Entenda a união entre rap e funk, que deve aproximar São Paulo e Rio no The Town

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há 20 anos, seria difícil apostar que, no futuro, São Paulo teria alguns dos principais MCs do funk e que o Rio de Janeiro seria a casa de alguns dos principais nomes do rap nacional —e também que estes seriam alguns dos gêneros musicais mais populares do país.

Mas hoje este é o cenário da música no Brasil, com artistas como os paulistas MC Hariel e Ryan SP revezando o topo das paradas com cariocas como Orochi e Azzy, todos escalados para a primeira edição do The Town.

Rap e funk têm uma história de encontros e desencontros no Brasil. De gêmeos siameses nos anos 1980 a polos opostos no fim dos anos 1990, vivem hoje uma forte conexão, que desfaz fronteiras entre essas duas formas de fazer música do hip hop.

MCs e rappers são hoje elementos importantes do pop nacional, figuras tarimbadas em festivais famosos, presença marcada em novelas e em colaborações tão diversas quanto o piseiro de João Gomes e o sertanejo de Ana Castela.

“Eu me vejo como um funkeiro que é muito fã do hip hop”, diz Hariel, um dos principais nomes do funk e do trap —a forma atual mais popular de se fazer rap. “O hip hop é uma cultura que me abraçou também, e minha playlist tem muito rap nacional. Mas eu me denomino funkeiro. Tenho uma música com o KayBlack e com o Kawe em que digo que faço trap só por hobby.”

Hariel tem uma das canetas mais afiadas do funk hoje. Em “Avisa que É o Funk”, álbum de 2020, ele escreve um teatro de costumes da cidade de São Paulo com tipos do universo funkeiro —a manicure que vai ao baile na sexta, o motoqueiro que trabalha como entregador, o jovem sonhador. É um realismo imaginado entre descrições precisas e provocações ao status quo.

“Não me sinto isolado. Sinto que esse estilo existe faz tempo. Cidinho e Neguinho do Kaxeta sempre foram MCs de narrativa”, diz Hariel. “Tenho conseguido maior evidência, mas tem outros nomes chegando também, como MC Caco e MC Cadu.”

Se essa lírica estreita os laços entre rap e funk, é também notória a relevância do ritmo neste diálogo. Hoje, os gêneros se encontram na batida com o andamento mais acelerado do rap e o mais lento do funk. A cama acolhe as rimas de Ryan SP, mais afeito à festança das tais revoadas, e de Cabelinho, ás nas histórias de amor romântico ou sacana.

Este cruzamento também vai dar a tônica do show de Azzy e Orochi. Representante da nova cena do hip hop, ela tem entre seus maiores sucessos “Faixa Rosa”, um funk 150 BPM, ou batidas por minuto, e “Reverse”, um trap ao estilo de Detroit, em que a prosódia soa quase fora do tempo.

“A gente é do funk, do samba, do pagode. A gente traz todas essas culturas para dentro do hip hop”, diz Azzy.

Ao passo que o hip hop se torna onipresente enquanto trilha sonora de grandes cidades brasileiras, ganha força também o discurso de paridade de gênero na cena.

Nos Estados Unidos, os principais nomes do rap hoje são mulheres como Meghan Thee Stallion e Ice Spice. “Faltam as minas segurarem uma na mão da outra”, diz Azzy, ao ser questionada sobre o que é preciso para que o Brasil tenha uma estrela do rap do porte de seus pares americanos. “Eu quero competir com os caras, então precisamos nos juntar.”

Azzy fez parte do elenco da novela “Vai Na Fé”, assim como MC Cabelinho, que já havia atuado em “Amor de Mãe”. Para a artista, a chegada a um festival como o The Town é também reflexo da capilaridade do hip hop no Brasil.

“A gente dita o que o povo gosta”, diz Azzy. “A mídia, no geral, está entendendo. Tocar no Rock in Rio e no The Town é mostrar que a gente está ocupando os lugares.”

O presente do funk e do rap, em que se multiplicam possibilidades, guarda um futuro desafiador para os artistas. Mais difícil do que chegar ao topo é se manter lá. Há ainda o olhar discriminador à espreita.

“Hoje o funk gera milhões de visualizações na internet, está nos programas de TV, é um mundo novo para as marcas”, diz Hariel. “Mas dez anos atrás o funk era o problema da sociedade. Se o moleque roubou um tênis, era por causa do funk ostentação. Se a menina engravidou, era o funk putaria. Se um policial morria por bala perdida, era o proibidão. Mas hoje o funk é o remédio. É o exemplo para os jovens.”

MCS CABELINHO, HARIEL E RYAN SP NO THE TOWN

Quando Sáb. (2), às 16h05

Onde Palco Skyline

OROCHI E AZZY NO THE TOWN

Quando Sáb. (2), às 17h10

Onde Palco The One

FELIPE MAIA / Folhapress

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