Entenda a importância do IBGE, foco de polêmica após indicação de Lula

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu o economista Marcio Pochmann como o novo presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A decisão foi tomada mesmo com a resistência de uma ala do Ministério do Planejamento, que abriga o órgão de pesquisas.

A seguir, entenda o que é o IBGE, por que ele é importante para o país e quais são os seus desafios atualmente.

O QUE É O IBGE?

O instituto é visto como a principal fonte de estatísticas oficiais sobre o Brasil e os brasileiros. Suas pesquisas revelam indicadores em diferentes áreas, como economia, demografia, saúde e educação. Os dados podem servir como subsídios para a elaboração e o ajuste de políticas públicas.

QUAIS SÃO AS PESQUISAS DO IBGE?

O principal levantamento do órgão é o Censo Demográfico, que costuma ser realizado de dez em dez anos. O trabalho mostra o tamanho e as características socioeconômicas da população brasileira.

Em junho de 2023, o instituto iniciou as divulgações do Censo referente a 2022, que foi marcado por atrasos em meio à pandemia e à escassez de verba no governo Jair Bolsonaro (PL).

A lista de pesquisas do IBGE também inclui levantamentos como a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A Pnad traz uma série de estatísticas sobre o mercado de trabalho.

A taxa de desemprego do país sai justamente dessa pesquisa. A Pnad também é desmembrada em outras áreas, fornecendo estatísticas de educação, por exemplo.

No campo econômico, o IBGE ainda divulga indicadores como o IPCA, o índice oficial de inflação do Brasil, e o PIB (Produto Interno Bruto), que serve como termômetro da atividade econômica.

QUAL É A IMPORTÂNCIA DA INDEPENDÊNCIA DO IBGE?

O instituto é um órgão de caráter técnico. Em razão da importância das suas pesquisas e do possível impacto nas políticas públicas, a independência do IBGE em relação a governantes é considerada fundamental.

A Argentina, por exemplo, ficou marcada por uma intervenção no Indec, o instituto local de estatísticas, durante as gestões de Néstor e Cristina Kirchner.

A ação foi apontada como responsável por alterar dados como os de inflação em busca de um cenário menos desfavorável para o governo.

As denúncias de maquiagem nas estatísticas abalaram a imagem do órgão. Os números do Indec passaram a ser desacreditados dentro e fora da Argentina.

No Brasil, a indicação de Marcio Pochmann para o IBGE gerou contestações de uma ala de economistas.

Os críticos chegaram a rememorar a passagem de Pochmann pela presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que foi vista como intervencionista. O economista comandou o Ipea de 2007 a 2012.

O governo Lula e apoiadores, por outro lado, rebateram as críticas sobre um suposto risco de ingerência política. Também procuraram destacar a trajetória acadêmica de Pochmann.

Durante o mandato de Bolsonaro, o IBGE foi alvo de ataques dentro do próprio governo. Em julho de 2021, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o instituto estava na idade da “pedra lascada”.

A declaração gerou críticas ao ministro à época, já que caberia ao governo a tarefa de modernizar as condições de atuação do órgão de pesquisas.

Bolsonaro também já atacou a metodologia usada pelo IBGE no cálculo do desemprego. O órgão, contudo, segue parâmetros internacionais para produzir a estatística.

QUAIS SÃO OS DESAFIOS DO INSTITUTO ATUALMENTE?

Como a Folha de S.Paulo mostrou em fevereiro, a transição tecnológica é vista por ex-presidentes do IBGE como um dos desafios que atingem os órgãos de estatísticas no mundo.

O instituto brasileiro também convive com a perda de servidores nos últimos anos. Em março de 2013, o IBGE tinha 6.369 funcionários efetivos, segundo a Assibge, que representa os trabalhadores do órgão.

Dez anos depois, em março de 2023, o contingente caiu em torno de 37%, para 3.969 servidores efetivos, diz a entidade.

Desses 3.969 funcionários, 965 (24%) já teriam condições para solicitar a aposentadoria. Em geral, o instituto costuma registrar saídas após o término do Censo Demográfico, conforme a Assibge.

Para atenuar o quadro, o governo Lula incluiu o IBGE na lista de órgãos públicos com abertura de concursos. No dia 18 de julho, o governo anunciou 895 vagas para o instituto. A Assibge avalia a medida como insuficiente.

O governo também autorizou a abertura de processos seletivos para contratações de temporários para o IBGE. O mais recente de uma série com três seleções prevê 148 postos.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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