Enquanto não acham as armas, eles vão pagando, diz pai de soldado do Exército aquartelado

BARUERI, SP (FOLHAPRESS) – Familiares de recrutas, soldados e oficiais do Exército aquartelados no Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, após o sumiço de 21 metralhadoras, foram até o local neste domingo (15) para fazer visitas e entregar mantimentos aos detidos.

Entre os 480 aquartelados há homens e mulheres. Familiares que deixaram o quartel afirmaram que há jovens com o estado emocional abalado. Alguns choraram na presença dos pais, relataram.

Homens, mulheres, crianças e idosos tiveram permissão do Exército para entrar na unidade. Os soldados estão aquartelados desde o dia 10, quando foi notado o furto de 13 metralhadoras .50 (antiaéreas) e oito de calibre 7,62.

Os familiares aceitaram conversar com a reportagem desde que não fossem identificados. Eles temem que seus filhos sofram represálias.

Um pai relatou que a situação é complicada, principalmente por envolver recrutas, como são chamados os jovens que ingressaram recentemente no serviço obrigatório.

Na opinião dele, o furto deve ter sido algo planejado. Enquanto não acham as armas, declarou, os filhos vão pagando.

Entre os alimentos levados aos soldados e oficiais estão bolachas, salgadinhos e iogurtes.

Familiares também puderam levar para casa, após vistoria, os carros e motos dos soldados do Exército que estão no estacionamento.

Em nota no sábado (14), o Comando Militar do Sudeste declarou que a tropa está aquartelada “para poder contribuir para as ações necessárias no curso da investigação”.

“Os militares estão sendo ouvidos para que possamos identificar dados relevantes para a investigação”, afirmou o órgão.

No texto, o Exército diz que imediatamente ao se verificar a discrepância no controle das armas foram tomadas providências administrativas com o objetivo de apurar as circunstâncias do sumiço. Também foi instaurado um Inquérito Policial Militar.

A nota não informa se há algum suspeito pelo furto das metralhadoras.

O secretário da Segurança Pública do estado de São Paulo, Guilherme Derrite, disse lamentar o furto das 13 armas antiaéreas e que o caso será investigado para evitar “consequências catastróficas”.

“Nós da segurança de São Paulo não vamos medir esforços para auxiliar nas buscas do armamento e evitar as consequências catastróficas que isso pode gerar a favor do crime e contra segurança da população”, declarou o secretário da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).

‘Inservíveis’

O Exército afirmou que os armamentos são inservíveis e que o Arsenal de Guerra é uma unidade técnica de manutenção.

“[A unidade] É responsável também para iniciar o processo de desfazimento e destruição dos armamentos que tenham sua reparação inviabilizada”, informou a nota.

Para Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, o furto das armas é preocupante mesmo que não estejam em pleno funcionamento.

“Mesmo que as armas não tivessem em condições imediatas de disparo, por falta de uma peça ou falha mecânica, o desvio é absurdamente preocupante, pois o crime dispõe de armeiros com condições de prestar manutenção nestas armas e produzir em máquinas modernas peças faltantes, ou mesmo ‘canibalizar’ uma arma para consertar outras”, explica.

PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress

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