Encontro de governadores de oposição tem pedido por ‘paz para trabalhar’

CURITIBA, PR, E FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – Anfitrião de reunião de governadores, o mandatário de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), encerrou evento neste sábado (23) dizendo que o país necessita “de paz para trabalhar”.

“O Brasil precisa de paz para trabalhar. Neste tiroteio que a gente vive não há condições. A gente tem que fazer um esforço muito maior para conseguir dar conta de tudo que tem que fazer. Se a gente tivesse mais paz e mais tranquilidade, a gente podia render muito mais”, disse ele, que é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e assume bandeiras de oposição ao governo federal do presidente Lula (PT).

Jorginho Mello não fez referência diretamente a Bolsonaro, que foi indiciado pela Polícia Federal, junto com 36 pessoas, em inquérito sobre trama golpista após a eleição presidencial de 2022.

“Que o Brasil possa trilhar por momentos mais de clamaria. Nunca vi uma discórdia construir nada. Nem uma pontezinha, nenhum hospital, nenhuma escola. Confusão não constrói nada. Só destrói. Precisamos cada vez mais ser ponto de apoio de sugestões para que a gente possa ir resolvendo as dificuldades. O Brasil precisa de nós”, continuou o catarinense, durante discurso.

O evento promovido foi a 12ª reunião do Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste). Uma entrevista coletiva que estava prevista para este sábado foi cancelada em cima da hora, segundo a organização, porque a programação atrasou e os participantes tinham voos marcados.

A maioria dos governadores que integram o consórcio é aliado de Bolsonaro. Mas eles não trataram publicamente sobre o assunto durante o encontro, que começou na quinta-feira (21). Dois deles se manifestaram apenas por rede social, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e Jorginho Mello.

Tarcísio deixou o evento neste sábado sem dar entrevistas.

Na sexta-feira (22), Jorginho publicou uma foto abraçando Bolsonaro. “Aqui em Santa Catarina, o compromisso com os valores que nos unem é inabalável”, publicou o governador catarinense.

Também aliados de Bolsonaro, os governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ignoraram o indiciamento até agora.

O Cosud é formado pelos sete estados das regiões Sul e Sudeste e todos os governadores estiveram no evento em algum momento, com exceção do gaúcho Eduardo Leite (PSDB), que está em viagem à Ásia e foi representado pelo governador em exercício, Gabriel Souza (MDB).

O integrante mais próximo ao governo Lula é Renato Casagrande, do Espírito Santo, filiado ao PSB -partido aliado do presidente.

Ao final do encontro neste sábado, os governadores divulgaram a “Carta de Florianópolis”, o documento oficial com as decisões e diretrizes das câmaras temáticas do evento. Nele, foi incluída a preocupação dos governadores com a PEC da Segurança Pública proposta pelo governo federal.

“A proposta, em sua essência, compromete os princípios fundamentais do pacto federativo ao centralizar competências que historicamente pertencem aos Estados, ignorando as especificidades regionais e a autonomia que são pilares da nossa República”, diz trecho da Carta.

O documento também mencionou a renegociação da dívida dos estados com a União, indicando que os estados buscam a redução do valor.

Na sexta, os governos de Santa Catarina e do Paraná também indicaram no evento um acordo sobre um processo judicial envolvendo royalties de petróleo que se arrasta no STF (Supremo Tribunal Federal) há mais de três décadas.

Pelo acordo, o Paraná repassaria cerca de R$ 300 milhões para Santa Catarina, por meio de obras de infraestrutura, para compensar royalties não pagos ao cofres catarinenses.

A disputa, que também envolve São Paulo, começa a partir de um traçado marítimo feito em 1986 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entre os três estados. Em 1991, a projeção no mar das divisas foi contestada no STF pelo governo de Santa Catarina, que alegou que campos de petróleo ficaram equivocadamente fora das águas do estado.

Outro anúncio do Cosud foi o início dos estudos de viabilidade sobre a criação de um banco de fomento próprio. A iniciativa está sendo chamada de Bancosud.

CATARINA SCORTECCI E SCHIRLEI ALVES / Folhapress

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