em Porto Alegre

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A estudante de veterinária Bianca Ramos e seu pai, Marcelo, ajudaram a organizar um comboio com um caminhão e diversos carros que transportavam 27 cachorros e 19 gatos resgatados da inundação em Porto Alegre, em meio às enchentes históricas que atingem o Rio Grande do Sul. O objetivo era levá-los para um abrigo, e foram necessárias quase nove horas até que conseguissem um lugar para os animais.

“Usávamos um caminhão fechado, que o meu patrão cedeu para que eu ajudasse em diversas ações de apoio aos desabrigados”, diz Marcelo.

Ele contou que os bichos estavam em uma casa que j á funcionava como abrigo no Humaitá e que foi atingida pela enchente. “O casal que administrava o local já estava no segundo piso com todos os animais porque o térreo estava tomado pelas águas”, explica. O homem e a mulher foram encaminhados para um abrigo, mas não tinham como levar todos os animais com eles.

Segundo Marcelo, depois de ser recusado em um abrigo montado em uma escola, o comboio foi encaminhado para um segundo endereço.

“A gente ia ser recusado, só fomos atendidos depois que eu comecei a discutir. Queriam nos mandar para um terceiro endereço”, afirma. O temor era de que os cães e gatos não resistissem se fossem transportados por mais tempo daquela maneira.

A veterinária Maielli Martins Marçal conta que muitos abrigos privados estão acolhendo voluntariamente os cães e gatos que são resgatados nas ruas, e também voluntários que os recebem em suas casas. “Muitos dos animais de rua não são castrados e acaba tendo brigas entre eles, além das dificuldades para cuidar e alimentar todos”, diz.

Também veterinária, Karine Marchioro afirma que os animais começam a chegar em estado cada vez mais grave, por causa do tempo que passaram sem se alimentar e das condições em que ficaram esperando o resgate. “Os casos mais graves são daqueles que já estão afastados há muito tempo dos humanos que cuidam deles”, explica.

Outra preocupação é como organizar as informações que vão permitir às pessoas encontrarem os seus bichos depois que passar a fase mais aguda das enchentes.

A mobilização de estudantes de veterinária, professores e profissionais da área tem sido fundamental para garantir o atendimento.

A professora de veterinária Mariana Teixeira, por exemplo, está se organizando com colegas e alunos. No ginásio da Brigada Militar ela ajuda a cuidar de 80 cães e gatos —chegou para levar alimentos e remédios para os animais e acabou ficando por lá. A maior preocupação, ela diz, é conseguir abrigo para todos eles.

“Aqui, por exemplo, não permitem mais a entrada de nenhum [bicho]. A gente fica no dilema de não conseguir atender mais e ter de escolher quem continuar atendendo”, lamenta.

Barcos estão resgatando os animais com base em informações prestadas por quem foi obrigado a deixá-los quando saiu de casa. Segundo a prefeitura, 70% dos desabrigados têm animais domésticos.

Procurado, o secretário adjunto da Causa Animal, Jairo Avila, afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que o abrigo municipal está acolhendo 280 cães e gatos e que outros dois espaços contratados pela administração municipal estão com 96 animais. Outro abrigo, na zona norte, deve ser providenciado nos próximos dias.

Outros animais são atendidos pela Empresa Pública de Transporte e Circulação. A equipe de fiscalização de veículos de tração animal faz o resgate quando o bicho está em áreas secas, e os bombeiros são acionados para os casos em áreas alagadas. Desde o início das enchentes foram resgatados 11 equinos e três búfalos.

LEONARDO FUHRMANN / Folhapress

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