SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A música mais ouvida nos Estados Unidos nesta segunda-feira (13), segundo a parada Hot 100 da Billboard, é “Not Like Us”, faixa mais recente do rapper Kendrick Lamar.
A “diss track” termo usado no hip-hop para descrever uma música cuja principal função é insultar ou desafiar outro rapper foi o golpe final numa briga que durou semanas entre o americano Kendrick e o canadense Drake.
Uma disputa entre os rappers, que envolveu uma série de graves acusações dos dois lados, mudou a história das “diss tracks”, quase tão antigas quanto o próprio hip-hop. Mais do que uma demonstração de talento ou briga pelo título de maior rapper, as “diss” são uma competição de denúncias de comportamentos impróprios.
A rivalidade entre Kendrick Lamar e Drake já dura mais de dez anos, mas os rappers nem sempre foram inimigos e chegaram a gravar colaborações para álbuns um do outro. A animosidade começou em 2012, quando os rappers se desafiaram a fazer o melhor verso na faixa “Fuckin’ Problems”, de A$AP Rocky. Pelo resto da década, eles seguiram tentando se superar e se insultar de maneira velada.
A linha que iniciou a troca das “diss” explícitas partiu do rapper J. Cole, no ano passado, que sugeriu na faixa “First Person Shooter”, de Drake, que eles eram os “três grandes” ou seja, os rappers mais famosos e importantes da cena de rap atual.
Kendrick não gostou da implicação da frase e, num verso de participação na faixa “Like That”, do rapper Future e do produtor Metro Boomin, falou que “não há os três grandes, só há o grande eu.” A música foi lançada em março deste ano e também chegou ao primeiro lugar nos Estados Unidos.
Desde então, os rappers trocam uma sequência de música insultuosas. Contando com “Like That”, foram um total de dez em menos de dois meses. No último final de semana, o conflito chegou a um auge, com os dois artistas lançando raps, horas após o outro.
A troca de ofensas se tornou muito mais que uma disputa e levantou acusações sérias dos dois lados. Kendrick Lamar culpa Drake de esconder uma filha de 11 anos e rotula o canadense como pedófilo, enquanto Drake sugere que Kendrick agride sua esposa.
No X, antigo Twitter, nos dias seguintes, os fãs colocaram lenha na fogueira das acusações, e até posts nas redes sociais de familiares dos rappers eram usados como provas do que poderia ser verdade ou não.
A dinâmica desses novos desdobramentos da disputa parece ter sinalizado uma mudança na lógica das “diss tracks” nos últimos anos. Se antes o objetivo era superar o outro rapper, seja liricamente ou em números, parece que agora o propósito de Drake e Kendrick é desenterrar o pior segredo do outro.
Em antigas rivalidades do hip-hop, sendo as mais conhecidas a de Tupac e Notorious B.I.G., além de NAS e Jay-Z, a checagem de fatos era mero detalhe. O coroado campeão era aquele que tinha o melhor desempenho e as linhas mais insultantes.
Um bom exemplo disso é uma “diss track” de 2006 do rapper Cam’Ron, “You Gotta Love It”, também direcionada a Jay-Z, na qual ele debocha da idade do rapper dizendo que ele tem 37, 40 e 42 anos na mesma faixa.
A nova tática das músicas de insulto parece ter sido iniciada em outra disputa de Drake, com o rapper Pusha T, em 2018. No golpe final de Pusha T, “The Story of Adidon”, ele revelou ao mundo que Drake estava escondendo um filho. A repercussão foi tão grande que Drake não respondeu à faixa e revelou em seu álbum “Scorpion”, cinco meses depois, que realmente havia tido um filho.
O impacto da canção foi sentido não só na disputa entre Kendrick e Drake, mas em outras rivalidades recentes do hip-hop americano. Em janeiro, Megan Thee Stallion e Nicki Minaj trocaram farpas parecidas. Megan insinuou que Nicki está envolvida em esquemas de abuso sexual e Minaj acusou a outra rapper de mentir sobre ter tomado um tiro do cantor Tory Lanez.
AMANDA CAVALCANTI / Folhapress